
A diferença entre a rentabilidade alcançada por fundos da mesma categoria nem sempre indica que um gestor foi mais competente que o outro. Se o gestor não se desviou do índice de referência prometido (chamado no mercado de benchmark), não há do que reclamar. Pelo contrário: desviar-se do alvo é algo que pode ser classificado como uma "barbeiragem" do gestor. Por isso, é importante que o investidor esteja atento a esse detalhe para depois poder cobrar satisfações se o fundo estiver rendendo abaixo do que foi almejado.
O benchmark é um indicador que oferece a referência de performance que cada fundo busca acompanhar. Nos fundos de ações, o benchmark mais tradicional é o Ibovespa (principal índice da bolsa), mas há outros, como o IBrX ou índices setoriais como o de energia elétrica.
Para quem não quer ficar colado à bolsa, há fundos de ações livres, que podem montar sua carteira com maior liberdade que os que têm um benchmark. E essa liberdade pode ser uma vantagem ou não: tudo vai depender da habilidade do gestor. No ano passado, o índice Ibovespa registrou depreciação de 41,22%. Enquanto isso, os fundos de ações livre com alavancagem, que carregam maiores riscos, chegaram ao fim do ano com desvalorização média de 30,7%.
Já nas duas primeiras semanas deste ano, enquanto os fundos Ibovespa deram retorno de 4,90%, os fundos livres pagaram 3,89%. Se um fundo tem um benchmark, como o Ibovespa, e passar a dar retorno muito diferente do indicador, o investidor deve pedir esclarecimentos ao gestor. Mas, se o fundo não tiver a referência, ficará mais complicado afirmar se a aplicação foi mal ou não.
Para as aplicações que pagam juros, como fundos DI, de renda fixa e mesmo os CDBs, um benchmark tradicional é o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que acompanha as oscilações da taxa básica da economia, a Selic. "Um benchmark é sempre interessante e mesmo necessário para o investidor ter um parâmetro de referência para avaliar o retorno de suas aplicações, afirma a consultora de investimentos Márcia Dessen, da Bankrisk.
Um fundo pode prometer bater o CDI em determinado período. Se o CDI rendeu 15%, e o fundo, 16%, o gestor cumpriu o prometido. Por outro lado, se a aplicação deu apenas 14%, o gestor deixou de atingir o benchmark acertado. Essas diferenças de rentabilidades ocorrem muito no dia-a-dia do mercado de fundos. O investidor às vezes se esquece (ou não tem ciência) de que os fundos não são como a poupança, que tem uma rentabilidade definida oficialmente, o que faz o retorno ser sempre igual, independentemente do banco em que a aplicação foi feita.
No caso dos fundos, o cálculo da rentabilidade é mais complexo. Os administradores (como bancos, corretoras e empresas de administração de recursos, conhecidos como assets) juntam dinheiro de diversos clientes para formar o patrimônio do fundo. Com essa reunião de recursos, compram títulos públicos e privados, ações e mesmo câmbio para tentarem atingir a rentabilidade prometida. Por isso, fundos da mesma categoria não dão retornos iguais. Tudo depende de como a carteira foi montada.
Os prospectos dos fundos são a principal forma de um investidor saber o que a aplicação promete e se trabalha com um benchmark a ser buscado. Pela lei, os fundos têm de deixar claro qual a sua política de investimento, riscos e metas a cumprir. Os saques recordes dos fundos multimercados, que perderam R$ 54,6 bilhões líquidos em 2008, podem ser um sinal da insatisfação dos investidores com retornos esperados e não alcançados. Os multimercados podem aplicar sua carteira em diferentes segmentos, como ações e papéis que pagam juros. Com isso, carregam maiores riscos e exigem maior ação do gestor.




