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José Edson da Silva trabalha em uma fornecedora da Petrobras: salário mais que dobrou depois do curso de capacitação | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
José Edson da Silva trabalha em uma fornecedora da Petrobras: salário mais que dobrou depois do curso de capacitação| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Qualificação

Em alguns cursos, faltam interessados

Não é de hoje que o setor de petróleo e gás pena para encontrar profissionais qualificados. Tanto que a Petrobras, preocupada com a capacidade de seus fornecedores de atenderem às encomendas, começou a patrocinar um programa de qualificação bem antes da descoberta do pré-sal. Nos últimos quatro anos, o Prominp qualificou 78 mil trabalhadores de nível básico, médio, técnico e superior, dos quais 80% foram absorvidos pelo mercado, segundo estimativas da estatal. Para os próximos quatro anos, a meta é qualificar outras 207 mil pessoas.

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Motivos

Educação básica é solução mais eficaz

Os motivos para a escassez de trabalhadores qualificados variam conforme o setor. Dependendo da fonte, fala-se da má qualidade dos profissionais que saem das faculdades, da escassez ou da má formulação de cursos técnicos e programas públicos e até do aparente desinteresse dos jovens por certas profissões. Mas a origem do problema é muito mais profunda, avalia o professor de Economia Naercio Aquino Menezes Filho, da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). "A vasta maioria da população brasileira sai da escola sem saber fazer cálculos básicos e interpretar textos simples. Naturalmente, isso compromete todas as etapas posteriores."

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A empresa curitibana Fbits, que desenvolve softwares para comércio eletrônico, tem 60 funcionários e precisa de mais 12 programadores para dar conta das encomendas. E precisa com urgência – todas as páginas de seu site exibem em destaque a inscrição "estamos contratando", mensagem que é reforçada a cada instante no blog e no twitter da empresa. Mas nem assim tem sido fácil encontrar profissionais que atendam às exigências. "Quatro dessas vagas estão abertas há uns três meses, mas a dificuldade para preenchê-las é enorme", conta o diretor de operações, Tiago Girelli.A escassez de mão de obra qualificada é sentida há vários anos pelas empresas de tecnologia da informação (TI) – há 8 mil vagas apenas em Curitiba, segundo Mau­­ro Sorgenfrei, presidente da Assespro-PR, que representa o se­­tor. Com o reaquecimento da economia, a tendência é que o problema se espalhe por vários outros setores. A construção civil está entre os que já acusam a dificuldade, que também afeta pelo menos uma em cada quatro empresas industriais, conforme levantamento divulgado no fim de 2009 pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).Embora não existam números precisos sobre a necessidade de profissionais qualificados no país, algumas pesquisas dão indícios sobre a dimensão do problema. Son­­dagem realizada em 2007 pela Confederação Nacional da In­­dús­tria (CNI) já constatava que 56% das fábricas sofriam com a falta de mão de obra qualificada, em especial as de álcool, vestuário, máquinas e equipamentos e veículos. Apenas 30% das consultadas di­­ziam encontrar no mercado de tra­­balho profissionais com a especialização desejada; as 70% restantes tinham de capacitar os trabalhadores após a contratação.

A julgar pelas sondagens anuais da Fiep, o problema persiste. Aliás, até cresceu. Há dez anos, apenas 10% das empresas apontava "mão de obra não qualificada" como dificuldade para enfrentar a concorrência; hoje, o índice é de 25%. No levantamento mais re­­cente, 39% afirmam também que "faltam no estado mais e melhores instituições para a formação de mão de obra especializada", o que era apontado por 28% das consultadas em 1999.

Alertas sobre um possível "apagão" de profissionais capacitados tornaram-se mais frequentes a partir de meados da década, e chegaram a silenciar após o estouro da crise global. Nos últimos meses, no entanto, o assunto voltou à superfície, puxado por previsões que apontam para uma expansão econômica de até 6% em 2010 e, principalmente, pelo ciclo de investimentos esperado para os próximos anos. Um ciclo que deve ser alimentado por vários fatores, entre eles o aumento da massa de consumidores e salários, eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada e o desenvolvimento dos campos de petróleo do pré-sal. A questão, advertem especialistas, é que talvez não haja a quantidade suficiente de bons profissionais para atender à demanda prevista.

O Instituto de Pesquisa Eco­nômica Aplicada (Ipea), ligado ao governo federal, começou a estudar o assunto há poucos dias. "Os primeiros resultados devem sair em alguns meses. Por enquanto, ainda não podemos dizer se faltam ou não profissionais qualificados. O que temos vistos é que em algumas especialidades, bem técnicas, é provável que faltem", afirma Paulo Meyer Nascimento, técnico de pesquisa e planejamento do Ipea.

Para o economista Naercio Aquino Menezes Filho, professor da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), basta recorrer aos dados sobre o nível de educação da população – nos quais o Brasil perde feio para seus concorrentes – para se atestar que a qualificação já é um gargalo.

Dos jovens entre 25 e 29 anos, diz o economista, apenas 55% concluíram o ensino médio, porcentual que os Estados Unidos alcançaram há 60 anos. Em países como a Coreia do Sul – que tinha características semelhantes às do Brasil em meados do século passado – o índice atual chega a 95%. No ensino superior, a discrepância é ainda maior."Os principais determinantes do crescimento estão na adoção de novas tecnologias, que geram aumento de produtividade. Para adotá-las, as firmas precisam de trabalhadores mais qualificados. Conclui-se que as firmas americanas, coreanas, de Cingapura, de Taiwan têm muito mais condições de fazer isso do que as brasileiras", diz Menezes Filho. "Sem profissionais qualificados e sem condições de inovar, os empresários brasileiros continuarão dependendo de taxa de câmbio e juros. E é natural que isso acabe por limitar ou impedir o crescimento."

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