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Carrinho de supermercado: inflação tende a baixar em 2017. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Carrinho de supermercado: inflação tende a baixar em 2017.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Diante do cenário político nacional e internacional incerto, refletindo na baixa confiança dos consumidores e empresários, os economistas reviram suas projeções de crescimento da economia em 2017 para baixo. O mercado chegou a esperar alta de 1,3% no próximo ano, mas agora trabalha com uma expectativa bem mais modesta: 0,5%, com a retomada acontecendo somente no segundo semestre. Se confirmado, será o fim da maior recessão da história.

Confira os fatores que podem ajudar a economia brasileira em 2017

As medidas econômicas adotadas pelo governo Temer, como a PEC do Teto dos Gastos Públicos e a proposta de reforma da Previdência, somadas ao fato de a inflação estar convergindo para o centro da meta, puxando um provável corte de juros já no início do próximo ano, levam os bancos Bradesco, Itaú e Santander a acreditar que haverá um crescimento, ainda que moderado, no próximo ano.

Veja o que pode prejudicar a recuperação econômica no ano que vem

O Itaú é o mais otimista de todos e prevê uma alta de 1,5% do PIB em 2017. Já Bradesco e Santander esperam, respectivamente, 0,3% e 0,7%. O mercado na média estima alta de 0,5%, segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, que ouve mais de cem instituições financeiras e calcula uma mediana dessas perspectivas.

Gráfico mostra os cenários para o PIB, juros, câmbio e inflação para 2017

As previsões, porém, já foram melhores e a mediana de crescimento prevista pelo mercado chegou a alcançar 1,3% no início de setembro. As estimativas mais moderadas vieram somente após a divulgação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. O indicador caiu 0,8% entre julho e setembro deste ano, puxado principalmente pela retração do consumo das famílias e queda dos investimentos, acumulando retração de 8,4% desde o início de 2014.

A fraca atividade econômica e o aumento da incerteza política, com a delação da Odebrecht na Operação Lava Jato e o andamento das investigações da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), levaram alguns economistas a colocar como incerta a recuperação da economia no próximo ano.

“Não é possível afirmar que o PIB vai parar de cair em 2017, pois o estado de confiança dos agentes está muito abalado”, afirma Marcelo Curado, professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Vai ser um ano ruim e a gente espera que só haja alguma recuperação no segundo semestre, dependendo do andamento das questões políticas e econômicas”, completa o economista.

Para o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), “vai ficando claro para os agentes econômicos que a deterioração dos fundamentos econômicos foi profunda e disseminada, e que a agenda do ajuste fiscal só lentamente será capaz de reverter toda essa piora”.

Vento a favor

Veja quais são os fatores que levam o mercado a acreditar na retomada em 2017:

Inflação

Depois de ter saído do controle em 2015, a inflação começa a convergir para dentro da meta. A queda no preço dos alimentos, dos serviços e dos bens de consumo puxou o IPCA para baixo neste ano, principalmente nos dois últimos meses, e os economistas esperam que o ritmo de desaceleração continue no começo de 2017. Já os preços administrados, que poderiam pressionar a inflação no próximo ano, devem ser corrigidos em 5,9%, segundo o Ibre, taxa praticamente idêntica à de 2016.

Juros

O Banco Central sinalizou que, com a inflação sob controle, irá fazer novos cortes de juros ao longo de 2017. Hoje, a taxa Selic está em 13,75%. A expectativa é que os juros terminem 2017 em 10,50%, o que deve tornar o crédito mais barato e ajudar na retomada da confiança dos consumidores e empresas.

Câmbio

A taxa de câmbio deve se manter estável em 2017, apesar de ter uma pequena desvalorização na comparação com este ano. Segundo analistas, a alta dos juros nos EUA deve pressionar um pouco o real, mas medidas internas tendem a evitar alta similar ao que ocorreu no início de 2015. Para o Itaú, o Banco Central intensificou a sua atuação no mercado de câmbio, ofertando swaps cambiais novos. E o Santander afirma que devemos terminar o ano com saldo comercial elevado, que pode ser eventualmente utilizado para controle do câmbio.

Ajuste fiscal

A promulgação da PEC do Teto dos Gastos, que limita as despesas públicas pelos próximos 20 anos, é vista pelo mercado como um importante fator para a retomada da economia. “A PEC traz um cenário de estabilidade que deve trazer uma retomada da confiança”, afirma o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. “A PEC do Teto vai corrigir gradualmente o desequilíbrio fiscal, conforme a economia volte a crescer”, prevê o Itaú.

Reforma da Previdência

A reforma da Previdência deve trazer alívio fiscal e melhorar a confiança dos consumidores e investidores no curto prazo. No longo prazo, será essencial para garantir o cumprimento do teto de gastos. Mas a sua aprovação, da maneira que foi enviada pelo governo ao Congresso, ainda é uma incógnita. “Se a reforma da Previdência não for para frente, não vamos crescer em 2017”, afirma o economista Marcelo Curado.

Pacote microeconômico

O efeito das medidas microeconômicas anunciadas pelo governo Temer em dezembro é controverso, mas alguns analistas acreditam que elas devem ajudar na retomada da economia. A liberação uso do FGTS para pagar dívidas é a medida mais elogiada. “O fato de as pessoas poderem utilizar o valor inativo do FGTS deve fomentar a demanda a partir de março”, diz o economista Cristiano Oliveira.

Veja os fatores que podem atrasar a recuperação da economia em 2017:

Incerteza política

O cenário político pode ser um dos principais entraves para a retomada da economia. As delações da Operação Lava Jato podem voltar a abalar a economia, assim como disputas políticas no Congresso podem atrasar a aprovação de reformas importantes, como a da Previdência.

Cenário internacional

Ao contrário do que aconteceu durante o boom das commodities, nos anos 2000, a economia internacional não vai puxar o crescimento brasileiro. E pode, ainda, atrapalhar. A principal preocupação está nas medidas que serão adotadas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump. “O ambiente não é tão benigno como foi nos últimos anos, com juros dos EUA em termos reais negativo, e pode ser prejudicial caso o Federal Reserve adote medidas compensatórias às medidas agressivas do Trump”, analisa o economista Cristiano Oliveira, do Banco Fibra.

Confiança

A confiança dos consumidores e das empresas continua instável. “Apesar da aprovação da PEC do Teto do Gasto pelo Congresso e do encaminhamento até aqui bem sucedido de algumas reformas, a melhora das expectativas de empresas e consumidores não tem se sustentado”, afirma relatório do Ibre.

Desemprego

O desemprego bateu recorde no trimestre encerrado em novembro e atingiu 12,1 milhões de pessoas. As estimativas mostram que a taxa deve continuar a crescer no primeiro semestre de 2017 e começar uma trajetória de queda somente a partir de julho.

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