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Consumidores no primeiro dia da temporada de liquidações do comércio em Atenas: negociação do calote parcial do país volta à baila amanhã | Yiorgos Karahalis/Reuters
Consumidores no primeiro dia da temporada de liquidações do comércio em Atenas: negociação do calote parcial do país volta à baila amanhã| Foto: Yiorgos Karahalis/Reuters

Sozinha, redução da nota não afeta o Brasil

Para analistas, o Brasil não será afetado diretamente pelo rebaixamento da nota dos países europeus. Segundo eles, o maior risco para o país é o mesmo enfrentando pelas principais economias do mundo: um eventual colapso da economia europeia. Responsável por pouco mais de 20% de toda a riqueza no mundo, a Europa é o segundo bloco com que o Brasil mais faz negócios, atrás apenas da Ásia. A piora do cenário econômico pode frear o crescimento econômico aqui, reduzindo as exportações, e elevar a disputa pelo mercado interno. "Outro impacto pode se dar com o menor fluxo de capital de empresas europeias. Elas podem ter de fazer o caminho inverso, levando capital daqui para lá", diz Mauro Schneider, da Banif Corretora. Bruno Gonçalves Amaral, analista da Alpes/Wintrade, lembra que a crise na Europa também encarece o crédito para as empresas que buscam linhas de crédito no exterior. "A Vale, por exemplo, que faz captação no exterior, pode ver um encarecimento no custo do crédito", afirma.

BCE cobra recursos de governos "AAA"

Folhapress e Agência Estado

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, disse ontem que a Linha de Esta­bilidade Financeira Europeia (EFSF) precisará de mais dinheiro para continuar fazendo empréstimos após o rebaixamento de nota anunciado pela Standard & Poor’s. "São necessárias novas contribuições de países que ainda tenham a nota AAA para manter a capacidade de empréstimo com as mesmas taxas de juros", afirmou Draghi no Parlamento Europeu.

Atualmente apenas Ale­manha, Holanda, Finlândia e Luxemburgo têm a nota máxima na organização. Apesar da declaração, Draghi relativizou o papel das agências, considerando-as "um parâmetro entre muitos outros". "Temos de aprender a considerá-las de um modo muito mais limitado que agora", acrescentou.

Draghi reconheceu que a crise da dívida soberana de alguns países da zona do euro se deteriorou desde outubro. E pediu uma implementação rápida e completa dos compromissos assumidos pelos chefes de governo dos países da União Europeia, especialmente aqueles que dizem respeito aos fundos de ajuda, tanto temporários como permanentes. "Somente se esse pacote amplo for implementado de maneira confiável, e comunicado claramente, os outros esforços poderão ter sucesso", disse.

Bolsas em alta

As bolsas europeias, cujos pregões terminaram antes do rebaixamento da EFSF, fecharam o dia em alta. Os investidores não se apegaram muito à queda da nota de nove países, ocorrida na sexta-feira, e deram mais atenção ao sucesso de um leilão de títulos promovido pelo governo francês. No Brasil, a BM&FBovespa seguiu as bolsas europeias e também refletiu o bom desempenho das ações da Petrobras, que subiram mais de 2%, e da OGX Petróleo, que disparou 5,79% graças ao anúncio de descobertas na Bacia de Santos. O dólar comercial teve leve queda e terminou o dia em R$ 1,788.

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  • Draghi, do BCE, pediu mais contribuições de países que ainda têm nota máxima

Três dias depois de rebaixar a nota de crédito de nove países da zona do euro – incluindo a retirada de França e Áustria do posto de livre de risco (de AAA para AA) –, a agência de classificação de riscos Standard & Poor´s voltou a agir ontem e reduziu a nota da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês), o fundo europeu criado para ajudar os países em crise.

O objetivo da EFSF é levantar dinheiro junto ao mercado e repassá-lo, a taxa de juros menores, às economias com problemas, garantindo a quitação das dívidas desses países. Na prática, a decisão da S&P significa que o custo de empréstimos ao fundo ficará mais caro, o que deve reduzir o poder de fogo da EFSF na concessão de ajuda.

