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Crise das dívidas

Rebaixamento de fundo dificulta socorro a países europeus

Após baixar a nota de nove países, agência diminuiu ontem a classificação da Linha de Estabilidade Europeia – que agora terá menos poder para ajudar governos endividados

Consumidores no primeiro dia da temporada de liquidações do comércio em Atenas: negociação do calote parcial do país volta à baila amanhã | Yiorgos Karahalis/Reuters
Consumidores no primeiro dia da temporada de liquidações do comércio em Atenas: negociação do calote parcial do país volta à baila amanhã (Foto: Yiorgos Karahalis/Reuters)
Draghi, do BCE, pediu mais contribuições de países que ainda têm nota máxima |

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Draghi, do BCE, pediu mais contribuições de países que ainda têm nota máxima

Três dias depois de rebaixar a nota de crédito de nove países da zona do euro – incluindo a retirada de França e Áustria do posto de livre de risco (de AAA para AA) –, a agência de classificação de riscos Standard & Poor´s voltou a agir ontem e reduziu a nota da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês), o fundo europeu criado para ajudar os países em crise.

O objetivo da EFSF é levantar dinheiro junto ao mercado e repassá-lo, a taxa de juros menores, às economias com problemas, garantindo a quitação das dívidas desses países. Na prática, a decisão da S&P significa que o custo de empréstimos ao fundo ficará mais caro, o que deve reduzir o poder de fogo da EFSF na concessão de ajuda.

Da maneira como é estruturado, o EFSF conta com recursos de 14 dos 17 países que usam o euro – os outros três são os que estão recebendo a ajuda (Grécia, Irlanda e Portugual). Quando decidiram avaliar o risco do fundo, as agências de classificação optaram por levar em conta apenas a garantia dos países que têm nota AAA. Agora que França e Áustria perderam o status, reduzindo o montante garantido de 451 bilhões de euros para 271 bilhões, a única maneira que o fundo teria para manter a nota triplo A seria se os países restantes considerados livres de risco – Holanda, Alemanha, Finlândia e Luxemburgo – elevassem a sua participação no fundo, algo bastante improvável. Os alemães, em especial, não querem colocar mais dinheiro na EFSF. A outra opção é operar com menos dinheiro.

"Como um país está tentando ajudar o outro, o que o rebaixamento do fundo significa, no limite, é que o custo da ajuda aumentou", diz Mauro Schneider, economista-chefe da Banif Corretora. "A decisão de rebaixar o fundo foi apenas uma formalização do que ocorreu na sexta-feira. A agência está dizendo para os investidores: exija juros maiores porque o risco está maior", explica.

Alternativa

Em pronunciamento logo após o rebaixamento, o responsável pela EFSF, Klaus Regling, negou que a capacidade de financiamento do fundo será afetada. Segundo ele, o montante atual à disposição é suficiente para cumprir os compromissos até julho, quando um novo fundo – o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM, em inglês) – pode entrar em vigor.

A preocupação do mercado, no entanto, é a capacidade da EFSF em ajudar as maiores economias com problemas, como Itália e Espanha, caso elas necessitem de empréstimo – e não há garantia alguma de que a alternativa sendo discutida pelos líderes europeus, o ESM, vá algum dia sair do papel.

Orçado em 500 bilhões de euros, o mecanismo só entrará em vigor caso uma emenda no Tratado de Lisboa seja aprovada pelos 27 países que compõem a União Europeia. A própria Alemanha afirma que só irá financiar o ESM caso haja um acordo políticos dos países para manter uma política fiscal responsável.

"As perspectivas podem não ter piorado, mas elas continuam sendo negativas. E o que é mais importante: não houve um grupo de ações forte o suficiente para tirar a Europa deste circulo vicioso no qual ela se encontra", afirma Schneider.

França

Ontem, a França realizou um leilão dos títulos da dívida, vendendo 4,5 bilhões de euros em títulos com pagamento para doze semanas e juros de 0,16%. O resultado ficou abaixo do esperado, mas ajudou as bolsas do continente a fechar em alta.

Para analistas, Grécia ainda é o maior problema do euro

Os rebaixamentos promovidos pela Standard & Poor´s nos últimos dias não foram vistos como uma surpresa pelo mercado financeiro. A maioria das bolsas europeias subiu ontem, indicando que a situação do crédito nos países rebaixados já estava precificada. A sinalização da S&P, no entanto, é uma mostra de que as tentativas de colocar a Europa de volta no caminho do crescimento se mostraram infrutíferas até aqui, afirmam economistas.

Agora, o mercado aguarda apreensivo o desenrolar daquele que é o maior sinal que a Europa pode dar sobre como pretende solucionar a crise: se a Grécia será ou não "abandonada". "Se a Grécia fosse um problema isolado, não significaria muito para a economia mundial", afirma Mauro Schneider, economista-chefe da Banif Corretora. "O problema é o risco de contaminação que prevalece em toda a Europa. Caso a Grécia afirme que não pode pagar as dívidas e decida sair do euro, essa será a mesma posição que os outros países com problemas terão de assumir?", questiona.

Bruno Gonçalves Amaral, analista da corretora Alpes Wintrade, concorda que, hoje, o maior problema para a economia mundial é o futuro da Grécia – não por causa tamanho da economia grega em si, mas pelo que uma eventual saída do euro representaria. "O mercado começaria a duvidar da própria união da zona do euro. Seria uma notícia bastante ruim para todo mundo", diz.

Amanhã, autoridades gregas se reunirão com credores para tentar chegar a um acordo sobre o tamanho do "calote negociado" do país, mas os principais sites e agências de notícias econômicas garantem que a negociação não vai bem. Uma calote de 50% havia sido acertado, mas as partes não chegaram a um acordo sobre a taxa de juros da nova dívida.

A Grécia vive um dilema porque precisa reduzir a sua dívida em relação ao PIB. Para isso, tem dois caminhos: ou desvaloriza a moeda e aumenta a sua competitividade no mercado e cresce via mais exportações (mas para isso precisaria sair do euro) ou reduz drasticamente seus gastos (com a redução dos salários de funcionários públicos, por exemplo, algo que a população não parece estar disposta a aceitar).

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