• Carregando...
Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática, na fábrica da empresa em Curitiba | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática, na fábrica da empresa em Curitiba| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Estatuto

"Pílula de veneno" está anulada

Se a Lenovo ou qualquer outra empresa quiser fazer uma proposta de compra da Positivo Informática, terá um problema a menos. É que a "pílula de veneno" – apelido dado ao mercado a dispositivos legais estabelecidos no estatuto das empresas, para dificultar sua venda – está praticamente anulada. O regulamento da Positivo estabelece que qualquer investidor interessado em adquirir mais de 10% do capital da empresa deveria fazer uma oferta pelos demais papéis por um preço mínimo equivalente à maior cotação dos últimos 24 meses. Em 2008, quando a Lenovo fez sua oferta formal, a pílula era um verdadeiro impedimento: as ações valiam na época R$ 8, mas a fórmula exigia uma oferta de R$ 47,15. Agora, os valores são mais próximos. As ações da Positivo fecharam na sexta-feira a R$ 18,85, e a maior cotação do período foi de R$ 22,60. A esse preço, o valor total da empresa chegaria quase R$ 2 bilhões.

Novos projetos

Para crescer, empresas e equipamentos

As previsões para o mercado brasileiro de informática variam de um crescimento de 16% a 20%. "Não vai ser um aumento explosivo, mas as vendas vão crescer", diz Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática. Mesmo assim, ele é otimista. Ele cita o aumento da renda disponível da classe C como um dos motores para o aumento das vendas, mas não aposta só nisso. Quer vender mais para empresas e lançar novos produtos – no cardápio, leitores de livros eletrônicos, tablets, smartbooks. "Estamos estudando tudo."

A exceção a esse "tudo" é o mercado dos smartphones, aparelhos que agregam capacidade de processamento aos telefones celulares e que têm tido altas taxas de crescimento em todo o mundo. "É um modelo de negócios diferente, que passa pelas operadoras e que nós não entendemos muito bem", explica.

Já os leitores de livros eletrônicos (e-readers, como costuma se referir o mercado) devem chegar ao mercado ainda no primeiro semestre. Ainda há dúvidas cercando a produção e o modelo de negócios, mas a empresa deve entrar logo no segmento – concorrentes como a Samsung já ensaiam trazer esse tipo de equipamento para o país, também na mesma época.

O mercado corporativo também atrai a Positivo Informática. Dos três grandes segmentos que compõem o negócio de computadores (varejo, governo e empresas), é o único em que ela não é líder. Pelo contrário: está lá embaixo, em quinto lugar, quase empatada com a Apple. A Positivo criou uma diretoria para "atacar" o segmento corporativo, com ênfase nas pequenas e médias empresas.

Essa é uma área onde o mercado cinza – máquinas montadas informalmente, muitas vezes com componentes importados de forma irregular – impera, com 54% de penetração. "Por que a empresa compra do mercado cinza, se o nosso computador custa o mesmo? Porque o fornecedor pirateia algum software para ela?", desafia Rotenberg. "Nós precisamos demonstrar as vantagens da compra formal."

Entusiasmado, ele se levanta da mesa de reuniões e se aproxima de um micro da linha Union – um all-in-one, que é como o setor identifica os micros que têm as unidades de processamento e armazenamento "escondidas" atrás de um monitor plano, formando um conjunto só. "O all-in-one é perfeito para a pequena empresa. Imagina ele no balcão de uma padaria. É pequeno, fácil de usar e não ocupa espaço. E custa só R$ 999!"

