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Se você é do tipo sensível, eu o aconselho a virar a página agora. Estou a ponto de quebrar o último dos tabus universais. Eu espero que a recessão que está sendo prevista agora por alguns economistas se materialize. Reconheço que ela traz sofrimento. Estou consciente de que ela pode levar muita gente a perder seus empregos e casas. Não quero negar esses impactos ou o dano que eles provocam, embora possa argumentar que eles são resultados evitáveis de uma economia projetada para elevar ao máximo o crescimento, e não o bem-estar. O que eu gostaria que você admitisse é algo muito menos debatido: a partir de um certo ponto, o sofrimento e a privação também são causados pelo crescimento econômico.

Domingo passado eu visitei a única reserva da biosfera no País de Gales, o estuário de Dyfi. Como de costume nos fins de semana, centenas de pessoas estavam desfrutando de sua beleza e tranqüilidade, e duas ou três pessoas em jet skis estavam estragando tudo. A maioria dos economistas nos diria que o bem-estar humano seria ampliado se houvesse um número maior de jet skis. Se existem dois deles no estuário hoje, deverá haver quatro na mesma época do ano que vem e oito no seguinte. Como a beleza e tranqüilidade do estuário não constam nas receitas nacionais, e a venda e uso de jet skis sim, isso seria considerado um avanço para o bem-estar.

Esta é uma pequena ilustração de um assunto que não pode ser deixado de lado. Em agosto, a Organização Mundial da Saúde divulgou resultados preliminares de sua pesquisa sobre as ligações entre o ruído e o stress. O trabalho sugere que uma exposição duradoura apenas ao ruído do trânsito pode ser responsável por centenas de milhares de mortes anuais por isquemia cardíaca. O barulho também contribuiria para a ocorrência de derrames, hipertensão, zumbido nos ouvidos, insônia e outros males relacionados ao stress. Um estudo com crianças que moram perto de aeroportos na Alemanha sugere que ele também danifica no longo prazo a memória, a leitura e a compreensão da linguagem falada.

As mudanças climáticas não conduzem apenas a um declínio no bem-estar. Além de um certo ponto, elas acabam completamente com ele. Em outras palavras, elas ameaçam as vidas de centenas de milhões de pessoas. E mesmo que os governos trabalhem duro para reduzirem as emissões de carbono, eles estão lutando contra a maré do crescimento econômico. A taxa de consumo de energia entra em declínio quando uma economia chega ao ponto da maturidade, mas país algum até hoje conseguiu reduzir o consumo quando o PIB está em alta.

Uma recessão nas nações ricas pode ser a única esperança que temos de obter o tempo necessário para prevenir as mudanças climáticas. As melhorias massivas no bem-estar social nos últimos 200 anos – melhor habitação, nutrição, saneamento e atendimento médico – são resultado do crescimento econômico e do aprendizado, investimento, inovação e participação política que ele permitiu. Mas até onde ele pode chegar? Em outras palavras, em que momento os governos decidem que os custos marginais do crescimento excedem os benefícios marginais?

A maioria não deve ter resposta a essa questão. O crescimento deve continuar, por bem ou por mal. A mim parece que os países ricos alcançaram o ponto lógico de parar.

Tradução: Franco Iacomini

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