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Petrobras cai 11% após reeleição de Dilma

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A reeleição da presidente Dilma Rousseff custou R$ 24,51 bilhões em valor de mercado da Petrobras, resultado de uma desvalorização de mais de 11% nas ações da maior estatal brasileira, utilizada nos últimos anos para conter os preços no país. A baixa da estatal levou a Bolsa brasileira à queda de 2,77% no Ibovespa, principal termômetro do mercado de ações, que encerrou marcando 50.503 pontos.

O dólar à vista (referência do mercado financeiro) chegou a R$ 2,56, mas depois fechou a R$ 2,5211, com alta de 2%. É a maior cotação desde 29 de abril de 2005. No câmbio comercial, usado em transações do comércio exterior, a moeda fechou em R$ 2,523, com alta de 2,64%. A variação é a maior para um único dia desde setembro de 2011.

Reação

Para analistas, a reação foi melhor do que a esperada por dois fatores: o mercado já se preparava para a vitória da presidente Dilma e há uma expectativa de que, passado o calor eleitoral, haverá mais diálogo com o mercado. Segundo Elad Revi, analista da Spinelli, a possibilidade de mudanças na política econômica fez com que a queda da Bolsa brasileira não se acentuasse durante todo o dia. "A sinalização passa credibilidade, mas ainda não é algo efetivo."

"Muitos investidores acreditam que haverá, pelo menos no curto prazo, uma sinalização mais positiva da Dilma. Assim queriam ‘comprar’ o ajuste do mercado. Esse sentimento em si já limitou o tamanho das operações de venda hoje [ontem]", disse Tony Volpon, chefe de emergentes da japonesa Nomura.

Reajuste

O governo espera acalmar o mercado financeiro com o anúncio, em breve, do reajuste dos preços dos combustíveis, informou uma fonte no governo. Em uma só tacada, a ideia é aplacar o mau humor do mercado e atender às necessidades de recomposição de caixa da Petrobras. O reajuste, porém, deve ser menor do que vem pedindo a presidente da petroleira, Graça Foster, nos últimos meses.

Porta-voz

Reeleição mostra que população aprova política econômica, diz Mantega

Agência O Globo

Um dia após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o encarregado de dar os primeiros sinais sobre a política econômica no segundo mandato foi o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não permanecerá no governo. Enquanto Dilma não anuncia quem será o comandante da economia a partir de 2015, Mantega assumiu o papel de porta-voz e disse ontem que a vitória da presidente mostra que a população aprova a atual política.

Segundo ele, o mercado financeiro brasileiro reagiu mal ontem devido não apenas às eleições, mas a um problema internacional, pois há uma queda nos preços das commodities que afeta todas as bolsas. Mas, para Mantega, o quadro tende a melhorar. "Com o fim da eleição, o cenário tende a amainar. Durante a campanha,os pessimistas ficam mais pessimistas e os otimistas mais otimistas", defendeu.

Mantega afirmou que o governo Dilma está comprometido com os fundamentos da economia, especialmente o fortalecimento da política fiscal e o combate à inflação. Ele também disse que novos incentivos serão adotados ainda este ano, mas não citou quais.

A campanha eleitoral de Dilma Rousseff adotou o lema "governo novo, ideias novas" logo no início do segundo turno, mas não se sabe se ele valerá para a política econômica do segundo mandato. Certo é que, embora o Planalto resista em admitir, seguir à risca a mesma receita dos últimos anos dificilmente produzirá resultados muito diferentes dos atuais – uma combinação de inflação elevada, déficit crescente nas contas públicas, investimento em queda e crescimento próximo de zero.

INFOGRÁFICO: Veja os desafios do governo no campo econômico

Em setembro, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 6,75%, maior nível em três anos. O rombo do setor público passou de 4% do PIB em agosto, o pior resultado desde novembro de 2009. A taxa de investimentos, de 17,7% do PIB no período de 12 meses encerrado em junho, está no nível mais baixo em quase sete anos. E a projeção do mercado financeiro para o crescimento econômico neste ano não chega a 0,3% – desempenho comparável, na história recente, apenas à recessão de 2009.

Um dos poucos indicadores positivos é o do desemprego, de menos de 5% nas maiores regiões metropolitanas. Ainda assim, ele tem se mantido baixo basicamente pela saída de jovens e adultos do mercado de trabalho, e não pelo aumento do nível de ocupação. E é pouco provável que resista nesse nível por muito tempo se a economia continuar patinando.

De todos os desafios que o novo ministro da Fazenda terá pela frente, talvez o mais urgente seja o resgate da credibilidade da política econômica, fator indispensável para devolver a confiança aos empresários e estimulá-los a retomar os investimentos. O Índice de Confiança do Empresário Industrial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu neste mês ao pior nível da série histórica, iniciada em 2007.

Menor intervenção

"O fundamental é que o novo ministro se comprometa em reforçar o tripé macroeconômico adotado no fim dos anos 1990, que envolve câmbio flutuante e o cumprimento de metas de superávit primário e inflação. O governo tem de sinalizar que está disposto a intervir menos na formação de preços e permitir que os preços administrados sigam uma lógica mais realista", avalia Marcelo Luiz Curado, professor de Economia da UFPR.

Esse tipo de sinalização ainda não apareceu. Dispensado antes mesmo das eleições, o ainda ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a presidente "tem um compromisso com os fundamentos da economia" e que entre as prioridades dos próximos quatro anos estão "manter um bom resultado fiscal" e "manter a inflação sob controle".

As palavras de Mantega seriam, em tese, agradáveis aos ouvidos do mercado financeiro, mas poucos no mercado ainda acreditam no que diz o ministro demissionário. Ainda mais porque o discurso deu ênfase à manutenção de certas condições, dando a entender que o governo está satisfeito com o andar das finanças públicas e da inflação.

"O ministro não disse, mas, além de equilibrar as contas públicas, é preciso dar mais transparência a elas. O governo adotou critérios de contabilidade questionáveis nos últimos anos", observa Robson Gonçalves, professor do Instituto Superior de Administração e Economia (Isae/FGV).

Contraponto

"Governo não deve ter medo de se endividar para investir mais", diz economista

Economistas mais ortodoxos defendem que a primeira atitude do governo deve ser a de arrumar a casa, ajustando a política fiscal e combatendo a inflação com vigor. Mas a professora Denise Lobato Gentil, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sugere medidas bem diferentes. Para ela, o governo deve elevar rapidamente seus investimentos e reforçar as linhas de crédito barato oferecidas por bancos públicos como a Caixa e o BNDES, mesmo que num primeiro momento isso signifique elevar a dívida pública e a inflação.

"O governo não deve ter medo de investir porque, quando investe, ativa cadeias importantes na construção e na indústria e, ao gerar emprego e produção, amplia a arrecadação. Não tem de temer o endividamento no curto prazo, porque há espaço para se endividar agora e, assim, recuperar a economia", diz Denise.

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