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Em sua camiseta, uma reprodução da obra de Basquiat que Maezawa comprou por US$ 110 milhões. | DAVID MCNEW/AFP
Em sua camiseta, uma reprodução da obra de Basquiat que Maezawa comprou por US$ 110 milhões.| Foto: DAVID MCNEW/AFP

Na última segunda-feira (17), o bilionário japonês Yusaku Maezawa esteve em frente a uma multidão de repórteres na sede da SpaceX em Hawthorne, Califórnia, e declarou, feliz: “Finalmente, posso dizer que irei à Lua.”

O homem de 42 anos anunciou que comprou não apenas um, mas todos os assentos a bordo do Big Falcon Rocket, foguete da SpaceX que fará o transporte.

Maezawa não é apenas um empreendedor badalado especializado em varejo online e um colecionador de arte mundialmente famoso, mas também deve ser o primeiro turista pagante da SpaceX a fazer uma viagem ao redor da Lua. A jornada de aproximadamente uma semana de Maezawa está programada para 2023.

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“Desde que eu era criança, eu amo a Lua”, disse ele durante uma coletiva de imprensa. “Apenas olhar para a Lua enche a minha imaginação. [Ela] Está sempre lá e continua a inspirar a humanidade. É por isso que eu não poderia deixar passar esta oportunidade para ver a Lua de perto.”

Vestido com um blazer azul escuro sobre uma camiseta branca, Maezawa, com um sorriso gigante no rosto, parecia mais um membro da boy band do que uma pessoa na 18.ª posição na lista 2018 da Forbes das 50 pessoas mais ricas do Japão. Mas quem acompanhou sua ascensão meteórica saberia que ser diferente é normal para um homem cuja vida foi definida por momentos surpreendentes.

“Os japoneses acham que eu sou esquisito”, disse Maezawa à casa de leilões britânica Christie’s em 2017. “Eles dizem, quem é essa pessoa Maezawa?”

Quem é essa pessoa Maezawa?

Maezawa nos ombros de Elon Musk.@yusaku2020/Instagram

Para simplificar, Maezawa é um ex-rockeiro que se tornou um bilionário de e-commerce apaixonado por arte.

Mais de duas décadas atrás, Maezawa, então apenas um jovem vivaz, teve uma epifania — ele imaginou o resto de sua vida e ficou desanimado com o que previu.

Na época, ele era aluno de uma prestigiada escola de ensino médio em Tóquio, o que significava que ele estava destinado à universidade e depois a uma carreira, provavelmente em negócios. Mas, enquanto andava de trem por uma hora e meia todas as manhãs de sua casa, em Chiba, no Japão, ele disse ao Times em Londres que começava a perceber como todas as pessoas iam para seus empregos parecendo “cansadas e infelizes”.

“Acho que o que eu odiei foi a sensação de que eu estava percorrendo trilhas que já haviam sido estabelecidas”, disse ele à publicação britânica em julho. “Eu podia ver os trilhos se estendendo à minha frente — escola, universidade, carreira. Eu podia me imaginar como uma daquelas pessoas apertadas em um trem da hora do rush. Eu queria me descarrilhar.”

Armado com um desejo feroz de ser mais do que apenas um trabalhador convencional, Maezawa tomou medidas rápidas, uma série de decisões que o levou a uma vida extraordinária.

Tudo começou nos anos 90, quando Maezawa acompanhou sua namorada para os Estados Unidos, onde passou a maior parte do tempo andando de skate pelas ruas de Santa Monica, na Califórnia, disse ele a repórteres na segunda-feira. Enquanto nos EUA, Maezawa, um ávido músico, também seguiu uma de suas bandas favoritas, o Gorilla Biscuits, um grupo punk hardcore de Nova York, informou o Times. De volta ao Japão, Maezawa era baterista da Switch Style, uma banda punk que ele formou com amigos e que alcançou sucesso comercial moderado, segundo a Nikkei Asian Review, uma publicação japonesa.

Sua estada de seis meses nos EUA seria um momento crucial em sua carreira, pois foi lá que ele teve a ideia de vender produtos musicais do Japão, segundo a Forbes. Ao retornar ao seu país de origem, ele lançou um negócio de venda de camisetas e CDs por correspondência de sua cozinha, que se tornou a base de uma empresa que ele batizou de Start Today, também nome do álbum Gorilla Biscuits, de acordo com o Japan Times. Era 1998 e Maezawa tinha 22 anos.

Ainda em turnê e gravando com sua banda, Maezawa começou a ficar sobrecarregado pelas responsabilidades que vieram com a carreira musical e a gestão de uma empresa. Depois de alguns anos, ele precisava abandonar alguma coisa.

