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Paulo Alfredo Carniel Junior diz que nunca viu o mercado de geradores tão aquecido em 12 anos de atividade | Antônio More/Gazeta do Povo
Paulo Alfredo Carniel Junior diz que nunca viu o mercado de geradores tão aquecido em 12 anos de atividade| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Poupar e faturar

Veja o que algumas empresas estão fazendo para economizar ou ganhar dinheiro com a crise do setor elétrico:

Livres

Alguns consumidores de grande porte que compram energia no chamado mercado livre reduziram a produção para poupar energia e vender essa sobra a preços elevados no mercado à vista. Interessados não faltam: há várias empresas comprando eletricidade todo mês – só há contratos de longo prazo a preços razoáveis a partir de 2017 – e hidrelétricas precisando de energia para honrar contratos.

Extra

Até o fim do ano, todas as 137 lojas do supermercado Extra devem passar por um programa de eficiência energética testado em três unidades em 2014, que reduziu o consumo em 25%. Entre outras medidas, a rede vai trocar lâmpadas, aproveitar mais a luz natural e instalar coberturas sobre os "móveis de frio".

Tecnoflex

A fabricante de móveis corporativos está instalando telhas translúcidas em seus galpões que, em dias de sol, vão dispensar 400 lâmpadas. Uma consultoria de gestão da energia está identificando máquinas pouco eficientes, para serem reguladas ou trocadas.

Ecovia

A concessionária de rodovias está concluindo a troca de 1,5 mil lâmpadas para modelos de LED, de baixo consumo, e promovendo uma campanha de comunicação interna para a redução de desperdícios.

Papeleiras

"Nós temos energia garantida. Os clientes, não"

Grandes consumidores de energia são os mais preocupados com um eventual racionamento. É o caso da indústria de papel e celulose, bastante relevante no Paraná.

Um relatório do banco Citi mencionou a Klabin entre as companhias mais vulneráveis. Isso porque a empresa, que tem uma fábrica em Telêmaco Borba e está construindo outra em Ortigueira, ambas nos Campos Gerais, é consumidora líquida de energia – isto é, embora tenha plantas de geração, elas não suprem toda a sua necessidade. A Ibema, que fabrica papel-cartão em Turvo (Centro-Sul), alugou um gerador depois que oscilações na rede interromperam a produção várias vezes.

A situação da Santa Maria Cia. de Papel e Celulose, de Guarapuava (Centro-Sul), é mais confortável. Dona de duas pequenas hidrelétricas e de uma termelétrica a biomassa que somam 12 megawatts (MW) de potência, a empresa é autossuficiente em energia e em 2016, quando ficar pronta a ampliação da usina Salto Curucaca, passará a vender energia. A central, hoje com capacidade de 8,8 MW, poderá gerar até 37 MW, num projeto tocado em parceria com a Cooperativa Agrária.

O que preocupa a Santa Maria é que as empresas que compram seu papel – gráficas e fábricas de embalagens – não estão imunes ao racionamento. "Nós temos energia garantida, mas os clientes, não. Eles poderão passar por dificuldades, o que acabaria nos afetando", explica Adriano Justus Folador, gerente administrativo e financeiro.

Regras mutantes

Segundo o executivo, as mudanças nas regras do setor elétrico – em especial as da MP 579, que baixou as tarifas – quase levaram a companhia a desistir da expansão de Salto Curucaca. "O projeto é de 2001 e, por causa da burocracia de órgãos do setor elétrico e ambientais, só agora estamos executando. E aí vem o governo e muda os preços, afetando toda a expectativa de retorno", diz.

Pouco depois das eleições, quando notou que a crise do setor elétrico não daria trégua tão cedo, o empresário Roberto Magnani decidiu agir. Sócio da pizzaria Avenida Paulista, em Curitiba, ele investiu em duas grandes câmaras frias, capazes de manter os alimentos resfriados por oito horas sem eletricidade. Também comprou sete no-breaks, para manter os computadores ligados por até 40 minutos após uma queda de energia. De resto, o forno a lenha dará conta das pizzas e os lampiões, de iluminar o ambiente.

INFOGRÁFICO: Veja os índices do consumo de energia desde 2006

Isso foi o que Magnani fez para se precaver de blecautes como o que ocorreu um mês atrás em várias regiões. Para aliviar o impacto do violento aumento da tarifa de luz e se preparar para um eventual racionamento, a ordem é poupar. "Entre outras coisas, estamos ligando o ar-condicionado um pouco mais tarde e desligando mais cedo", conta.

