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Imposto de Renda

Câmara cogita resgatar projeto de Paulo Guedes na reforma do Imposto de Renda

Proposta de Paulo Guedes para reforma do IR, de 2021, pode ser resgatada por Arthur Lira na análise do projeto do governo Lula.
Proposta de Paulo Guedes para reforma do IR, de 2021, pode ser resgatada por Arthur Lira na análise do projeto do governo Lula. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

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O Congresso está analisando a proposta do governo para reforma do Imposto de Renda, e uma coisa é certa: o horizonte é de mudanças. Relator do texto, o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) disse a interlocutores que pretende resgatar trechos do projeto apresentado pelo então ministro da Economia Paulo Guedes em 2021, no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Na época, o plano de Guedes chegou a ser aprovado pelo plenário da Casa, com diversas alterações, mas depois foi "enterrado" no Senado. Não está claro, porém, quais trechos Lira cogita incorporar.

A proposta do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dois pontos principais: a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, com descontos até R$ 7 mil; e a criação de um imposto mínimo sobre rendas acima de R$ 50 mil mensais, que inclui a retenção de 10% dos dividendos distribuídos por empresas.

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A isenção de R$ 5 mil era visada por Bolsonaro, pois havia sido uma promessa de sua campanha eleitoral em 2018. No entanto, Guedes argumentou que o país passava por dificuldades em 2021, e a alternativa foi elevar a isenção de R$ 1,9 mil para R$ 2,5 mil mensais, apesar da pressão do ex-presidente para aumentar o teto para R$ 3 mil.

Naquele momento, o Brasil tinha 31 milhões de declarantes do IR, dos quais 10,7 milhões eram isentos. A proposta de Guedes faria com que 5,6 milhões de pessoas deixassem de pagar o imposto, ampliando a isenção para 16,3 milhões de pessoas.

A proposta do atual governo, por sua vez, prevê isentar cerca de 10 milhões de pessoas do IR, fazendo com que 90% dos declarantes fiquem na faixa de isenção total ou parcial.

O projeto da equipe econômica do ex-presidente Bolsonaro também previa a atualização da tabela de alíquotas do IR por faixas salariais, desatualizada desde 2015. Essa atualização completa não consta da proposta petista, que mantém a defasagem do IR para todos que ganham R$ 7 mil ou mais.

Além disso, o plano de Guedes previa ainda um desconto simplificado de 20% para todas as pessoas que recebessem até R$ 40 mil por ano. O objetivo do governo era manter a simplificação para quem tivesse menor renda e estimular contribuintes com renda acima desse valor a pedir nota fiscal e solicitar deduções.

Guedes falou em "coragem" para taxar lucros e dividendos

O projeto foi entregue em junho de 2021 por Paulo Guedes a Arthur Lira, então presidente da Câmara. Após sofrer modificações, foi aprovada pelos deputados já em setembro daquele ano. Depois, porém, "estacionou" no Senado. O relator da proposta na Casa, senador Angelo Coronel (PSD-BA), criticou o projeto de Guedes em várias ocasiões e defendeu substituí-lo por um novo texto. A proposta não avançou desde então.

Além da isenção no IR, a versão original do PL 2337/2021 também previa a taxação de lucros e dividendos. Na ocasião, Guedes disse que essa proposta era um “marco", pois o país havia taxado empresas e assalariados por 40 anos, sem ter tido “coragem de tributar os rendimentos de capital".

Medidas compensatórias visavam evitar risco fiscal da proposta

A taxação de lucros e dividendos buscava compensar as perdas arrecadatórias causadas pelas isenções e reduções no IRPF e pela redução de alíquotas do IRPJ, cobrado das empresas. Para isso, a equipe econômica estabeleceu uma alíquota de 20% sobre os dividendos, com faixa de isenção até R$ 20 mil mensais ou R$ 240 mil anuais.

No projeto do governo Lula, a compensação da renúncia fiscal causada pela nova faixa isenta do IRPF será feita por meio do imposto mínimo, aplicado a rendimentos mensais acima de R$ 50 mil (R$ 600 mil anuais).

Cálculos considerando as deduções de valores já pagos em IRPF demonstraram que, na prática, somente pessoas que recebem acima de R$ 100 mil mensais (R$ 1,2 milhão por ano) terão que pagar mais do que já pagam hoje.

Outra compensação prevista na proposta do governo Bolsonaro era a alíquota de 15% para tributar os investimentos em renda fixa, fundos abertos e fechados (multimercados), extinguindo a tabela regressiva. O mesmo percentual seria aplicado a investimentos em bolsas de valores, mas com apuração trimestral.

Outros pontos da reforma do Imposto de Renda proposta por Paulo Guedes

Além das mudanças já citadas, a proposta de reforma do Imposto de Renda de Paulo Guedes incluía alíquota de 5% sobre a atualização de valores patrimoniais de bens imóveis.

O percentual poderia ser aplicado anualmente à valorização de qualquer imóvel, tendo o preço de compra como referência. Atualmente, as alíquotas variam de 15% a 22,5% sobre a diferença entre o preço de compra e o de venda.

Reforma do IR de Guedes também incluía redução de alíquotas para empresas

O projeto de Guedes também propunha reduzir o Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas em cinco pontos percentuais – 2,5 no primeiro ano e igual redução no ano seguinte. De 15% em 2021, a taxação cairia para 12,5% em 2022 e para 10% em 2023.

A proposta previa ainda o fim dos Juros sobre Capital Próprio (JCP), uma forma de distribuir lucros entre acionistas. Esse mecanismo é utilizado para reduzir a base de incidência da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ).

Guedes afirmava que, em um mercado de crédito mais evoluído e com juros menores, benefícios como esse, para incentivar o empresário a investir na própria companhia, não eram mais necessários.

Em reação à proposta atual do governo, que prevê o imposto mínimo para grandes rendas, uma solução que tem sido aventada por empresas para reduzir a base de incidência do IR é a transformação de dividendos em JCP.

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Deputados apresentam propostas para alterar reforma da renda de Lula

Uma proposta alternativa à reforma do governo Lula foi apresentada pelo PP, partido de Lira. O texto mantém a isenção do IR em R$ 5 mil, mas com formas distintas de compensar a perda de arrecadação causada pela medida. Além disso, prevê alterações no imposto mínimo sobre altas rendas, elevando o piso de R$ 50 mil mensais para R$ 150 mil.

Deputados também já solicitaram que outros quatro projetos relativos ao Imposto de Renda sejam apensados à proposta do governo, de forma que sejam considerados na elaboração de um substitutivo.

Uma dessas propostas, do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), eleva a faixa isenta de IR para R$ 10 mil, mas sem apresentar qualquer compensação para a renúncia fiscal.

O atual presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), já sinalizou ao governo que a Casa fará suas contribuições. Durante o lançamento do projeto, ao lado de Lula e do vice-presidente, Geraldo Alckmin, Motta afirmou que as alterações necessárias serão feitas.

Como está a tramitação da proposta para reforma do Imposto de Renda do governo petista

Atualmente, o PL 1087/2025 encontra-se em análise na Câmara dos Deputados. A tramitação teve início no dia 19 de março, e a Casa precisa dar um parecer sobre o projeto até o dia 2 de maio.

No início de abril, foi aprovado requerimento de urgência para a tramitação do projeto e criada uma Comissão Especial para sua avaliação, presidida pelo deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA), vice-líder do governo na Câmara.

Também já foi aprovada a realização de uma audiência pública para avaliação da proposta, que, até o fechamento desta reportagem, seguia sem data marcada para ocorrer.

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