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Quando os preços da soja no mercado internacional atingiram níveis recordes em 2008, os produtores brasileiros não estavam em condições de aproveitar o momento. Dívidas, grandes variações no câmbio e os altos custos de fertilizantes e combustíveis os deixaram sem disposição ou sem condições de semear mais hectares.

Hoje, embora os preços estejam quase 20 por cento mais baixos, as condições quase nunca estiveram melhores. Agora com dinheiro nas mãos, os produtores preparam a primeira expansão sustentada da safra de soja brasileira, após meia década de estagnação.

Com mais terras aráveis não utilizadas que qualquer outro país do mundo, o Brasil concentra as atenções como o local com maior capacidade de elevar a produção de soja, commodity chave para o setor de proteína.

Há obstáculos pela frente, entre eles o endurecimento das leis ambientais e a concorrência de outros produtos que garantem altos retornos, como algodão e milho. E o plantio só vai começar em setembro, embora os preparativos já tenham sido iniciados.

Os agricultores que correram para vender a safra atual em ritmo recorde não têm dúvidas quanto a suas intenções.

"As pessoas por aqui estão acionando seus motores," disse Alcindo Uggeri, presidente da associação de produtores de Nova Mutum, grande município produtor de soja no Centro-Oeste. "Quem vê a pressa com que os plantadores estão vendendo a safra de soja para comprar fertilizante e sementes poderia imaginar que eles vão plantar no mês que vem."

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, e a safra que começou a ser colhida recentemente parece superar o recorde de 69 milhões de toneladas colhidas no ano passado.

A soja está cotada no mercado de futuros em nada menos que 14 dólares o bushel, e analistas dizem que as margens de lucro dos produtores quase dobraram em relação ao ano passado, chegando a 50 por cento.

CICLO DE EXPANSÃO

Uma única boa safra não será suficiente para satisfazer a enorme demanda liderada pela China, domar os preços e aliviar a turbulência política que os preços altos desencadearam em alguns países. Mas vários anos de expansão poderiam ter esse efeito.

"Com sinais tão positivos, estamos prevendo um aumento na região de 3 a 5 por cento," disse o analista chefe Flavio Roberto França, da Safras e Mercado, falando da próxima temporada. "E parece que não será algo isolado. Parece que estamos ingressando em um ciclo de expansão. Finalmente os produtores se recuperaram dos anos difíceis."

A soja tornou-se indispensável para os suprimentos de rações do mercado mundial de carnes. Pode-se afirmar que é a fonte mais importante de proteína hoje, produzindo muitas vezes mais por hectare do que qualquer outro produto agrícola importante ou que a criação de animais.

Os Estados Unidos são o maior produtor mundial de soja, mas a alta demanda de milho para a produção de etanol vem limitando a área cultivada com soja, que este ano deve aumentar apenas 1,5 por cento, para 77,8 milhões de acres (31,48 milhões de hectares), segundo a previsão preliminar do Departamento de Agricultura dos EUA.

Na cidade de Querência, que marca nova área de expansão da soja no maior Estado brasileiro produtor de soja, o Mato Grosso, a área reservada para a safra deste ano aumentou 11 por cento, para 239 mil hectares.

O secretário de Agricultura do município, Daltro Barbosa, prevê uma onda ainda maior de plantio em novas áreas em setembro deste ano.

O boom anterior dos plantadores de soja brasileiros ocorreu no final dos anos 1980, depois de a introdução de variedades de soja tropicais no Centro-Oeste do país ter ajudado a dobrar a área cultivada em pouco mais de uma década. Entre 1999 e 2004, a área cultivada cresceu 11 por cento ao ano.

Mas ela chegou ao máximo naquele ano e então encolheu por dois anos, antes de pouco a pouco recuperar o terreno perdido. A produção aumentou graças às condições climáticas mais propícias, mas a área cultivada estagnou.

Este ano a área cultivada cresceu 2,5 por cento, para 24 milhões de hectares, finalmente superando o pico atingido em 2004 e recuperado no ano passado.

Mas mais produtores estão passando ao largo das oportunidades de expansão no Mato Grosso, em favor de áreas menores, mas rapidamente crescentes no Nordeste, uma região conhecida como Matopiba porque abrange partes dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

"Terra boa no Paraná, Estado tradicionalmente produtor de grãos, custa 25 mil reais por hectare, mas no Piauí ou Bahia ainda se encontra terra por 5.000 reais", disse Pereira.

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