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A proposta do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, de fixar limites aos saldos comerciais de todos os países para tentar conter o risco de uma guerra cambial encontrou resistência ontem entre ministros do G20, o grupo que reúne as maiores economias desenvolvidas e emergentes. A oposição não veio apenas da China, alvo dos norte-americanos, mas de outras nações que têm vantagem em seu comércio internacional e obtêm parcela significativa de seu crescimento das exportações, como Alemanha e Japão.

Geithner defendeu no encontro o estabelecimento de limites aos saldos em conta corrente de todos os países, tanto superavitários quanto deficitários. Segundo o ministro das Finanças do Japão, Yoshihiko Noda, Geithner propôs um teto de 4% do PIB para o resultado em transações correntes, indicador que reúne as operações de uma nação com o restante do mundo e reflete sua vantagem ou desvantagem comercial.

Mais do que opor desenvolvidos e emergentes, a iniciativa de Geithner provocou cisão entre países ricos deficitários e superavitários. O primeiro grupo tem como maior representante os Estados Unidos, que há anos registram déficits crônicos no comércio internacional, com mais importações do que exportações. A China lidera o segundo grupo, no qual é acompanhada de Alemanha e Japão, dois pesos-pesados do mundo desenvolvido.

Consumo doméstico

Geithner defende que países superavitários limitem sua vantagem comercial e estimulem o consumo doméstico, enquanto os deficitários, como os Estados Unidos, adotem medidas de austeridade e elevem suas exportações. "Países do G20 com persistentes superávits deveriam adotar políticas estruturais, ficais e cambiais para estimular fontes domésticas de crescimento e suportar a demanda global", escreveu Geithner em carta endereçada aos participantes do encontro. O texto tinha um recado claramente dirigido aos chineses: "Países dos mercados emergentes com moedas significativamente depreciadas e reservas adequadas precisam permitir que suas taxas de câmbio se ajustem ao longo do tempo a patamares consistentes com seus fundamentos econômicos".

A adoção de tetos específicos foi descartada por alguns dos ministros. "Fixar metas numéricas não seria realista", declarou Noda, o ministro das Finanças japonês. A Alema­nha rejeita a proposta por considerar que sua vantagem comercial não decorre da depreciação da moeda, mas da competitividade das empresas alemãs.

Dentro do Bric – Brasil, Rússia, Índia e China –, a proposta também não foi bem recebida. A questão cambial pauta o debate econômico global, com países como o Brasil tentando conter a apreciação provocada pelo forte fluxo de capitais externos. O real valorizado encarece as exportações e barateia as importações brasileiras, o que representa um risco de desindustrialização do país, já que torna mais vantajoso comprar produtos acabados do exterior do que produzi-los internamente.

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