
A escalada do dólar tem sido firme e constante. Nos 12 meses encerrados na sexta-feira (04), a desvalorização do real em relação à moeda americana chegou a 72%. Uma perda maior para o mesmo período só ocorreu em março de 1999, segundo cálculo da consultoria Tendências. Naquele ano, quando o país abandonou a âncora cambial, a moeda brasileira desvalorizou 92%.
A mudança de patamar do câmbio está provocando uma desorganização momentânea da economia e impactando diretamente o cotidiano das pessoas e das empresas.
Espera-se, por exemplo, que a desvalorização do real seja um caminho para o Brasil sair da atual recessão, por meio do impulso nas exportações e pela consequente melhora do setor externo. “Quanto mais depreciado o câmbio, mais competitivos vão estar os produtos brasileiros, tanto para a exportação como domesticamente”, afirma Bruno Lavieri, economista da Tendências.
Um sinal de melhora das exportações já está evidente na rentabilidade das vendas externas na combalida indústria de transformação. Os dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) mostram um avanço da rentabilidade de 12,6% em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Na agricultura e pecuária, o aumento foi mais modesto, de 0,9%, num sinal de que a alta do dólar está compensando a forte queda do preço das commodities.
“O efeito do câmbio na rentabilidade é instantâneo, mas na quantidade exportada demora mais para aparecer”, afirma Daiane Santos, economista da Funcex. “O câmbio não é um fator de competitividade. O ideal é reduzir o custo do produto para torná-lo mais competitivo, mas na atual conjuntura a desvalorização do real proporciona um ganho de competitividade.”
Desvantagem
Para quem importa, porém, a conta começa a ficar mais cara. Dono de uma importadora de brinquedos, material escolar e artigos de bazar, Ronaldo Funtowicz sentiu o peso do câmbio em seu negócio. “À medida que aumenta o dólar, aumenta o custo. Somos obrigados, para manter a demanda, a sacrificar a margem, para passar por esse período”, afirma. Os preços subiram em média de 20% a 25%, e os estoques estão mais altos do que em 2014. “Em outubro vamos à China para comprar brinquedos, e vamos trazer uns 30% a menos do que no ano passado.”



