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Caminhões estão sendo barrados no km 60 da BR-277, antes da praça de pedágio. Segundo a concessionária, fluxo será liberado “nos próximos dias”, de forma lenta | Valterci Santos/ Gazeta do Povo
Caminhões estão sendo barrados no km 60 da BR-277, antes da praça de pedágio. Segundo a concessionária, fluxo será liberado “nos próximos dias”, de forma lenta| Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo

Problemas concentrados

Os estragos na rodovia de acesso ao litoral acrescentam um item à longa lista de problemas enfrentados pelo campo no escoamento da safra.

Vendas antecipadas

Os produtores venderam uma parcela maior da safra antecipadamente para aproveitar a alta nos preços internacionais. Perto de 50% da produção de soja – 15 pontos porcentuais a mais que na mesma época do ano passado – está vendida e deve ser exportada logo após a colheita, para que não haja despesa com armazenagem. A data-limite para o cumprimento de boa parte dos contratos é abril.

Colheita concentrada

O plantio da soja e do milho foi realizado numa mesma época, a partir do final de setembro de 2010. Assim, a colheita também ocorre de forma concentrada, à medida que as chuvas dão trégua. Perto da metade da produção ainda está no campo, mas os produtores trabalham até de madrugada quando o clima permite. A concentração da colheita já havia acendido o sinal de alerta pelo risco de apagão logístico antes mesmo das chuvas da última semana.

Armazéns insuficientes

Na safra passada, o Paraná registrou falta de armazéns em todas as regiões. A Coopavel, de Cascavel, por exemplo, teve de guardar soja sob lonas num pátio de caminhões. Como a programação e a construção de novos armazéns demora mais de um ano, ainda não há espaço para represar a safra no interior.

A estratégia do setor é escoar a produção rapidamente.

Produção extra

A soja, principal produto de exportação da agricultura, teve produção ampliada nesta temporada no Paraná. O plantio cresceu 4,5%, para 4,67 milhões de hectares, e a safra pode atingir marca recorde de 14 milhões de toneladas, 20% da produção nacional. Além disso, parte da produção do Centro-Oeste também é exportada via Paranaguá. Com tanta soja para processar e exportar, aumenta a pressão por escoamento.

Transporte escasso

Os transportadores levam seus caminhões para as regiões com maior demanda por transporte nesta época do ano. A reprogramação forçada do escoamento aumenta despesas e pode agravar o desequilíbrio entre oferta e demanda pelo serviço, que faz o frete dobrar de preço nesta época do ano.

Repasse de prejuízo

Os agricultores são "tomadores de preços", ou seja, as cotações de cada região já descontam o custo do escoamento. Assim, problemas no transporte ou no embarque acabam se convertendo em redução da renda agrícola no interior do estado.

A dificuldade de acesso ao litoral pode dificultar ainda mais o escoamento da safra paranaense, que já vinha sendo prejudicado pela lentidão no carregamento dos navios atracados no Porto de Paranaguá. Como os caminhões já não conseguem chegar ao porto e a ferrovia – responsável pelo transporte de 30% da colheita – tende a ficar bloqueada até amanhã, pode faltar espaço para armazenar grãos no interior. Algumas cooperativas afirmam que têm condições de estocar a colheita por apenas mais uma semana. Na outra ponta, a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) admite que poderá faltar carga para os navios, o que geraria uma fila de embarcações.Ontem à noite, 23 navios aguardavam liberação para atracar – normalmente, são 15. Estipulado em contrato, o prazo para carregamento normalmente é maior em Paranaguá do que em outros terminais, em razão do histórico de chuvas no porto na época de safra. Passado o prazo, que chega a 20 dias, os exportadores têm de pagar a "demourrage", espécie de multa diária pelo atraso, que pode ser de até US$ 50 mil por dia.

O tráfego na BR-277 estava liberado ontem para veículos leves, mas os caminhões estão sendo retidos no acostamento, antes da praça de pedágio, na altura do km 60. A fila se prolongava até o km 70 e continuava por mais 4 quilômetros na BR-116, que cruza a BR-277, totalizando 14 quilômetros.

A Appa suspendeu a emissão de senhas do sistema Carga On-line ainda na semana passada, mas ontem – três dias após a tragédia que interrompeu o tráfego na rodovia – ainda havia caminhões seguindo para o litoral. O Carga On-line controla o fluxo de cargas em direção ao porto e, em tese, os caminhões só devem sair da origem com uma senha liberada. A Appa fez um apelo aos produtores e às cooperativas para que não enviem carga sem autorização.

Segundo a Ecovia, concessionária que administra a BR-277, o tráfego de caminhões será liberado "nos próximos dias", de forma lenta. A ponte do km 26 sofreu danos na estrutura e a concessionária, junto com a Polícia Rodoviária Federal, optou por não permitir a passagem de veículos pesados até que haja uma solução provisória – a reforma completa deve durar 6 meses.

Sem carga

O temor da Appa é que a BR-277, mesmo após liberada para caminhões, não comporte fluxo grande o bastante para manter cheios os armazéns do porto. A carga disponível até ontem era suficiente para carregar quatro navios. "Depois disso, e se for prolongada a interrupção da BR-277, pode faltar carga para exportar", afirmou o superintendente da Appa, Airton Vidal Maron. Ontem, o pátio de triagem do porto, que tem capacidade para mil caminhões e esteve lotado nas últimas semanas, tinha 600 vagas desocupadas.

"Havendo sol, haverá espaço nos armazéns em quatro a cinco dias", afirma o gerente da unidade da Cooperativa Agropecuária Mourãoense (Coamo) em Para­na­guá, Alexandro Cruzes. A Coamo é uma das nove empresas que têm silo próprio no porto. Outra delas, a Cargill, afirmou que suspendeu o envio de caminhões ao porto e "estuda alternativas logísticas, considerando a capacidade de recebimento de outros portos".

A Ocepar, representante das cooperativas, pediu mobilização do governo e da concessionária. "Precisamos de um programa emergencial para viabilizar o escoamento da safra de forma mais rápida", afirmou Flavio Turra, ge­ren­­te técnico e econômico da Ocepar.

Em nota, o Setcepar, que representa as transportadoras, criticou a falta de investimentos em infraestrutura portuária. "O porto deveria receber mais investimentos em armazéns."

Colaborou José Rocher, da Redação, e Ismael de Freitas, da sucursal de Ponta Grossa

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