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Jeff Bezos, fundador da Amazon: representan­tes da empresa devem dar detalhes da chegada da empresa durante a Bienal, em São Paulo, em agosto | Divulgação
Jeff Bezos, fundador da Amazon: representan­tes da empresa devem dar detalhes da chegada da empresa durante a Bienal, em São Paulo, em agosto| Foto: Divulgação

Quem ainda pode vir

Veja quais empresas ainda podem chegar para competir no merca­­do de livros em breve:

• Kobo

A empresa canadense fundada em 2009 é um dos gigantes neste mercado internacional. Após ser comprada pela japonesa Rakuten em 2011, começou sua expansão pelo mundo e deve chegar ao Brasil no segundo semestre deste ano, garantiu o vice-presidente da empresa, Todd Humphrey, durante um evento em São Paulo em abril.

• Apple

A iBook Store, seção de livros digitais da loja virtual da Apple, está disponível no Brasil desde o ano passado quando o iTunes chegou por aqui. No entanto, o acervo disponível se resume a e-books gratuitos de domínio público, por exemplo, clássicos como Moby Dick e algumas obras de Jane Austen. Mas já fala-se que o acervo deve ser expandido em breve.

• Google

Segundo o brasileiro Hugo Barra, diretor da plataforma móvel Android, a loja de conteúdo digital do Google – Google Play – deve passar a comercializar livros no Brasil a partir dos próximos meses.

O impacto

Maior loja on-line do mundo deverá ser uma pedra no sapato para muita gente:

• E-commerce

Sites de varejo online como Submarino (e todo o grupo B2W), Ricardo Eletro, Nova Pontocom e Casas Bahia poderão ter o novo concorrente em 2013;

• Livros

Livrarias físicas e vendedores online de livros ou e-books como Cultura, Saraiva, Submarino e Gato Sabido, serão os primeiros afetados pela gigante americana;

• Música

Contra o iTunes da Apple, a Amazon tem lá fora um catálogo de 20 milhões de músicas à venda e um serviço de armazenamento na nuvem;

• E-reader

O Kindle não terá dificuldades contra leitores eletrônicos no Brasil; seus maiores rivais serão os tablets, presentes em apenas 1% dos domicílios brasileiros;

• Filmes

Se a Amazon trouxer seu serviço de filmes por streaming, Netflix, NetMovies, Saraiva Digital, Terra TV Video Store e Net Now serão os mais afetados por aqui.

"A palavra é apreensivo. A Amazon deixou o mercado brasileiro apreensivo." A visão de Guto Kater, um dos representantes da Associação Nacional das Livrarias (ANL), ilustra o sentimento da indústria editorial do país, que conta os meses que faltam para a chegada da gigante do varejo on-line, a Amazon, fundada e presidida pelo empresário norte-americano Jeff Bezos.

A previsão era de que a empresa iniciaria as operações em setembro, o que por enquanto está descartado. Segundo um dos envolvidos ouvidos pela reportagem, os contratos com quase 30 editoras e distribuidoras estão assinados ou em fase de conclusão. Questões de logística estão praticamente solucionadas.

Problemas relacionados a impostos seriam o fator de impedimento. A empresa teria dificuldades em conciliar o sistema usado internacionalmente com os daqui. Além disso, corre no Senado um projeto de lei que tenta incluir e-readers entre os produtos que recebem isenção total na importação, com livros e tablets.

Durante a Bienal Inter­na­­cional do Livro de São Paulo, entre 9 e 19 de agosto, um grupo de executivos da Amazon vem de Seattle para "um gran­­de anúncio". Entre eles estão Pedro Huerta, que cuida das operações da Amazon na Amé­­rica Latina, e Russ Gran­­dinetti, responsável pelo conteúdo do Kindle, o e-reader da empresa.

No anúncio, é provável que as dúvidas em torno da chegada da empresa sejam esclarecidas. Lá, os executivos devem dizer se, além de dar início à comercialização de e-books, a Amazon estreia também a venda nacional do e-reader e do tablet Kindle Fire e se venderá mais itens digitais e, em caso positivo, quando.

O que se sabe é que o primeiro passo no Brasil de fato será com livros digitais. Na verdade, seria o segundo passo, já que São Paulo já é endereço (o único na América do Sul) de um data center da empresa, utilizado para serviços de computação em nuvem que a Amazon também oferece.

A venda "completa", de artigos que vão de games, a barracas de camping e pneus de carro, demandaria um trabalho infinitamente maior – de estoque e logística, por exemplo – e, por isso, demoraria mais.

Pressão

Logo que a Amazon deu início às negociações com as editoras por aqui, há um ano e meio, as livrarias começaram um jogo de pressão. Livrarias, pequenas, médias e grandes se posicionaram contra e começaram a pressionar editoras para que elas não fechassem acordos – ou pelo menos para retardar a chegada da loja ao país.

Para as editoras, o negócio é interessante. A Amazon seria mais um cliente, comprando todo o acervo de livro digital que oferecem. Porém, os mais conservadores têm medo de que o livro digital reduza as vendas dos exemplares de papel.

"Isso é medo do futuro", diz Carlos Eduardo Ernnany, dono da primeira vendedora de livros digitais do país, a Gato Sabido, e da distribuidora Xeriph. "O editor, que lucra com os livros físicos, tem de sacrificar o que lhe dá dinheiro para investir num mercado que ainda é pequeno, mas que poderá ser importante no futuro. Mas o futuro é daqui 30 dias."

O presidente da Livraria Saraiva, Marcílio Pousada, não vê necessidade de pressa e diz que ainda "tem muito livro físico para se vender no Brasil para podermos discutir se o digital vai ser mais importante".

Apesar disso, ele reconhece que a chegada da Amazon é um momento importante para o mercado nacional e prevê disputas. "Ela vai ter de competir com todos nós, que já temos experiência com o Brasil. Vai ter de lidar com rua esburacada, tributos, deficiência dos Correios, malha logística insuficiente. Por isso digo que o serviço de entrega da Amazon não vai ser melhor do que o do resto do mercado." Mas o dono de uma das maiores livrarias do país não é pessimista. "Vamos competir sem problemas. Estamos preparados. Que venham os concorrentes!"

Kater, vice-presidente da ANL, acredita que a salvação das pequenas e médias livrarias está na oferta de serviços, de um melhor relacionamento com o cliente, atendimento personalizado e na aprovação da lei de um preço único para lançamento, evitando práticas anticompetitivas de mercado. "Se as livrarias entenderem que não venderemos mais só livros, mas serviço, pode deixar a Amazon vir", diz.

Fábio Uehara, chefe do departamento digital e responsável por aplicativos e e-books da Companhia das Letras, diz ser difícil avaliar o impacto da Amazon, mas ele vê a chegada positivamente. "Eu acredito que sempre é importante ter vários players de peso no mercado. A concorrência é saudável", diz.

A editora é dona de um catálogo de quase 4 mil livros, mas dispõe atualmente de um número dez vezes menor de e-books. Isso porque a conversão do formato PDF para o padrão de e-book (ePub) leva tempo e dinheiro. Mas Uehara garante que a tendência é que logo os títulos sejam lançados nos dois formatos - físico e digital – ao mesmo tempo.

"Estamos comprometidos, convertendo tudo o que podemos. Lançamos nosso primeiro título em abril de 2010. No início deste ano, tínhamos 200. Agora temos 400. A meta é chegar no fim do ano com 800 e-books."

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