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O jornalista norte-americano Norman Gall, diretor executivo do Instituto Fernand Braudel, é um observador atendo da economia mundial. Editor do periódico Braudel Papers desde 1987, ele tem analisado fenômenos econômicos e sociais que de alguma forma envolvem o Brasil. Em entrevista à Gazeta do Povo, Gall comenta sobre a origem da turbulência financeira e analisa que o principal risco para a economia brasileira está nas contas públicas.

Estamos vendo uma crise de confiança no sistema capitalista?

É uma crise de dúvida, uma crise de desconfiança. O mercado ficou tão complexo que os agentes financeiros não têm informações sobre a situação um do outro. Houve um exagero na concessão de crédito, com o uso de derivativos e muita alavancagem. Estavam sendo feitas dívidas para bancar o crédito e esse sistema ficou tão complexo que ninguém sabe direito quanto deve para o outro e como a conta será paga.

A ação do Estado é o último recurso para se restaurar a confiança no sistema?

A eficácia da intervenção do Estado é a grande questão da atualidade. O grau de intervenção pode crescer mais, mas não sabemos se o Estado tem a capacidade de impor a estabilidade. Ou seja, de restaurar a confiança que um tem para com o outro no mercado. As instituições estão com a capacidade de impor limites abaladas.

O Brasil está em situação melhor para suportar o estresse?

Se a crise se aprofundar, isso vai baixar a arrecadação do governo, que tem contas fixas altas. O governo contratou mais funcionários nos últimos anos, por exemplo. Há também o sistema de previdência, que custa muito para o Tesouro. Se a arrecadação cair, o Brasil terá dificuldades.

A saída é segurar os gastos?

Sim, porque o brasileiro não aceita mais a volta da inflação. No passado os governos usavam a inflação para compensar desequilíbrios nas contas. Hoje, seria uma derrota para o povo brasileiro.

Há o risco de um retrocesso na economia global?

Esse é um perigo real. Não tem como evitar um abalo. Se os governos não adotam soluções coerentes, haverá retrocesso. É necessário intervir para proteger a população. Se a indústria automotiva americana quebrar, por exemplo, haverá milhares de desempregados. É preciso dar algum tipo de proteção a essas pessoas neste momento.

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