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Maior produtor de milho e segundo maior de soja,o Paraná avança no cultivo da safra de verão e mantém a liderança na participação nacional, a frente de Mato Grosso. | Dirceu Portugal/Gazeta do Povo
Maior produtor de milho e segundo maior de soja,o Paraná avança no cultivo da safra de verão e mantém a liderança na participação nacional, a frente de Mato Grosso.| Foto: Dirceu Portugal/Gazeta do Povo

Cotação em baixa trava o mercado

Na semana em que a Conab divulgou sua primeira estimativa de plantio para a temporada 2008/09, o mercado brasileiro de grãos está parado. A tendência de redução da produção apontada pela estatal – que em circunstâncias normais levaria à alta de preços e estimularia as negociações –, não conseguiu tirar o mercado da inércia. Em meio às quedas sucessivas das cotações internacionais da soja e do milho, quem tenta aproveitar os breves picos de preço para travar parte da sua produção e garantir ao menos uma rentabilidade minima não encontra comprador. "Todo mundo se retirou do mercado, aguardando para ver como os preços vão se comportar. Por enquanto, o cenário é muito nebuloso", avalia Leonardo Sologuren, analista da consultoria Celeres.

Em tempos de crise nos mercados financeiros, os fundamentos de oferta e demanda ficam relegados ao segundo plano. "O mercado está totalmente descolado dos fundamentos. O que todo mundo quer saber neste momento é qual será o real impacto das turbulências financeiras na economia mundial", complementa Pedro Collussi, analista de grãos da consultoria FNP. Para ele, as complicações financeiras, apesar de serem mais prejudiciais aos mercados de bens manufaturados, podem também impactar negativamente as commodities agrícolas. No caso de uma redução do poder de compra dos consumidores, a demanda por esses produtos seria afetada e enxugaria o comércio internacional, explica.

No campo, o sentimento é de insegurança, conta o produtor Modesto Félix Daga, da Dagaplan, empresa de consultoria agrícola em Cascavel (Oeste). "Está todo mundo no escuro. Eu não consegui travar negócios futuros neste ano porque não encontrei comprador. Ninguém sabe o que vai acontecer. Com a safra e com os preços."

"O plantio da safra brasileira de verão não está comprometido, mas certamente haverá redução de tecnologia", analisa Sologuren. Ele diz que a crise financeira enxugou a liquidez dos mercados, inclusive os de commodities, e dificultou o acesso ao crédito.

O problema é que, com os preços atuais, os agricultores não podem se dar ao luxo de amargar quebras na produção. Na Bolsa de Chicago as cotações da soja e do milho já caíram entre 40% e 50% desde o pico alcançado na metade do ano. Em julho, a soja chegou a US$ 16,63 o bushel (27,2 quilos) e o milho foi a US$ 7,99 o bushel (25,4 quilos). Ontem, esses grãos fecharam as negociações valendo, respectivamente, US$ 9,64 e US$ 4,275. "Com esses preços, o produtor brasileiro não tem competitividade. Para garantir uma rentabilidade mínima, a soja teria que estar entre US$ 12 e US$ 13 e o milho acima de US$ 5", calcula Sologuren.

Para Collussi, mais do que a queda dos preços, o que preocupa é a baixa previsibilidade do mercado. Ele afirma que no longo prazo o cenário fundamental é altista para os grãos, uma vez que os estoques mundiais continuam baixos. Mas no momento o que fala mais alto é a aversão ao risco, com fuga massissa dos investidores dos mercados de commodities para títulos do governo norte-americano, vistos como investimentos mais seguros em tempos de crise. "Os grãos seguem o ritmo do humor financeiro", diz Sologuren. "E longo prazo no mercado financeiro é dois dias. Por isso não há como prever para onde vão os preços", acrescenta Collussi.

Luana Gomes

  • Área e produção no Brasil

O estrago provocado pela alta no preço dos fertilizantes será ainda maior do que a simples redução na área do milho de verão, cultura em que o gasto com insumos pode ser três vezes superior ao da soja, por exemplo. Essa tendência ganha força no primeiro levantamento de intenção de plantio da safra 2008/09, divulgado ontem pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), que já admite uma queda na produção de grãos, apesar da ampliação da área total de cultivo.

Na previsão mais otimista, o volume a ser produzido tem potencial para atingir 144,55 milhões de toneladas, apenas 0,5% superior ao registrado no ciclo anterior. Se o resultado considerar o intervalo inferior, o desempenho pode recuar até 1,2%, para 142,03 milhões de toneladas, 1,79 milhão de toneladas a menos que no exercício 2007/08.

Os números revelam que o produtor investe menos em tecnologia, uma vez que a área mantém uma margem positiva, com incremento entre 1,2% e 2,7% sobre os 47,31 milhões de hectares da safra anterior. A área aumenta e produtividade média do conjunto das lavouras de verão tende a ser menor. O resultado final pode interromper um ciclo de alta verificado há três safras consecutivas, depois de cair a 114,6 milhões de toneladas em 2004/05, ano de uma das maiores crises do agronegócio brasileiro.

O milho de verão, lavoura em que o Paraná é líder na produção, é a cultura mais atingida. No ano passado, segundo a Conab, o Brasil produziu 39,9 milhões de toneladas na primeira safra. Agora, pode cair a 37,23 milhões de toneladas (-6,7%) ou atingir, no máximo, 38,19 milhões (-4,5%). Se os dados se confirmarem, a soja se mantém estável. Foram 60 milhões de toneladas no ano passado, para 60,1 ou 60,2 milhões de toneladas no ciclo atual. Ao lado do milho, ainda terão redução o arroz e o algodão.

A grande aposta está no cultivo do feijão das águas, ou de 1ª safra. A área pode ir a 1,46 milhão de hectares, ou 11,6% superior ao ano passado. O limite inferior é 8,6% maior, para 1,42 milhão de hectares sobre os 1,31 milhão cultivados na safra 2007/08. O Paraná é o maior produtor de feijão nesta época, com 1/3 do volume do país.

Como a sondagem a campo pelos técnicos da Conab foi realizada durante o mês de setembro, a estimativa não considera o impacto da recente crise financeira que abala a economia mundial. Mas na avaliação da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), a turbulência deste momento não influenciou e também não deve influenciar significativamente as projeções da próxima safra. "A compra de insumos já foi realizada e parte da área já foi cultivada. As mudanças, para mais ou para menos, ocorreram lá atrás e levaram em conta, basicamente, o custo de produção, afetado pela alta dos fertilizantes", diz o analista Robson Mafioletti

Gilda Bozza, economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), lembra que o cenário desenhado pela Conab não é nenhuma surpresa. "O uso de menos tecnologia já era esperado, devido a alta nos insumos, situação que pressiona os custos." Ela destaca, como ponto positivo, a relação cambial, que neste momento é favorável ao agricultor, embora haja produto disponível no mercado e ausência de compradores. Na conversão em moeda nacional, a saca de 60 quilos fechou ontem no Paraná acima dos R$ 40, com uma leve alta da cotação na Bolsa de Chicago.

IBGE

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou ontem mais uma estimativa para a produção agrícola de 2008. O resultado da safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas, segundo levantamento do órgão, atingiu em setembro 145,3 milhões de toneladas.

Apesar de ser ligado ao governo federal, o instituto utiliza calendário e metedologia diferente da Conab. Enquanto o IBGE ainda mede o ciclo anterior, a Conab já apresenta a estimativa para a próxima safra.

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