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A história ganhou espaço na internet depois que comentários feitos pelo perfil do dono do Phoenix American Mex tachavam a cliente de “mana” e de pertencente “a classe social dos que começaram a vida agora”. Comentários foram apagados posteriormente | Reprodução / Facebook
A história ganhou espaço na internet depois que comentários feitos pelo perfil do dono do Phoenix American Mex tachavam a cliente de “mana” e de pertencente “a classe social dos que começaram a vida agora”. Comentários foram apagados posteriormente| Foto: Reprodução / Facebook

O outro lado

Dono do bar Phoenix, Marcus Conte, 49 anos, afirma que estava fora de Curitiba quando os comentários foram feitos por meio da sua conta no Facebook por um empregado que "está com problemas pessoais". Ele conta que mantém um computador conectado à conta da rede social em seu escritório, no bar, para que funcionários divulguem eventos do estabelecimento.

Conte diz que ficou sabendo da situação assim que voltou de viagem, na segunda-feira (21). Também confirmou que fez contato com a cliente para tentar se desculpar e negou que os termos usados nos comentários sejam comuns no dia a dia do bar. "A gente fica chateado, mas agora é tocar para frente", diz. O empresário também afirma que procurou a Polícia Civil nesta quinta na tentativa de barrar o evento divulgado na internet que faz alusão ao caso. Ele diz que o advogado que assina o anúncio na fanpage do bar foi chamado "para ajudar", mas ainda não foi contratado.

Era para ser apenas uma reclamação de uma cliente insatisfeita com os serviços de um bar de Curitiba, mas uma publicação na rede social Facebook teve repercussão inesperada na internet nesta quinta-feira (24). A história 'viralizou' depois que comentários feitos pelo perfil do dono do Phoenix American Mex tachavam a cliente de "mana" e de pertencente "a classe social dos que começaram a vida agora".

"Se você não tem R$ 11 para pagar por uma cerveja, passe no [supermercado] Extra e tome em casa. Custa R$ 3. Se você acha que vem pouca comida, vá em Santa Felicidade e peça frango com polenta, que sai bem baratinho e vem bastante", diz trecho de um dos comentários. As postagens foram apagadas da publicação inicial, feita no domingo (20), mas continuam sendo divulgadas pela internet por meio de uma imagem.

Até as 18 horas desta quinta, a publicação inicial tinha mais de 430 compartilhamentos e cerca de 2 mil "curtidas". Na esteira, um evento também foi criado no Facebook para ironizar a situação (leia abaixo) e já tinha 2,6 mil pessoas confirmadas.

Um anúncio publicado na página do bar na rede social -- assinado por um advogado não localizado nesta quinta pela Gazeta do Povo -- sustenta que os comentários teriam sido feitos por um funcionário que supostamente tinha acesso à senha do perfil pessoal do empresário Marcus Vinicius Conte, 49 anos. O empresário afirmou à Gazeta do Povo que o empregado teria sido demitido ainda na quarta (22).

Funcionária de uma autarquia estadual e dona de loja, Juliana Cavalcante, 32 anos, conta que ficou surpresa ao ver os comentários, no domingo. "Esperava receber uma mensagem daquelas padrão, dizendo só que tomariam providências", diz. Em um primeiro momento, acreditou que as postagens tinham sido feitas por outro cliente do bar para defender a empresa. "Entrei no perfil e não vi propaganda do bar, nem nada assim", justificou. O autor dos comentários se identificou como proprietário "do bar de maior sucesso de Curitiba" na segunda das quatro postagens que fez, também no domingo.

Juliana decidiu expor sua opinião sobre o bar depois de conhecê-lo no sábado à noite (19). Acompanhados de um casal de amigos, ela e o marido optaram pelo recém-inaugurado Phoenix por curiosidade. "Sempre passava por lá e o lugar é lindo", disse. Outro motivo, segundo ela, é porque havia poucos bares abertos no feriado de Páscoa na região do Tarumã.

As críticas de Juliana, publicadas por meio de uma ferramenta na página do bar que permitia a clientes classificarem o estabelecimento, diziam respeito ao local em que estava a mesa onde foram acomodados -- em um espaço afastado do bar --, à dificuldade de serem atendidos pelo garçom e ao custo-benefício da comida e da bebida. Ela diz que pesquisou os preços do bar antes da escolha e foi lá disposta a pagá-los, mas se decepcionou.

"Não fui grossa com ele [o dono]; o que falei foi sobre o serviço que me prestaram. Poderia ter dado um piti na hora, no bar, mas simplesmente paguei e fui embora. Ia ficar quieta, mas depois pensei que a gente paga e sempre acontece essas coisas. Entrei na página do bar, vi que tinha um espaço para dar nota e coloquei o que achei", diz.

Segundo ela, outras reclamações na fanpage do bar não haviam sido recebidas antes dessa forma. A ferramenta não estava mais disponível nesta quinta. Juliana cogita processar na Justiça os responsáveis pelos comentários. "A forma com que falaram foi para me atingir, para me humilhar", diz ela, que afirma estar sendo pressionada a remover a publicação original.

Profissionalismo

O caso veio se juntar a gafes similares que ganharam visibilidade nas redes sociais nos últimos anos. Em dezembro de 2012, por exemplo, uma jornalista de São Paulo foi ofendida com palavrões por uma loja virtual, depois de reclamar de uma entrega que estava demorando. Em poucas horas, a denúncia chegou a 500 compartilhamentos. Segundo o professor de redes sociais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) do Rio, Vítor Lima, a situação resulta da opção da empresa de não profissionalizar o atendimento via internet.

"Se não tem gente com alguma capacidade para manter perfis, é melhor nem ter", diz. Para amenizar a crise, Lima sugere às empresas admitir o erro o quanto antes e se desculpar com veemência. "Na internet, nenhum empresário tem controle, apenas influência. Se foi criada uma situação constrangedora, a solução é tentar proporcionar outra experiência positiva". Ele também desaconselha empreendedores a usarem perfis particulares para divulgar ou se manifestar pela empresa.

Rolezinho dos Mano

Dono de agência de conteúdo para internet, Marcelo Carvalho, 38 anos, resolveu embarcar na história depois de acompanhar a repercussão. Segundo ele, a piada estava pronta para se tornar febre na internet. "Curitiba ainda não teve um rolezinho, como em São Paulo. Agora é a hora", brinca.

Assim nasceu o evento "Rolezinho dos Mano no Phoenix American Mex". Nesta quinta, cerca de 25% dos 10,6 mil convidados haviam confirmado presença no evento fictício, marcado para sábado (26) à noite.

Com a ajuda de amigos, Carvalho, passou boa parte da quinta criando imagens sobre o assunto e monitorando a reação dos internautas. De um comentário surgiu uma montagem com uma manifestação falsa da rede de supermercados Extra, citada nos comentários feitos pelo perfil do dono do bar como uma opção de compras para clientes que reclamam dos preços do estabelecimento. A rede preferiu não comentar o assunto.

Além de fazer graças, Carvalho diz que o evento tem uma função educativa. "É para que as pessoas enxerguem o poder que as coisas têm nas redes sociais. Não existe mais essa coisa antiga de querer calar a boca dos outros com dinheiro", afirma. Por via das dúvidas, ele afirma ter comunicado a Prefeitura de Curitiba sobre a possibilidade de o rolezinho se tornar realidade.

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