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Breno Masi (com o iPhone na mão), da Finger Tips, e equipe: número de downloads cresce a cada dia, mas o investimento inicial ainda é muito alto | Daniel Teixeira/AE
Breno Masi (com o iPhone na mão), da Finger Tips, e equipe: número de downloads cresce a cada dia, mas o investimento inicial ainda é muito alto| Foto: Daniel Teixeira/AE

Entrevista

Lucas Longo, criador do Instituto de Artes Interativas

Como surgiu o curso de desenvolvimento de aplicativos para iPhone?

Eu fiz mestrado em Artes Interativas, em Nova York. Desde então, queria criar a escola, mas para ensinar coisas bem práticas, até por isso demos a ela o nome Iaí?, com uma interrogação. É uma pergunta mesmo. Quando o iPhone foi lançado eu pensei: "É isso". Aprendi a desenvolver aplicativos e montei o curso.

Você tem planos para um curso de aplicativos Android?

Tenho. O problema é que o Android está muito no começo, mas em breve ele deve se popularizar.

Você acha que a criação de aplicativos pode acabar virando um curso de faculdade?

Com certeza. Essa é uma área gigante. E é muito diferente de projetar programas para desktop.

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Preço, design, potência do hardware, número de megapixels da câmera. São muitos os fatores que influenciam a compra de um celular. Mas é questão de tempo para que isso se torne um detalhe – mais importante será saber quais aplicativos são compatíveis com o aparelho a ser adquirido.

Programas feitos para serem rodados no sistema operacional do celular, os aplicativos não fa­­zem parte da realidade da maioria das pessoas que usam celular, mas isso deve mudar em breve. Eles são consequência da transformação do telefone móvel em computador portátil.

Junto da ascensão desses programas, entra em cena um novo personagem: o desenvolvedor de aplicativos. Profissão que nem sequer existia há cinco anos, ela surge agora como filão de mercado – e mesmo que o Brasil tenha 350 mil pessoas usando iPhone, e o Android ainda esteja se estabelecendo no país, há uma tendência clara. E esse mercado ainda começa a dar seus primeiros passos.

Por aqui, o que tem se sobressaído é o desenvolvimento de aplicativos para grandes marcas e empresas. Mas se esse movimento faz que o mercado exista no país, ele também empobrece a criatividade da produção, já que esses profissionais trabalham não em projetos próprios, mas sim no de terceiros.

"A base de iPhones está crescendo a cada dia, e com isso o nú­­mero de downloads também", ex­­plica Breno Masi, sócio-fundador da Finger Tips, que desenvolve esse tipo de programa. "Mas ain­­da não é o suficiente para man­­­­ter toda uma estrutura de em­­presa, o investimento inicial é muito alto."

Masi explica porque o trabalho para marcas, foco de sua empresa, é tão atraente. "É um marketing que a empresa não impõe. O nosso aplicativo do Brasileirão tem a marca da Petrobrás e a média de uso dele por quem o baixou é de 15 minutos diários. São 15 minutos que, por vontade própria, a pessoa vai ter contato com a em­­presa. Isso é muito forte."

Paulo Câmara, diretor de mo­­bi­­­­li­­dade da Ci&T, que também pro­­­­duz aplicativos, vê uma mina de ou­­ro nessa relação entre clientes e marcas via aplicativos. A em­­presa presta serviços de tecnologia da in­­formação, mas, desde o final do ano passado, resolveu en­­trar nesse mercado emergente, com investimento inicial de R$ 3 milhões: "Que­­remos desenvolver para marcas, pois elas sabem que dessa forma vão conversar diretamente com o público A e B", conta Câmara.

Publicidade

Outra opção é apostar na pu­­bli­cidade. Foi o que fez o site Apon­­­­ta­dor. "Procuramos fazer aplicativos úteis e que sejam muito baixados e ganhamos vinculando publicidade a eles", explica Ra­­fael Siqueira, diretor da empresa. O carro-chefe é o Apontador Trânsi­to, que informa em tempo real como está o tráfego na cidade e já teve 90 mil down­­loads. "O Apon­tador Trânsi­to ganha ao expor a publicidade e se aperfeiçoa ao con­­seguir informações do usuários ", explica Siqueira.

Já a Uplay, empresa que produz conteúdo para celulares desde 2006, aposta na quantidade como diferencial e se associou a operadoras para isso. "Investimos muito em fazer aplicativos para as lojas das operadoras de telefonia. Assim nosso mercado se expande muito", afirma Adriano Rayol, diretor e fundador da empresa. Em 2009, a empresa gerou um vo­­lume de 3 milhões de downloads, e uma receita de R$ 12 milhões, va­­lor que corresponde a pouco mais de 0,1% dos US$ 4,2 bilhões movimentados na loja da Apple com as vendas de aplicativos para o iPhone.

