• Carregando...
Confira a retração do PIB em alguns países do mundo |
Confira a retração do PIB em alguns países do mundo| Foto:

Foi o remédio

O ministro das Finanças do Japão, Shoichi Nakagawa, negou ontem que estivesse bêbado durante uma entrevista coletiva concedida em Roma no último sábado. Na ocasião, o ministro, que tem fama de beber muito, mostrou dificuldade para se manter acordado, tinha a voz alterada e respondeu a uma pergunta que não lhe havia sido endereçada. De acordo com a nota de Nakagawa, o comportamento estranho foi causado por uma dose extra de remédio contra gripe. O incidente fez com que a oposição ao governo do primeiro-ministro Taro Aso (cujo índice de aprovação está abaixo de 10%) pedisse a sua saída do cargo.

Análise

Efeitos do desequilíbrio global

O encolhimento da economia japonesa é surpreendente pelo fato de o país não estar no centro da crise financeira mundial. Seu sistema bancário foi reestruturado ao longo das duas últimas décadas e está muito mais sadio do que nos Estados Unidos e na Europa. Os japoneses não estão mergulhados em débito e o país conta com uma poupança invejável, construída durante anos de superávit comercial. Então, o que acontece?

A economia global não sofre somente os efeitos dos devaneios financistas de Wall Street. Há um enorme desequilíbrio nas relações econômicas internacionais, o que não é novidade. No início da década de 1980, a maior preocupação nos EUA era a invasão de produtos japoneses, consequência de uma política que manteve o iene desvalorizado. O resultado foi um déficit americano insustentável e que exigiu a coordenação de políticas através do G7, em 1985, quando o iene passou a se valorizar.

Depois disso, o Japão cortou os juros, que de tão baixos causaram o estouro de uma bolha imobiliária nos anos 1990. Foi a chegada da década perdida, da qual a economia japonesa só saiu com o último boom global, puxado mais uma vez por um enorme déficit comercial dos EUA. O desequilíbrio, agora, inclui China e Alemanha na lista de nações com longos períodos de superávits gigantes.

É preciso lembrar que os EUA só importaram mais por duas razões: crédito fácil e barato, embaralhado em títulos tóxicos que estão no centro da crise, e a poupança asiática que segurou o dólar por tempo demais. Agora, os países superavitários terão de fazer sua contribuição para diminuir o desequilíbrio, poupando menos, ao mesmo tempo em que os consumidores americanos economizam para pagar suas dívidas. A transição, como se vê no Japão, pode ser dolorosa.

Guido Orgis, editor assistente de Economia

Tóquio - O governo do Japão anunciou que a economia do país recuou 12,7% entre outubro e dezembro de 2008 frente ao mesmo período do ano anterior. O resultado indica a pior contração do Produto Interno Bruto (PIB) japonês dos últimos 34 anos. Se comparado ao trimestre anterior, o PIB (que representa o total de riquezas produzidas pelo país) teve queda de 3,3%.

A economia japonesa – a segunda maior do mundo, atrás somente dos Estados Unidos – é altamente voltada para exportações. Com a queda na demanda dos principais parceiros comerciais – em especial, EUA e Europa –, o Japão vê sua economia encolher desde o início do ano passado. Entre abril e junho de 2008, o país havia registrado contração de 3% em seu PIB, enquanto de julho a setembro o recuo foi de 0,4%.

Resgate japonês

"Não resta dúvida de que esta é a pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial", disse o ministro da Economia, Kaoru Yosano, após a divulgação dos resultados. O Japão prepara um novo pacote de estímulo econômico para combater a crise. Alguns integrantes do governo defendem uma ajuda que poderia chegar a US$ 109 bilhões em incentivos à infraestrutura e ao desenvolvimento de empresas.

O desempenho da economia oriental coloca o Japão em situação mais crítica do que outros países desenvolvidos, inclusive os EUA, epicentro da atual turbulência financeira. Para efeito de comparação: ao fim de 2008, o PIB norte-americano caiu 3,8% na taxa anualizada e 1% sobre o terceiro trimestre. A Zona do Euro, por sua vez, registrou retração de 1,5% no quarto trimestre de 2008 em relação ao período imediatamente anterior.

Apesar de ter parecido relativamente a salvo da crise num primeiro momento, o Japão vem sofrendo nos últimos meses com a queda brusca das exportações e com a valorização do iene. Nesse período, companhias gigantes, como a Sony Corporation e a Toyota Motor, demitiram em massa e ajudaram a elevar a taxa de desemprego no país para 4,4% em dezembro – um crescimento de 0,5 ponto porcentual em um mês.

As vendas externas caíram à medida que os consumidores europeus e norte-americanos passaram a comprar menos carros e eletroeletrônicos. Os empréstimos também despencaram e as empresas cortaram inúmeros projetos de investimento. O mercado doméstico também travou por causa da redução dos gastos da população e do aumento das demissões.

"Parecia que o Japão ia escapar da crise. Mas agora vemos que ele é o mais atingido dos países por ser tão dependente das exportações", diz o economista-chefe do Instituto de Pesquisas Dai-Ichi Life, Hideo Kumano.

Pacote

O primeiro-ministro, Taro Aso, que enfrenta sérios problemas de popularidade, indicou que vai apresentar em abril um orçamento adicional ao Parlamento japonês. O objetivo seria financiar o terceiro plano de estímulo econômico do país, a um custo de mais de US$ 500 bilhões.

O pacote definiria o financiamento de grandes projetos públicos, como a reconstrução de aeroportos e outras obras de infraestrutura, ao mesmo tempo em que estimularia o desenvolvimento de empresas com projetos ecologicamente corretos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]