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“O risco de explosão da Europa nunca foi tão grande.”Nicolas Sarkozy, presidente francês | Eric Feferberg/AFP
“O risco de explosão da Europa nunca foi tão grande.”Nicolas Sarkozy, presidente francês| Foto: Eric Feferberg/AFP

Obstáculo

Reino Unido busca proteger seus bancos

Agência O Globo

Parlamentares conservadores pediram ontem ao primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, que se empenhe na busca por proteção ao setor financeiro britânico durante a cúpula de hoje. Cameron corre o risco de desagradar seu Partido Conservador se apoiar medidas de resgate da zona do euro que envolvam a cessão de mais poderes às instituições europeias.

O partido do primeiro-ministro britânico já ficou dividido sobre a UE na sua passagem anterior pelo poder, na década de 1990, e Cameron está ciente de como esse assunto pode ser prejudicial. "As propostas da União Europeia constituem uma grave ameaça ao setor britânico de serviços financeiros", disse uma carta assinada por mais de 20 parlamentares conservadores, publicada no Daily Telegraph.

"É imperativo que o governo proteja nossa posição, defendendo um novo protocolo da UE ou uma salvaguarda jurídica específica para a Grã-Bretanha. Sem uma ação forte, a presente tendência ameaça seriamente os empregos britânicos e a arrecadação do Tesouro", afirma o texto.

A ala direitista da bancada do governo vê a atual crise como uma oportunidade ímpar para que Londres retome alguns poderes cedidos a Bruxelas. O próprio Cameron se considera um "eurocético", mas diz que a prioridade no momento é salvar as economias da zona do euro, que são coletivamente o maior parceiro comercial da Grã-Bretanha.

Na quarta-feira, ele prometeu ao Parlamento que buscará salvaguardas para o setor financeiro britânico. Numa sessão tumultuada, deputados governistas disseram que ele precisa levar para a cúpula o tradicional "espírito de buldogue" da Grã-Bretanha.

Há dez países da UE que não usam o euro como moeda, e o Reino Unido é o maior deles. O maior motivo de preocupação para Londres nas atuais discussões é a proposta franco-germânica de impor um imposto sobre transações financeiras, que afetariam muito duramente a Grã-Bretanha – os serviços financeiros respondem por mais de 10 % do PIB britânico.

A posição de Cameron fica ainda mais complicada pelo fato de ele governar em coalizão com o Partido Liberal-Democrata, "eurófilo". Apesar da pressão de alguns aliados, Cameron rejeita convocar um referendo para redefinir as relações da Grã-Bretanha com a União Europeia.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, afirmou ontem que a Europa não terá uma segunda chance caso não consiga chegar a um acordo para mudanças no tratado da União Europeia (UE), aumentando a integração e a disciplina fiscal. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse confiar que os líderes da UE chegarão a um "compromisso conjunto" para acelerar a integração fiscal e a supervisão conjunta das economias do bloco.

Antes de ir a Bruxelas para a reunião dos líderes da União Europeia, Merkel e Sarkozy discursaram em uma conferência do Partido do Povo Europeu, de centro-direita, em Marselha. O primeiro-ministro eleito da Espanha, Mariano Rajoy, participou do encontro e prometeu apoio. "Se não chegarmos a um acordo na sexta-feira, não haverá uma segunda chance", disse Sarkozy a delegados na conferência em Marselha.

"Temos de sinalizar externamente que estamos assumindo um compromisso conjunto. Somente palavras não são suficientes porque nem sempre ficamos presos às palavras", afirmou Merkel, reiterando o apelo por mudança nos tratados. Merkel afirmou que a Alemanha quer que todos os 27 países-membros da União Europeia – e não apenas os 17 que adotam o euro – participem dos planos para aumentar a integração fiscal.

A chanceler alemã afirmou que a moeda europeia tornou os países da zona do euro mais fortes desde sua criação, mas alertou que falhas na sua criação, como a supervisão orçamentária e as práticas concorrenciais nos diferentes países, precisam ser enfrentadas.

A França e a Alemanha apresentaram esta semana uma proposta para alterar os tratados da UE, aumentando a fiscalização sobre orçamentos nacionais e impondo sanções automáticas contra aqueles países que descumprem os limites de déficit. Dependendo do que for alterado, serão necessários referendos populares em algumas nações. São explícitas as resistências a mudanças nos Parlamentos da Suécia, Holanda, Eslováquia e até de parte dos alemães. Finlândia, Portugal e Itália argumentam que aprovar as medidas tomaria muito tempo e manteria as incertezas que têm sido tão danosas.

Segundo Sarkozy, na qualidade de maiores economias do bloco, França e Alemanha têm mais obrigações que os outros e são obrigadas a trabalhar em conjunto. O presidente francês comentou também que sérios erros foram cometidos quando o euro foi implantado, porque alguns países não estavam prontos para entrar na união monetária e agora sofrem as consequências disso. "A menos que haja uma maior solidariedade e convergência, esses países vão continuar a sofrer", comentou.

Resultados

Os apelos dos líderes já estariam dando algum resultado. Um diplomata disse, no fim da noite de ontem, que a UE teria alcançado um acordo em princípio sobre regras fiscais mais rigorosas para fazer frente à crise da dívida na zona do euro. A fonte diplomática explicou, no entanto, que os detalhes do acordo e o "formato legal" ainda precisam ser desenvolvidos.

No entanto, a Alemanha rejeitou um rascunho de proposta divulgado ontem e que incluía a concessão de licença bancária ao Mecanismo Europeu de Estabi­lidade (ESM, pela sigla em inglês), disse uma fonte no governo alemão, para quem a Alemanha não é a favor de um ESM funcionando junto com o Fundo de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, nas iniciais em inglês).

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