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Venda direta

Quando a ideia é o que vende mais

Empresas de esquema pirâmide tendem a lucrar mais com o recrutamento de novos consultores que com a comercialização de seus produtos

Fábrica da Natura. Vendas da empresa usam marketing multinível, por meio de consultoras. Outras empresas do ramo, porém, usam esquema pirâmide, lucrando mais com os novos vendedores | Divulgação
Fábrica da Natura. Vendas da empresa usam marketing multinível, por meio de consultoras. Outras empresas do ramo, porém, usam esquema pirâmide, lucrando mais com os novos vendedores (Foto: Divulgação)

Em dezembro do ano passado, Bill Ackman, dono de um dos maiores fundos de hedge dos Estados Unidos, apresentou uma palestra de mais de três horas a investidores defendendo que a Herbalife, empresa de shakes e bebidas para perda de peso, não passa de um esquema de pirâmide – em que o lucro principal vem do recrutamento de novos vendedores, e não da venda dos produtos. Nos dias seguintes, a gigante de US$ 8 bilhões despencou na bolsa americana, e passou a se recuperar em janeiro, quando desafetos pessoais de Ackman começaram a investir na Herbalife, em uma briga pessoal.

A pergunta sobre o modelo de negócio da Herbalife, no entanto, continua. A Securities and Exchange Comission (a comissão de valores mobiliários dos EUA) abriu uma investigação para analisar o modelo de negócio da empresa. Na Bélgica, a empresa foi banida de operar no país.

Sem pontos de venda no varejo, a Herbalife comercializa seus produtos através de um exército de 2,7 milhões vendedores em 88 países. Além de ganhar com a venda dos produtos, esses "associados", ou vendedores, também têm a opção de serem remunerados recrutando novos vendedores para a marca. Há um incentivo para encontrar novos vendedores: à medida que cresce a rede de recrutados, aumenta também a comissão de quem os recrutou. Essa estrutura, chamada de marketing multinível, não é ilegal nem exclusiva da Herbalife. Outras empresas conhecidas, como Natura, Avon e Mary Key, também trabalham nesse esquema, uma ramificação do modelo de venda direta.

O problema é que a linha que diferencia uma empresa de marketing multinível com uma de esquema de pirâmide é tênue e difícil de ser identificada. Basicamente, a questão mais importante é se o produto que está sendo vendido tem ou não mercado – e se esse mercado é verdadeiro. Há casos em que os produtos apenas parecem estar sendo comercializados, mas isso ocorre porque os novos vendedores são obrigados a comprar uma "cesta de produtos" antes de se tornarem associados. Ou seja, o produto é vendido, mas o incentivo da compra não está na qualidade do produto, e sim na possibilidade de se tornar um vendedor da marca. Esse é justamente o argumento de Ackman contra a Herbalife: a maioria dos produtos da Herbalife fica na mão dos próprios distribuidores.

"O modelo de marketing multinível é legítimo e precisa ser melhor entendido", diz Roberta Kuruzu, diretora-executiva da Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (ABEVD), da qual a Herbalife é associada. "Nas empresas honestas, o revendedor tem de conseguir fazer dinheiro tanto com a venda de produtos quanto com o aumento da sua rede. É uma opção dele. Agora, se o foco da empresa é só na captação de novas pessoas, é preciso prestar mais atenção porque o caso pode ser um esquema de pirâmide", diz ela. A ABEVD não comenta o caso da Herbalife.

Herbalife diz que suspeita de pirâmide é especulativa

A Herbalife no Brasil, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que as acusações do investidor norte-americano Bill Ackman são puramente especulativas. "Baseado em informações desatualizadas, distorcidas e imprecisas, o investidor fez uma análise errônea sobre o modelo de negócios da Herbalife. (...) A alta direção e o conselho de administração da empresa estão constantemente revisando nossas práticas de negócios e produtos. A Herbalife também contrata "experts" independentes e externos, para garantir que as operações estejam em plena conformidade com as leis e regulamentos", diz a empresa.

Em julho passado, uma comissão de pesquisadores da Northewestern University, considerada uma universidade de elite dos EUA, publicou um estudo afirmando que a Herbalife é uma empresa legítima de marketing multinível. O farmacologista vencedor do Nobel da Medicina de 1998, Louis Ignarro, também já defendeu a empresa e seus produtos publicamente.

No Brasil, a Herbalife diz ter crescido 19,8% em suas vendas líquidas em 2012, na comparação com o ano anterior. "Os bons números também são consequência das diversas iniciativas que tivemos em lançamentos de novos produtos, expansão das filiais, investimentos em exposição da marca, juntamente com a adoção bem sucedida de métodos de operação que incentivam o consumo diário de produtos da empresa", diz, via nota, Gioji Okuhara, diretor-geral da Herbalife Brasil.

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