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Agência do banco grego Piraeus: incertezas continuam | Aris Messinis /AFP
Agência do banco grego Piraeus: incertezas continuam| Foto: Aris Messinis /AFP

Número

165,3% é o porcentual do Produto Interno Bruto a que corresponde a dívida da Grécia. Esse é o número-chave da crise: a comunidade internacional teme que o país não tenha condições de cumprir ops compromissos com credores.

País precisa de reestruturação

Não é à toa que a possível saída da Grécia da zona do euro tem causado pânico nos mercados do mundo todo. A Grécia acumula uma dívida pública que, no fim de 2011, comprometia 165,3% do PIB. Como a maior parte da dívida grega está nas mãos dos bancos alemães e europeus, a saída da Grécia da zona do euro poderia levar ao colapso desses bancos, afetando diretamente os países que mantêm relações comerciais com União Europeia, como é o caso do Brasil.

"Se a Grécia sair, não há dúvida de que vamos sentir um impacto momentâneo, com grande instabilidade. Porém, passada essa fase as coisas vão se acertar e os mercados internacionais devem caminhar para a normalidade, assim como o Brasil, que acompanha as bolsas mundiais", afirma Rodolfo Coelho Prates, professor da Universidade Positivo (UP). Porém, os economistas são unânimes em afirmar que, saindo ou não da eurozona, a instabilidade deve continuar enquanto não houver um programa efetivo de recuperação da economia grega, aliado a estabilidade política.

"A saída agora seria um grande programa de reestruturação dessa dívida, mais sério e mais profundo do que as medidas de ajuste fiscal que estão sendo impostas aos gregos", diz Curado. Ele sugere que a emissão de títulos do próprio Banco Central Europeu seria uma opção importante para ampliar a liquidez e possibilitar o resgate não só da Grécia, mas também de Portugal, que está em situação semelhante e pode, a qualquer momento, agravar ainda mais a situação no Velho Continente.

Enquanto a Grécia segue imersa na instabilidade política e econômica, ameaçando deixar a zona do euro com uma dívida que ultrapassa os 350 bilhões de euros, os investidores brasileiros temem que os prejuízos de um possível calote grego possam respingar por aqui. Mas como a saída da Grécia da moeda única poderia impactar os investimentos feitos aqui no Brasil? Segundo economistas que acompanham o cenário internacional, pior do que a saída do país da eurozona é a sua permanência e a postergação do problema por mais tempo.

Independentemente da saída ou não da Grécia, o problema está na instabilidade desse cenário, que leva incerteza aos mercados financeiros de todo o mundo, acredita Marcelo Curado, professor de Economia Internacional da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Fazer apostas e investimentos num ambiente de incerteza em relação ao futuro é ruim para os mercados. "Pior do que a quebra de um banco é a expectativa da quebra", ilustra Curado.

Por enquanto, a ausência de um horizonte definido deve manter as oscilações na bolsa e no preço do dólar, exigindo cautela por parte dos investidores mais conservadores, dizem os economistas. Para pessoas com esse perfil, os investimentos com renda variável, como a aplicação em ações, oferecem mais riscos porque estão sujeitos às variáveis da conjuntura econômica. Neste caso, a melhor opção seriam os investimentos com renda fixa e poupança. "Aplicações sujeitas a riscos não fazem parte do perfil de investidores amadores", destaca o economista da UFPR.

Apesar de a relação comercial e financeira entre Grécia e Brasil ser pequena, outros países que integram a zona do euro são parceiros econômicos do Brasil, e sofrerão perdas comerciais e financeiras caso o problema persista. Além disso China e Estados Unidos, outros líderes da economia global, estão sinalizando crescimento menor. Não há, portanto, socorro possível, e o Brasil acabaria sendo afetado.

Até agora, o reflexo mais imediato desse cenário tem sido a variação do câmbio e a redução dos juros, promovida com o objetivo de dar mais dinamismo à economia brasileira. Para o investidor, os juros baixos significam ganhos menores na renda fixa. Os investidores ficam, então, em uma encruzilhada: aceitam uma rentabilidade segura, embora menor, ou se arriscam em investimentos com renda variável para ganhar mais. "Enquanto não se achar uma solução efetiva para o problema, cada novo suspiro grego vai gerar um alvoroço nos mercados mundiais, sobretudo em um cenário bastante sensível a informações de natureza econômica", afirma Curado.

"Talvez fosse melhor se a Grécia deixasse a zona do euro, embora eu ache que isso é pouco provável", afirma Rodolfo Coelho Prates, doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de mestrado e doutorado em Administração da Universidade Positivo (UP). Isso sinalizaria para uma solução do problema e os mercados teriam que lidar com algo mais concreto, na opinião de Prates. "O investidor se adapta às condições quando elas estão postas, mas tem muitas dificuldades quando o cenário é incerto e instável", diz.

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