País afora, empresários de variados setores tomam medidas como essas para lidar com toda sorte de apagão – de cortes imprevistos ao racionamento propriamente dito. Com os reservatórios mais baixos que no racionamento de 2001, termelétricas funcionando a plena capacidade, um sistema sob risco de queda em dias de consumo mais alto, preços explodindo e o governo resistindo até mesmo a reconhecer a crise, cresce a ação das empresas para encontrar alternativas de fornecimento e, em alguns casos, para lucrar com a situação.

Felizes estão os que vendem produtos e prestam serviços relacionados à redução do consumo ou ao suprimento emergencial de energia, e que veem suas atividades crescerem rapidamente num país que parece caminhar para a recessão – o mercado financeiro prevê que o PIB cairá 0,4% neste ano, em parte por causa da crise energética.

Paulo Alfredo Carniel Junior, dono da locadora de geradores a diesel Top Geradores, conta que, em 12 anos de atividade, nunca viu o mercado tão aquecido. O número de contratos, segundo ele, aumentou 30% em relação ao mesmo período do ano passado. Até poucos dias atrás, todos os 60 geradores da empresa de Fazenda Rio Grande, na região de Curitiba, estavam alugados. "O que é ameaça para alguns é oportunidade para nós", diz.

A norte-americana Generac, que fabrica grupos geradores em Pinhais, na Grande Curitiba, aumentou a produção em 20% nos últimos meses. "Houve um crescimento significativo na procura a partir do último trimestre de 2014", diz o diretor da empresa no Brasil, Gianni Pinheiro.

Na Cummins Power Generation, que tem fábrica em Guarulhos (SP), as consultas sobre geradores cresceram 40% em relação ao início de 2014. O líder desse segmento na empresa, Evandro Bagdonas, explica que a busca ficou mais intensa depois do blecaute de janeiro e de pronunciamentos do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, indicando que o governo vai incentivar grandes consumidores a usar geradores no horário de pico.

Segundo o especialista em eficiência energética José Starosta, diretor da Ação Engenharia e Instalações, de São Paulo, a busca das empresas não se limita a geradores. "A energia não apenas está cara e pode faltar, como a qualidade está piorando. Há momentos em que a tensão fica abaixo do ideal, e momentos em que fica acima, o que derruba toda uma fábrica. Por isso, há projetos para monitorar oscilações da rede", diz. Também começam a ganhar espaço planos de geração própria de energia, por meio de painéis fotovoltaicos (solares). "Isso não substitui a eletricidade da rede, mas ajuda a complementar e economizar."

Hesitação do governo alimenta especulação

A necessidade de racionar energia é quase uma unanimidade entre especialistas e agentes do setor elétrico. Mas nem todos acreditam que ele vá mesmo ser decretado. O comportamento hesitante do Planalto alimenta especulações sobre se, quando e em que condições ocorreria uma redução compulsória do consumo.

Luís Gameiro, diretor da comercializadora Trade Energy, crê que o governo levará às últimas consequências a estratégia de impor "cortes seletivos" em momentos mais críticos para evitar o custo político de um racionamento. "Por mais que o Sudeste possa terminar o período úmido com os reservatórios em 20% da capacidade, acreditamos que o governo vai esperar para agir. Eventualmente ele pode partir para o racionamento lá em outubro, no fim do período seco, quando o custo para a sociedade será muito maior", diz Gameiro.

Para Robson Luiz Rossetin, diretor da Electra Energy, é muito provável que ocorra um racionamento no Sudeste, mas não no Sul, a exemplo do que ocorreu em 2001. "A Região Sul já está em situação bem melhor que o Sudeste e tem a vantagem de que seus reservatórios enchem mais rápido, basta uma ou duas frentes frias. Mesmo podendo transferir energia para o Sudeste, nunca enviou mais de 5 mil megawatts (MW). Seria economicamente inviável obrigar o Sul a racionar."

Segundo ele, a confirmação dessa hipótese criaria uma situação favorável para as geradoras de energia do Sul. Na hipótese de um racionamento de 20% da carga, uma companhia que precisa fornecer 10 MW ao Sudeste ficaria desobrigada a entregar 2 MW, que poderiam ser comercializados na Região Sul, no mercado livre. "Se houver racionamento, quem tiver energia disponível para vender no curto prazo vai ganhar muito dinheiro", diz Rossetin.

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