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Análise

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Pelas regras do Banco Central, a ata do Copom só é divulgada oito dias depois do comunicado sobre a decisão do comitê. Ler o documento não é um exercício simples. Não só por causa do palavreado técnico – na verdade, há até algum esforço para traduzir o documento para o português corrente, perceptível pela presença da expressão "dito de outra forma..." em dois ou três pontos do texto. A questão é que os diretores do Banco Central não costumam dizer as coisas de forma direta, mas de um jeito que exige algum esforço para decifrar a intenção oculta por trás de cada frase.

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A leitura da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não deixou dúvidas para o mercado de que a ideia sobre o estoque de ajuste total de baixa da Selic está mantida, e tornou bastante claro também que o ciclo vai parar quando a taxa atingir 9%. Mas não há consenso entre os economistas sobre como isso ocorrerá – se com um único corte final de 0,75 ponto porcentual em abril, ou com reduções de 0,50 ponto e 0,25 ponto em abril e maio, respectivamente.No parágrafo 30 da ata, os diretores mencionam uma recomendação de "redistribuição temporal do ajuste total das condições monetárias como a estratégia mais apropriada"; e, no parágrafo 35, atestam que "o Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando" – o piso histórico da taxa é de 8,75%, em que permaneceu de julho de 2009 a março de 2010.

No Barclays Capital, o economista Guilherme Loureiro crê que a taxa básica será reduzida em 0,50 ponto e 0,25 ponto respectivamente e acrescenta que, pela sinalização da ata, é o ritmo da atividade que impedirá a Selic de retomar ou renovar o piso histórico. "Pelas quantidades de estímulos já aplicados, a atividade deve aquecer e trazer riscos para a inflação", avalia.

A LCA Consultores também avalia que é provável a redução da Selic voltar ao ritmo anterior e que não haverá reedição do corte incisivo da semana passada no próximo encontro, nos dias 17 e 18 de abril. "Continuamos a avaliar que o ajuste restante da taxa Selic será promovido com dois cortes adicionais: um de 50 pontos-base, em 18 de abril; e outro de 25 pontos-base, em 30 de maio", afirma a equipe de economistas da LCA em relatório. Mas os analistas da LCA não descartam a ideia de uma única redução de 0,75 ponto.

No Banco ABC Brasil, o economista-chefe, Luis Eduardo de Souza Leal, vê o corte único como mais provável. "Para a redistribuição ser realmente efetiva, seria razoável considerar que uma reunião fosse suprimida; já na segunda opção a defesa passa pela parte do 'neste momento' [parágrafo 30]. Será que o BC simplesmente aproveitou a 'janela de oportunidade' que havia 'neste momento'?", questiona.

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