“Quando ficou fisicamente impossível lidar com os dois, eu escolhi a minha empresa — isso foi quando eu tinha 25 ou 26 anos”, disse ele ao Japan Times.

Esta foi uma decisão que seria proveitosa para Maezawa. A Start Today mudou para se concentrar mais em moda e vestuário, acabando por gerar um site de comércio eletrônico imensamente popular chamado Zozotown, informou a Forbes.

De acordo com o Japan Times, o site tem hoje cerca de 6.300 marcas e a empresa emprega aproximadamente 900 pessoas. Em julho, o site lançou sua própria linha de moda chamada Zozo, disponível em 72 países, de acordo com o Racked. Maezawa agora tem um patrimônio líquido de US$ 2,9 bilhões, segundo a Forbes.

Amor à arte

Maezawa ao lado da obra de US$ 11 milhões de Basquiat.@yusaku2020/Instagram

O sucesso de sua empresa lhe rendeu fama no Japão, mas Maezawa conquistou manchetes internacionais em 2017, quando ele gastou mais de US$ 110 milhões em uma pintura do artista norte-americano Jean-Michel Basquiat em um leilão da Sotheby’s. O preço de venda da pintura quebrou recordes e deixou o mundo da arte confuso. Chamada de “Sem Título”, a colorida representação em estilo grafite de uma caveira barulhenta tornou-se a sexta obra mais cara já vendida em leilão, segundo o New York Times. De acordo com a NPR, o preço que Maezawa pagou foi o maior valor já gasto em leilão para uma obra feita nos EUA.

“Eu compro coisas por impulso. Faço desde que era jovem”, disse Maezawa à Christie’s. “Eu também sempre comprei as coisas até meu limite financeiro. E quando eu ficava sem dinheiro, ganhava mais dinheiro — e então eu comprava novamente”.

Mas o Basquiat não seria apenas uma compra instantânea que terminaria na casa ou no escritório de Maezawa para nunca mais ser vista pelo público. Em maio de 2017, Maezawa postou no Instagram uma série de fotos de si mesmo ao lado da obra, escrevendo: “Quando eu encontrei este quadro pela primeira vez, fiquei impressionado com a minha empolgação e gratidão pelo meu amor pela arte. Quero compartilhar essa experiência com tantas pessoas quanto possível”.

Fiel à sua palavra, Maezawa patrocinou uma turnê internacional para a obra de arte. No início deste ano, foi exibido no Brooklyn Museum e no Seattle Art Museum, e agora está passando pela Europa, informou a revista Art News. Maezawa, cuja extensa coleção pessoal apresenta obras de Picasso, Alexander Calder e Willem de Kooning, entre outros, disse à Christie’s que ele tem planos de abrir um museu de arte em sua cidade natal, Chiba.

Como seu compartilhamento de arte, Maezawa disse na segunda-feira que ele também quer compartilhar sua experiência de ver a Lua, explicando porque ele comprou todos os assentos no foguete por uma quantia não revelada.

“Eu não queria ter uma experiência tão fantástica sozinho, isso seria um pouco solitário”, disse ele. “Não gosto de ficar sozinho. Eu quero compartilhar essas experiências e coisas com o maior número de pessoas possível.”

A viagem espacial faz parte do grande projeto de Maezawa, que ele nomeou Dear Moon (”Querida Lua”, em inglês). Seu plano é ser acompanhado de seis a oito artistas de várias disciplinas, incluindo cinema, arquitetura, pintura, escultura e fotografia, com o objetivo de que, ao retornarem à Terra, criem obras inspiradas pela experiência.

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A ideia surgiu quando ele estava olhando para uma pintura de Basquiat.

“Eu pensei, ‘e se Basquiat tivesse ido ao espaço e tivesse visto a Lua de perto ou visse a Terra inteira?’”, disse. “Que maravilhosa obra de arte ele teria criado?”

Logo, ele começou a imaginar se seus outros artistas favoritos, como Andy Warhol, Michael Jackson, John Lennon e Coco Chanel, também tivessem o mesmo privilégio.

“Estes são todos artistas que eu adoro, mas infelizmente eles não estão mais conosco”, disse. “Há tantos artistas conosco hoje que eu queria que pudessem criar incríveis obras de arte para a humanidade, para as crianças da próxima geração.”

Em um vídeo promovendo a Dear Moon, apropriadamente embalada pela música “Clair de Lune”, de Claude Debussy, o projeto é descrito como “inspirador”.

Maezawa disse que sua equipe de artistas será recrutada em todo o mundo, acrescentando: “Se eu falar contigo, por favor diga sim e aceite meu convite. Por favor, não diga não”.

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