Da maneira como é estruturado, o EFSF conta com recursos de 14 dos 17 países que usam o euro – os outros três são os que estão recebendo a ajuda (Grécia, Irlanda e Portugual). Quando decidiram avaliar o risco do fundo, as agências de classificação optaram por levar em conta apenas a garantia dos países que têm nota AAA. Agora que França e Áustria perderam o status, reduzindo o montante garantido de 451 bilhões de euros para 271 bilhões, a única maneira que o fundo teria para manter a nota triplo A seria se os países restantes considerados livres de risco – Holanda, Alemanha, Finlândia e Luxemburgo – elevassem a sua participação no fundo, algo bastante improvável. Os alemães, em especial, não querem colocar mais dinheiro na EFSF. A outra opção é operar com menos dinheiro.

"Como um país está tentando ajudar o outro, o que o rebaixamento do fundo significa, no limite, é que o custo da ajuda aumentou", diz Mauro Schneider, economista-chefe da Banif Corretora. "A decisão de rebaixar o fundo foi apenas uma formalização do que ocorreu na sexta-feira. A agência está dizendo para os investidores: exija juros maiores porque o risco está maior", explica.

Alternativa

Em pronunciamento logo após o rebaixamento, o responsável pela EFSF, Klaus Regling, negou que a capacidade de financiamento do fundo será afetada. Segundo ele, o montante atual à disposição é suficiente para cumprir os compromissos até julho, quando um novo fundo – o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM, em inglês) – pode entrar em vigor.

A preocupação do mercado, no entanto, é a capacidade da EFSF em ajudar as maiores economias com problemas, como Itália e Espanha, caso elas necessitem de empréstimo – e não há garantia alguma de que a alternativa sendo discutida pelos líderes europeus, o ESM, vá algum dia sair do papel.

Orçado em 500 bilhões de euros, o mecanismo só entrará em vigor caso uma emenda no Tratado de Lisboa seja aprovada pelos 27 países que compõem a União Europeia. A própria Alemanha afirma que só irá financiar o ESM caso haja um acordo políticos dos países para manter uma política fiscal responsável.

"As perspectivas podem não ter piorado, mas elas continuam sendo negativas. E o que é mais importante: não houve um grupo de ações forte o suficiente para tirar a Europa deste circulo vicioso no qual ela se encontra", afirma Schneider.

França

Ontem, a França realizou um leilão dos títulos da dívida, vendendo 4,5 bilhões de euros em títulos com pagamento para doze semanas e juros de 0,16%. O resultado ficou abaixo do esperado, mas ajudou as bolsas do continente a fechar em alta.

Para analistas, Grécia ainda é o maior problema do euro

Os rebaixamentos promovidos pela Standard & Poor´s nos últimos dias não foram vistos como uma surpresa pelo mercado financeiro. A maioria das bolsas europeias subiu ontem, indicando que a situação do crédito nos países rebaixados já estava precificada. A sinalização da S&P, no entanto, é uma mostra de que as tentativas de colocar a Europa de volta no caminho do crescimento se mostraram infrutíferas até aqui, afirmam economistas.

Agora, o mercado aguarda apreensivo o desenrolar daquele que é o maior sinal que a Europa pode dar sobre como pretende solucionar a crise: se a Grécia será ou não "abandonada". "Se a Grécia fosse um problema isolado, não significaria muito para a economia mundial", afirma Mauro Schneider, economista-chefe da Banif Corretora. "O problema é o risco de contaminação que prevalece em toda a Europa. Caso a Grécia afirme que não pode pagar as dívidas e decida sair do euro, essa será a mesma posição que os outros países com problemas terão de assumir?", questiona.

Bruno Gonçalves Amaral, analista da corretora Alpes Wintrade, concorda que, hoje, o maior problema para a economia mundial é o futuro da Grécia – não por causa tamanho da economia grega em si, mas pelo que uma eventual saída do euro representaria. "O mercado começaria a duvidar da própria união da zona do euro. Seria uma notícia bastante ruim para todo mundo", diz.

Amanhã, autoridades gregas se reunirão com credores para tentar chegar a um acordo sobre o tamanho do "calote negociado" do país, mas os principais sites e agências de notícias econômicas garantem que a negociação não vai bem. Uma calote de 50% havia sido acertado, mas as partes não chegaram a um acordo sobre a taxa de juros da nova dívida.

A Grécia vive um dilema porque precisa reduzir a sua dívida em relação ao PIB. Para isso, tem dois caminhos: ou desvaloriza a moeda e aumenta a sua competitividade no mercado e cresce via mais exportações (mas para isso precisaria sair do euro) ou reduz drasticamente seus gastos (com a redução dos salários de funcionários públicos, por exemplo, algo que a população não parece estar disposta a aceitar).

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