  • Positivo é líder isolada nas vendas do varejo. Confira

Há quase 16 meses, em 17 de de­­zembro de 2008, Hélio Rotenberg saía de uma reunião num misto de alívio com raiva. Ele, presidente da Positivo Informática, estava com o grupo de acionistas controladores da empresa para ouvir uma proposta de compra feita pela Lenovo. "Demorou duas horas para a gente dizer não", recorda-se. "Nem fizemos contraproposta, ficamos até meio injuriados". A empresa chinesa havia oferecido R$ 18 por ação – um preço que Rotenberg con­­siderou "ridículo", embora estivesse bem acima do valor de mercado naquela oportunidade, próximo dos R$ 8.Aquelas cenas devem ter passado novamente pela cabeça do executivo na semana passada. Na quarta-feira, os papéis da Positivo dispararam na BM&FBovespa, impulsionados novamente por informações vindas do Oriente. A agência de notícias Xinhua, que pertence ao governo chinês, citava fontes não reveladas para dizer que a Lenovo estaria para fechar a aquisição. A empresa paranaense negou. "Tais rumores não têm qualquer fundamento, uma vez que inexiste negociação em curso", diz um trecho do comunicado emitido pela Positivo a respeito.O encontro de dezembro de 2008 encerrou uma conversa que teve poucos momentos. O primeiro encontro entre executivos das duas empresas ocorreu em 25 de agosto de 2008, quando os chineses manifestaram seu interesse em fazer uma proposta firme. Seguiu-se uma fase em que a Lenovo teve acesso a alguns dados da Positivo e, então, a proposta dos R$ 18. Numa outra iniciativa de concorrentes, um diretor americano da Dell apresentou-se à Positivo, também em 2008, reuniu-se em São Paulo com os controladores. Afirmou que havia interesse de sua companhia na Positivo e prometeu fazer uma proposta. Isso, entretanto, não aconteceu, e Rotenberg nunca mais ouviu falar dele.A conclusão não desagradou Rotenberg. "Não temos qualquer in­­teresse em vender. Estamos muito mais para comprar", disse à Ga­­zeta do Povo, dias atrás. De fato, a situação mudou. Em 2008, a em­­presa enfrentava um cenário complicado. O dólar, ao qual estão atrelados perto de 90% dos custos de produção, estava em alta. Havia uma crise de crédito – e a maioria dos consumidores depende do parcelamento para comprar computadores. Os varejistas estavam receosos de comprar demais e ficar com mercadoria parada nas estantes. E, para agravar, os estoques estavam cheios, devido a uma coincidência geográfica.

"O Brasil é, em todo o mundo, o país mais distante das regiões produtoras de componentes eletrônicos", observa o executivo. Para chegar aqui, peças como processadores e unidades de memória deixam Japão e Coreia e cruzam meio mundo em navios, o que obriga os fabricantes de computadores locais a fa­­zer seus pedidos com 120 a 150 dias de antecedência. Assim, quando a crise estourou, em setembro de 2008, as encomendas para o es­­for­­ço de produção do Natal já estavam a caminho. Não havia o que fazer.

Mais mercado, mas com pouco caixaA Positivo Informática conseguiu reagir. No início do mês passado, seu balanço trouxe um recorde de vendas (1,778 milhão de unidades) e um lucro líquido de R$ 127,7 milhões. No varejo, a empresa vendeu 24% a mais, o que ampliou sua participação no mercado. "Eles com certeza agiram com habilidade", diz Luciana Leocádio, analista da corretora Ativa. "Atenderam uma parte do mercado que havia sido deixada de lado pelos produtores, que reduziram produção."

Se sobreviveu à crise e consolidou sua liderança no mercado interno de computadores – a Positivo responde por 16,1% do mercado nacional de computadores e por 29,9% das vendas no varejo –, o futuro não parece muito claro. Em toda a América Latina, ela é a única empresa nacional que detém a liderança de mercado, uma situação que já deve ter chamado a atenção de seus competidores. No ranking global, ela não passa do pelotão intermediário (é a 14ª do mundo em vendas) em um ambiente dominado por empresas enormes. Em um relatório recente sobre as ações da companhia, um banco de investimentos faz uma pergunta crucial. "Dado que a competição deve se tornar mais acirrada, a Positivo se tornará um alvo ou um consolidador?" Em outras palavras, ela será perseguida por outras companhias – internacionais, por certo, como a própria Lenovo e a Dell – ou irá às compras?

Rotenberg já deu sua resposta. No ano passado, a empresa comprou a Kennex, uma pequena empresa que tinha entre seus acionistas a família Diniz, que comanda o grupo Pão de Açúcar. A aquisição foi vista como uma forma de ampliar o seu acesso aos canais de venda – uma estratégia que o mercado considera correta. "O investimento necessário para abrir uma fábrica de computadores no Brasil não é tão grande, por isso essa não é uma barreira para um grande competidor estrangeiro entrar no país", diz Luciana Leocádio. "A barreira é dada pelo acesso aos canais de venda. E a Positivo controla muito bem esse segmento, em especial no que se refere ao varejo", pondera. "Não vejo nada que ameace a Positivo", diz um especialista ligado ao um banco internacional. "Ela, e toda a indústria nacional de computadores, é viável enquanto contar com incentivos fiscais."

Essa opinião, entretanto, não é unânime. "A gestão financeira da Positivo tem sido muito ruim", observa o chefe de análise de uma corretora, que pediu para não ser identificado. Segundo ele, o caixa da empresa tem andado muito baixo – o que, de cara, é um impedimento para que a Positivo saia às compras. No encerramento de 2009, a empresa tinha em caixa R$ 7,7 milhões, quando o desejável seria algo entre 2% e 3% da sua receita bruta anual (de R$ 43 milhões a R$ 65 milhões, aproximadamente).

Os estoques também são altos: em setembro do ano passado, equivaliam a 64 dias de produção, e subiram para 90 dias em dezembro. "Está tudo se encaminhando para a venda da empresa", diz o especialista.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]