Se no geral os desenvolvedores ainda dependem de trabalhar pa­­ra marcas e de publicidade, já existem algumas exceções. É o caso de Renato Pessanha, analista de sistemas que mora em Sorocaba, in­­terior de São Paulo, e que nas ho­­ras vagas desenvolve aplicativos para iPhone. Dos mais de 240 mil programas disponíveis na App Store, 30 são de Renato. Um deles, o Forca, é pago e ficou entre os mais baixados no Brasil, México e Itália, atingindo boa colocação até mesmo nos Estados Unidos.

"Demorei quatro ou cinco dias para fazer o Forca e o lancei há um ano e oito meses e ele ainda está entre os 30 mais vendidos do país. Ganho mais dinheiro com a venda de aplicativos do que com meu emprego", conta o desenvolvedor. O que falta então para transformar o hobby em profissão? "Na verdade, nada. Mas tenho medo que esse mercado mude completa­­mente, por isso não confio", explica.

Todos concordam num ponto: o Brasil ainda não é um mercado certeiro devido à instabilidade e lentidão da internet móvel e ao alto preço dos aparelhos. "Com um 3G decente e preços de smartphones compatíveis com os lá de fora, esse mercado vai explodir", prevê, confiante, Masi, da Finger Tips. "É como no início da internet: todos sabiam que era importante ter um site, mesmo sem sa­­ber o porquê. Em um futuro breve, todos terão de estar presentes nos smartphones por meio de aplicativos, desde o maior banco do país até a padaria da esquina."

Só então, programadores in­­dependentes como Pessanha po­­derão largar seus empregos e pas­­sar as tardes desenvolvendo seus próprios projetos – e ga­­nhando por isso.Operadoras ocupam espaço deixado por Apple e Google

Quando o assunto é aplicativos pa­­ra celular, os primeiros nomes que vêm à cabeça são o de gigantes como Apple e Google. Mas no Bra­­sil, para baixar estes programas na App Store é necessário ter um en­­dereço nos Estados Unidos um cartão de crédito internacional e pa­­gar em dólares (além de fazer uma gambiarra), enquanto na Android Market o brasileiro só encontra os apps gratuitos.

Aproveitando esse vácuo, as ope­­radoras de telefonia móvel começam a olhar com mais atenção para esse segmento. "As operadoras viram que se não fizerem na­­da, Apple e Google não vão dividir esse bolo", afirma Adriano Rayol, da Uplay.

Desde 2003, a Vivo conta com uma loja que tem mais de 500 aplicativos e já superou a marca de um milhão de downloads.

Mas foi neste ano que a empresa entrou de vez nessa área ao lançar na Campus Party uma plataforma de desenvolvimento de aplicativos. O desenvolvedor que fizer uso dela e lançar seu produto, fica com 70% do dinheiro da venda. Se o aplicativo for para ser utilizado via SMS, o desenvolvedor ganha um adendo de 10% na venda. Cal­­ma aí. Todos falando em aplicativos modernos, comparáveis a programas de computador ou games de console e voltamos ao SMS? Na verdade, nunca saímos dele, como explica Hugo Janeba, vice-presidente de inovação da Vivo. "Não adianta querer só fazer app para smartphone, se não tem nem um milhão desses aparelhos vendidos. Tem de pensar nisso, mas tem de pensar nos aparelhos de R$ 50, que vendem muito." Como exemplo, Janeba cita um curso de inglês por SMS que está fazendo grande sucesso. "Temos que entender o hábito de consumo das pessoas e fazer algo baseado nisso", finaliza.

A Tim espera muito em breve lançar sua loja de aplicativos, que está em desenvolvimento desde outubro do ano passado. Na Tim App Shop, "os desenvolvedores po­­derão fazer seus aplicativos, postá-los na loja e estabelecer o preço", explica Flávio Ferreira, gerente da empresa. Logo quando for lançada a loja terá produtos compatíveis com 100 aparelhos de celular que operam pela Tim e a expectativa é que esse número aumente. Donos de celulares pré-pagos também poderão baixar os aplicativos.

Concurso

A Claro, além do seu portal Claro Ideias, onde o usuário pode encontrar diversos aplicativos, vai atuar na área de um modo diferente. A operadora é a patrocinadora oficial do Mobilfest, evento sobre mo­­bilidade que neste ano pela primei­ra vez premia os desenvolvedores dos melhores aplicativos.

Serão quatro categorias e os ven­­cedores poderão assinar um contrato com a Claro para vender seus aplicativos no Claro Ideias. Dos quatro melhores, um será selecionado e premiado com uma viagem ao Canadá para participar de workshops e palestras sobre o tema. "Queremos incentivar e dar oportunidades aos jovens empreendedores, além de ampliar esse mercado de desenvolvedores de aplicativos", destaca Fiamma Za­­rife, diretora de Serviços de Valor Agre­­gado da empresa.

A Oi aposta alto na música. A ope­­radora é dona de uma estação de rádio e quer que por meio de apli­­cativos de bandas os seus clientes possam ter uma rádio dentro do celular. Além disso, quer se aproximar do mundo dos aplicativos por meio da informação. No portal Oi Aplicativos, não há apps para se­­rem baixados, mas sim resenhas dos melhores, testes, notícias e textos que explicam como usar determinado aplicativo.

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