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O número de veículos produzidos no Paraná deve cair cerca de 10% em 2006. A previsão é de José Roberto Ferro, especialista em setor automotivo e presidente do Lean Institute Brasil, que trabalha com pesquisa e treinamento em gestão. A estimativa é um pouco mais pessimista do que a publicada pela Gazeta do Povo há dois meses – que, a partir de dados sobre o desempenho do pólo automotivo no primeiro semestre, apontou para uma redução de 8,3% na produção até o fim do ano.

Se confirmada, a queda será a primeira após três anos consecutivos de expansão. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as quatro montadoras de Curitiba e região fabricaram 306.645 automóveis, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas no ano passado – volume 31% superior a 2004 e um recorde histórico, que manteve o Paraná como terceiro maior pólo automotivo do Brasil, com 12,6% da produção, atrás de São Paulo e Minas Gerais.

Ferro divulgou sua projeção na noite de quarta-feira, em um debate sobre as tendências do pólo paranaense, realizado no Estação Embratel Convention Center, em Curitiba. Segundo ele, a produção da Volkswagen – maior montadora do estado – deve cair, enquanto a da Renault/Nissan subirá "um pouco". A fabricante de ônibus e caminhões Volvo, e a Case New Holland (CNH), que faz tratores e colheitadeiras, não devem apresentar grandes oscilações, segundo ele.

Além de Ferro, participaram do debate o diretor da Metalúrgica Atra, Élcio Rimi, o chefe do departamento econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Maurílio Schmitt, o diretor da fabricante de autopeças Brose, Ricardo Cipullo, e o editor da revista especializada AutoData, Fred Carvalho. Os comentários dos quatro sinalizam que o cenário do pólo paranaense – que em 2006 completa oito anos, se considerada a inauguração da fábrica da Renault – está contaminado por uma série de incertezas.

Para Ferro, o futuro depende de três fatores. "Em primeiro lugar, depende do sucesso das montadoras instaladas aqui e dos movimentos globais. Uma aliança mundial da GM com a Renault, por exemplo, passaria a ter efeito no Paraná em uns cinco anos", disse Ferro, citando que, enquanto o futuro da Volks no Brasil e no Paraná ainda é "um grande mistério", a Renault pode duplicar seu volume de produção sem investimentos adicionais, uma vez que a fábrica da montadora francesa exibe hoje um alto nível de ociosidade.

O segundo fator que vai definir o futuro do pólo, segundo o especialista, é o "esforço próprio" dos fornecedores das montadoras, que podem ser mais agressivos em suas estratégias de venda e melhorar as práticas de gestão. "Ou as empresas mudam sua gestão ou continuam do jeito que estão, ao sabor do comportamento do mercado", disse Ferro.

Por último, ele defendeu que a cadeia produtiva busque uma maior "cooperação multi-institucional" entre as diversas entidades ligadas ao setor industrial.

Élcio Rimi, que criou do Programa Paraná Automotivo em 1997, quando presidia o Sindicato da Indústria Metal-Mecânica (Sindimetal-PR), discordou que melhoras na gestão tenham efeito expressivo. Para Rimi, as fábricas de autopeças paranaenses "já estão consolidadas", pois a maior parte de suas vendas é para montadoras de fora do estado. "As incertezas vêm de cima para baixo. Dependemos do desempenho comercial das montadoras", disse ele. Ricardo Cipullo, da Brose, foi o que se mostrou mais pessimista em relação ao futuro do pólo. "Não há vantagem logística, nem vantagem tributária no Paraná. Pelo contrário, o que existe é um desincentivo. Só ficamos aqui porque o investimento que fizemos foi altíssimo. Foram pelo menos R$ 6 milhões só em treinamento de pessoal. Uma mudança custaria uma fortuna."

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