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Augusto Farfus dos Santos (ao fundo) contratou trabalhadores de Santa Catarina e do Ceará | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Augusto Farfus dos Santos (ao fundo) contratou trabalhadores de Santa Catarina e do Ceará| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Tendência

País pode atingir "pleno emprego" em alguns anos

Ao que tudo indica, o mercado de trabalho deve continuar aquecido até o fim do ano.

E, para os especialistas, o Brasil caminha a passos largos para atingir, nos próximos anos, o chamado "pleno emprego". Esse fenômeno ocorre quando a procura por trabalho é muito próxima da oferta, mas não significa que a taxa será igual a zero. Exemplo disso é que nos Estados Unidos, a era Bill Clinton – quando o desemprego ficou em 3,9%, em média – foi considerada de pleno emprego. Considera-se que um país atinge o pleno emprego quando a taxa de desemprego for igual ou menor do que 5%.

Um mercado de trabalho mais robusto significa, além da redução do desemprego, um cenário mais favorável para a elevação dos salários.

Em março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa ficou em 7,6%. O índice ficou acima dos 7,4% registrados em fevereiro, mas, ainda assim, foi o menor para meses de março desde o início da série histórica do instituto. De acordo com IBGE, a taxa aumentou em março muito mais pelo crescimento do número de pessoas que tinham desistido e voltaram a procurar um emprego do que por qualquer recuo no ritmo de abertura de vagas. Espera-se que, nos próximos meses, a retomada dos investimentos por parte das empresas mantenha o ritmo de abertura de novos postos de trabalho.

  • Alisson Rocha deixou o interior de São Paulo para cozinhar no restaurante de Denis Niro, em Maringá
  • Karoline Martelotti, dona de padaria e confeitaria:

A falta de mão de obra está levando algumas empresas a importar trabalhadores de outros estados. Dono da churrascaria Devon’s, o empresário Augusto Celestino Farfus dos Santos trouxe pessoal do Ceará e Santa Catarina e de Prudentópolis, na região de Cam­pos Gerais. "Esse tipo de iniciativa está cada vez mais comum. Co­­nheço restaurantes de São Paulo que já tem até garçons argentinos", comenta. Segundo ele, falta qualificação e comprometimento da mão de obra do setor. "Quem quer ser garçom tem que ter consciência de que terá que trabalhar em fins de semana e feriados. Mas muitos começam, ficam poucos meses e vão embora. A rotatividade está muito alta", diz.Do Ceará, Farfus trouxe 15 pessoas, entre agricultores e cortadores de cana. "Um terço voltou para o estado de origem, mas os que ficaram estão fazendo um trabalho muito bom", diz. Segundo ele, vários restaurantes têm trazido trabalhadores do campo para a cidade. Com a mecanização das lavouras, muitos veem no emprego nas grandes capitais uma oportunidade para melhores condições de vida.Sem opções em Maringá, Denis Niro contratou 15 funcionários que vieram do interior de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul para o seu restaurante, o Villa Itália. "A maior parte da equipe era formada por pessoas que moravam em pequenas cidades, onde a dificuldade de emprego é maior", diz o empresário. Esses trabalhadores recebiam alojamento, alimentação e o treinamento para trabalhar na cantina, mas, apesar do incentivo, muitos desistiram. Hoje, Niro tem cinco funcionários que não são de Maringá. "São colaboradores que, hoje, depois de treinados, já sabem tudo o que precisa ser feito, conhecem todo o procedimento, de montagem dos pratos ao atendimento."

Um dos funcionários contratados por Niro é o cozinheiro Alisson de Oliveira Rocha, que veio de Presidente Prudente (SP). O jovem de 27 anos resolveu deixar a família para estudar gastronomia e aperfeiçoar o trabalho. Segundo ele, valeu a pena ter buscado a oportunidade longe de casa. "É meio estranho no início, mas é muito bom. É algo que nos incentiva a crescer."

A cooperativa agropecuária Copacol, de Cafelândia, no Oeste do estado, atua em 18 cidades em um raio de até 12 quilômetros da matriz para captar trabalhadores para suas unidades de abate de frango. "Vamos até as agências do trabalhador de cada município para buscar pessoal. Até porque Cafelândia tem apenas 12 mil habitantes", diz Elias Venâncio Diniz, encarregado de recursos humanos.

Com 4 mil colaboradores na indústria, a Copacol oferece, em média, entre 150 e 200 vagas por mês. O importante, segundo Elias, é evitar a alta rotatividade. A cooperativa tem um projeto próprio de construção de casas para os funcionários, que alugam o imóvel. Mais recentemente, a Copacol começou a intermediar a venda dos imóveis aos empregados por meio do programa do governo federal de habitação popular Minha Casa, Mi­­nha Vida."Mão na massa" não interessa

Dona da padaria e confeitaria Joaquim José, Karoline Martelotti não consegue preencher vagas abertas para confeiteiros, padeiros, atendentes de balcão, garçons e cafeteiros. "Em alguns casos não exigimos experiência, mas nem assim os candidatos aparecem. Anunciamos no jornal, no Sine e nada", diz ela, que acrescenta que a situação acaba provocando perda de qualidade no atendimento ao cliente. "Não entendemos o que está acontecendo", afirma a empresária, que emprega 20 funcionários, e que, muitas vezes, tem de literalmente "botar a mão na massa" para dar conta da demanda.

O caso de Karoline ilustra outra mudança que o mercado de trabalho brasileiro vem passando nos últimos cinco anos. O número de pessoas que vêm se formando em algum ofício – como confeiteiro, padeiro, costureira ou carpinteiro, por exemplo – não acompanhou a demanda de vagas. Antigamente, era comum que o ofício passasse de pai para filho. "E hoje, por considerar os salários baixos, os pais não querem que os filhos continuem no ramo", diz Angela Carstens, coordenadora estadual de intermediação de mão de obra da Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego e Promoção Social. Na avaliação de Freud Oliveira, especialista em mercado de trabalho e diretor do Centro Universitário de Maringá (Cesumar) Empresarial, a dinâmica de mercado mudou nos últimos anos, com a quebra de cadeias produtivas. Um exemplo clássico é o das confecções, com a terceirização da produção e do design muitas vezes em outros países. "Não existe mais o caso daquela costureira que trabalhava anos no mesmo local. Hoje a rotatividade é muito grande", afirma. Para Karoline, o problema também é a falta de qualificação da mão de obra. "Os candidatos que aparecem em geral são mal preparados e têm baixa produtividade. Tivemos uma confeiteira que em seis horas conseguiu fazer apenas quatro bolos", diz.

Colaborou Marina Boffmann Fabri

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