• Carregando...
Erick Rodrigues deixou o emprego na Electrolux para vender produtos da Monavie: “O objetivo final é o produto” | Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Erick Rodrigues deixou o emprego na Electrolux para vender produtos da Monavie: “O objetivo final é o produto”| Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Casos famosos

Veja alguns dos maiores casos de pirâmides no Brasil e no mundo:

Postais de Ponzi

Em Boston, na década de 20, o imigrante italiano Carlo Ponzi prometia 50% de rentabilidade em dois meses para seus associados. O trabalho seria comprar postais fora do país e trocá-los em território americano. O ganho se daria apenas pela diferencia do câmbio. Em seis meses, Ponzi enganou mais de 30 mil empresários e faturou milhões.

Engorda de gado

No mais conhecido caso de pirâmide financeira do Brasil, 30 mil investidores perderam cerca de R$ 3,9 bilhões nos anos 90. Eles aplicaram suas economias nas Fazendas Reunidas Boi Gordo, seduzidos pela oportunidade de embolsar um lucro mínimo de 42% no prazo de um ano. O sistema se basearia na engorda de bois e criação de bezerros, mas os ganhos vinham sobretudo da entrada de novos investidores no negócio.

Pirâmide de Wall Street

Considerado um dos mais bem-sucedidos gerentes de investimento de Nova York, Bernard Madoff recebeu bilhões de dólares com o maior esquema da história. O executivo administrou os recursos de 16 mil vítimas – entre elas artistas de Hollywood e altos executivos do mercado financeiro – com a promessa de rendimento de 1% ao mês. A maior parte dos quase US$ 20 bilhões arrecadados nem sequer foi investida.

Avestruz invisível

Em 1998, o grupo Avestruz Master oferecia contratos de compra e venda de avestruzes com a promessa de recompra dos animais. Quem investisse em uma ave com 18 meses de vida ganharia um retorno de 10% sobre a aplicação até o mês em que o avestruz fosse readquirida pela empresa, já adulto. O lucro seria assegurado pela exportação da carne, mas o negócio não existia: em sete anos de operação, nenhuma ave foi abatida. Mais de 40 mil investidores caíram no golpe.

A promessa é de dinheiro fácil, rápido e sem muito esforço. O trabalho: arrebanhar o maior número de pessoas para que engrossem o exército de consultores e vendedores de uma marca. A proposta convenceu o analista de sistemas Alan Malzoni, mas não teve o desfecho esperado. Depois de pagar mais de R$ 1,5 mil para virar vendedor da Telexfree, o jovem não teve o retorno prometido com a divulgação de serviços de telefonia VoIP na internet. "O produto era secundário. A promessa era de que ganharíamos por anúncio feito e a cada novo vendedor que conseguíssemos convencer", lembra.

INFOGRÁFICO: Veja alguns casos de pirâmide

Negócios como esse – que vivem de adesões e não da venda dos produtos – na maior parte das vezes mascaram esquemas de pirâmides financeiras. Eles exigem o recrutamento constante de colaboradores, que pagam taxas de adesão entre R$ 500 e R$ 2 mil. Quem faz o convite ganha uma parcela da taxa e a empresa fica com o resto. A fórmula garante que o dono do negócio fature milhões antes que qualquer produto seja vendido.

Foi só depois do primeiro depósito que Malzoni se deu conta da fraude. "Eles nos apresentam vídeos de pessoas que enriqueceram. É algo que empolga", conta. Essas empresas costumam "vender" uma rotina irreal de trabalho, como trabalhar sem sair de casa, alerta o especialista em marketing e vendas Adauto Fernandes, da ESPM.

Investigação

A popularidade desses esquemas os colocou na mira de investigações do Ministério Público (MP) e da Secretaria de Acompanhamento Econômico (SAE). "Várias pessoas alimentam um grupo inicial com suas taxas de adesão, mas não há viabilidade econômica para que o negócio se mantenha por muito tempo", diz Maximiliano Ribeiro Deliberador, promotor do MP-PR.

Na semana passada, a Justiça proibiu a Telexfree de recrutar novos divulgadores e bloqueou os bens dos donos da empresa. Mas o problema tende a continuar. "Os grupos mudam o nome da companhia e o ramo de atividade, mas continuam com a prática", explica Deliberador.

Outra empresa investigada, a Bbom, vende rastreadores de velocidade para automóveis, mas remunera seus vendedores por colaboradores angariados. "Se a pessoa analisar bem, verá que não existe um mercado tão grande para aquele produto", diz Fernandes, da ESPM. Em seu site, a Bbom diz existir uma demanda mensal de 1,5 milhão de equipamentos no país, para uma frota de pouco mais de 70 milhões de veículos.

Má fama das pirâmides respinga em empresas regulamentadas

O esquemas fraudulentos não prejudicam apenas para as pessoas enganadas. A má fama das pirâmides acaba respingando em empresas regulamentadas que trabalham com o modelo de marketing multinível e venda direta.

No modelo de marketing multinível, um vendedor arregimenta novos colaboradores com a finalidade de vender o maior número de produtos possível.

É o caso da Monavie, que produz energéticos e barras de cereal. Os seus vendedores são "titulados" de acordo com o número de produtos que conseguem vender. Quanto maior a rede de contatos e divulgadores de cada colaborador, mais chances de bater as metas. "No entanto, o objetivo final é o produto. Posso ter dez pessoas na minha rede vendendo mil produtos por mês ou uma pessoa vendendo dez mil. Dá na mesma", explica o vendedor Erick Rodrigues.

Ele largou seu emprego na Electrolux há um ano para revender os shakes e barrinhas de cereal. "Como a hierarquia não é igual à das corporações tradicionais, as pessoas acham que é fácil enriquecer nesse tipo de negócio, o que não é verdade", defende Rodrigues. Ele construiu uma das maiores redes de revendedores de Curitiba e ganha entre R$ 6 mil e R$ 8 mil mensais.

A revendedora de maquiagens Mariângela Fernandes, da Mary Kay, endossa a opinião de Erick. "Muita gente que entra no ramo de venda direta não se dá bem e confunde o negócio com um esquema fraudulento", afirma. Ela diz que demorou dez meses para que pudesse ter uma remuneração parecida com a do antigo emprego de vendedora. "É um trabalho que traz riscos, mas é regulamentado e baseado na venda de produtos", completa.

De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Venda Direta, Roberta Kuruzo, ainda que a confusão seja frequente, a diferença entre os negócios é gritante. "Existem empresas sérias que trabalham com a atração de novos vendedores, mas todo o lucro da companhia se baseia na movimentação de produtos, que não existe nas fraudes", afirma.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]