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Depois de ter sido demitido, ontem, por decreto, o presidente do Banco Central (BC) da Argentina, Martín Redrado, deixou a instituição na madrugada desta sexta repetindo que não planeja sair do cargo. "Não renunciei nem renunciarei", disse Redrado, que pretende entrar com uma medida cautelar na Justiça pedindo a nulidade da medida. "Estive reunido com meus advogados, consultei juristas prestigiados e decidi levar todo este assunto ao terreno judicial", confirmou ao jornal "La Nación".

Assinado pela presidente Cristina Kirchner e todos seus ministros, o decreto ordena ainda um processo penal contra Redrado por "má conduta e descumprimento dos deveres de funcionário público". "Avassalaram o Banco Central e querem usar as reservas para fins que não correspondem", acusou Redrado, afirmando que não é a primeira vez que o governo Kirchner tenta esse tipo de manobra.

"Durante meu mandato também quiseram usar as reservas para a compra da YPF, para fazer obra pública, para pagar o Clube de Paris (uma associação de credores internacionais). E minha responsabilidade, como presidente, todos estes anos, tem sido defender a instituição e defender as reservas, que são o respaldo da estabilidade monetária e da demanda de pesos", afirmou Redrado.

O economista disse que está "muito tranquilo e em conformidade" com sua administração no BC e destacou que "protegeu e defendeu os interesses de todos os argentinos". Depois de passar mais de cinco horas reunido com advogados e assessores, Redrado informou aos jornalistas que não descumpriu os deveres que seu cargo exige. "Estou convencido de que deixamos uma entidade que garante a todos os argentinos tranquilidade monetária, previsibilidade cambial, estabilidade financeira e absolutamente convencido de todas as decisões que tomei."

Redrado explicou que sua atitude de não renunciar, apesar da exigência da presidente do país, foi produto de sua convicção e não de "algum cálculo político". Ele relatou que ao longo destes dois últimos dias recebeu inúmeras demonstrações de apoio de personalidades das finanças de todas as partes do mundo, como dos presidentes dos BCs do Brasil, Henrique Meirelles, e da Europa, Jean Claude Trichet, além do vice-presidente do Federal Reserve de Nova York, William Dudley, o ex-presidente do BC do México, Guillermo Ortiz, e o presidente do JPMorgan Chase International, Jacob Frenkel.

Estratégia

A estratégia de Redrado de levar o caso à Justiça se deve ao fato de Cristina Kirchner ter "passado por cima" da norma estabelecida pela Carta Orgânica (estatuto) do BC, que prevê a demissão do presidente da autoridade monetária por decreto, mas antes, uma comissão parlamentar bicameral tem de se reunir, avaliar o assunto e fazer uma recomendação ao Executivo.

O ministro de Economia, Amado Boudou, e o chefe de Gabinete da Presidência, Aníbal Fernández, consideram que essa instância determinada por lei é desnecessária. "A comissão somente recomenda se deve ou não demitir o presidente do BC, mas essa recomendação não é vinculante", afirmaram.

Martín Redrado tem mandato aprovado pelo Congresso até setembro de 2010. O objetivo dele é que a comissão bicameral se reúna e decida sobre sua permanência ou não à frente do BC até o fim de seu período. A comissão é integrada pelos titulares das comissões de Orçamento e Fazenda e de Economia do Senado e das comissões de Orçamento e Fazenda e de Finanças da Câmara dos Deputados. A presidência desta comissão é exercida pelo presidente do Senado, o opositor e candidato à Presidência em 2011, Julio Cobos, que também é o vice-presidente argentino.

Cobos declarou sua candidatura no fim de semana passado, desatando a corrida presidencial. Foi ele quem impôs ao governo Kirchner a primeira derrota política no Senado, em junho de 2008 quando desempatou a votação que derrubou o aumento das alíquotas de exportações agrícolas (as chamadas retenciones).

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