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Cedo demais: Boehner comemora a aprovação de seu plano, derrubado no Senado | Alex Wong/AFP
Cedo demais: Boehner comemora a aprovação de seu plano, derrubado no Senado| Foto: Alex Wong/AFP

Títulos do Reino Unido viram opção mais segura

As incertezas sobre a dívida dos Estados Unidos estão ampliando a busca dos investidores internacionais por títulos da Grã-Bretanha. A procura acontece porque os britânicos embarcaram num severo plano de austeridade fiscal e conseguiram afastar, por enquanto, o risco de rebaixamento do rating AAA. Entretanto, analistas apontam que os gilts (títulos de longo prazo emitidos em libras pelo BC britânico) não têm condições de absorver a extrema liquidez dos Treasuries norte-americanos – assim como nenhum outro ativo.

A demanda fez o rendimento dos gilts cair abaixo dos Treasuries pela primeira vez em cerca de dois anos. O yield dos títulos britânicos de dez anos chegou a 2,967%, taxa inferior a dos papéis norte-americanos, de 2,974%. Ou seja, os investidores estão exigindo rendimento menor dos gilts, numa indicação de que podem ser considerados mais protegidos neste momento.

Analistas são unânimes em afirmar que se trata de um movimento rumo à segurança. "É um fluxo de recursos para porto seguro", disse Charles Diebel, estrategista-chefe do Lloyds Bank. "A disputa em torno do teto da dívida dos EUA faz os gilts serem cada vez mais vistos como refúgio, então essa também é uma história que envolve o Reino Unido", afirmou Matthew Sherwood, economista global da Experian.

Para James Knightley, economista do banco ING, o preço dos gilts está subindo (com consequente queda do rendimento) porque existe um plano firme de austeridade em prática pelo governo. O Reino Unido conseguiu se livrar da ameaça da perda da nota AAA em razão da política de total austeridade do primeiro-ministro conservador David Cameron. Um mês depois da posse, o governo lançou um orçamento de emergência com aperto de US$ 65 bilhões por ano até 2015, o equivalente a 6% do PIB. O plano foi visto como o mais rigoroso desde o governo de Margaret Thatcher, no início dos anos 1980.

Agência Estado

Em poucos minutos, os senadores norte-americanos derrubaram dias de esforços dos deputados republicanos para superar parte das discordâncias internas. O projeto de lei apresentado pelo republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Represen­tantes dos Estados Unidos, para reduzir o déficit orçamentário e aumentar o teto da dívida norte-americana, foi aprovado pelos deputados, mas logo em seguida caiu no Senado, dominado pelos democratas.

A proposta de Boehner previa uma elevação de US$ 900 bilhões no limite de endividamento dos EUA (atualmente de US$ 14,3 trilhões), mas em contrapartida adotava medidas para cortar o déficit orçamentário do país em US$ 917 bilhões ao longo dos próximos 10 anos. O aumento no teto da dívida seria suficiente para satisfazer as necessidades de financiamento do governo até fevereiro ou março do ano que vem. A partir deste período, porém, tanto a Câmara quanto o Senado precisariam chegar a um novo acordo sobre o orçamento para que o limite de endividamento fosse elevado mais uma vez. O plano recebeu 218 votos a favor e 210 contra na Câmara – nenhum democrata foi favorável à legislação e 22 republicanos rejeitaram a proposta. No Senado, o projeto foi barrado por 59 votos a 41.

Plano alternativo

Na manhã de ontem, o líder da maioria no Senado norte-americano, o democrata Harry Reid, havia dito que tomaria uma atitude até o fim do dia sobre a proposta da casa para a dívida dos EUA, acrescentando ser esta, "provavelmente, nossa última chance de salvar a nação do calote". Reid tem um projeto de lei alternativo ao de Boehner – o democrata quer elevar o teto da dívida norte-americana em US$ 2,4 trilhões, ou o suficiente para suprir as demandas por financiamento até março de 2013.

Os líderes democratas planejam realizar procedimentos iniciais de votação do plano do Reid na passagem do sábado para o domingo, às 2 horas da madrugada (de Brasília), de acordo com o senador democrata Charles Schumer. Se a votação for bem sucedida, os primeiros procedimentos da votação final poderão ocorrer na terça-feira, dia 2 de agosto, o prazo final para o aumento do limite da dívida.

Twitter

O embate sobre a dívida dos EUA tomou ares de campanha ontem, com o presidente Barack Obama ecoando o candidato de 2008 e exortando o eleitor a "ligar, escrever e tuitar" para pressionar congressistas pelo fim do impasse. A transmutação – que incluiu divulgar, por sua conta de campanha no Twitter, o endereço eletrônico de todos os congressistas republicanos no site – veio no dia em que o democrata registrou seu pior índice de aprovação no rastreamento do Gallup: 40%.

Coincidência ou não, o presidente reativou sua base de campanha nas redes sociais, tida como corresponsável por seu triunfo em 2008. Ontem, a conta @BarackObama, mantida pela campanha de 2012, passou a tarde listando contatos de republicanos que os eleitores deveriam pressionar a ceder. A primeira mensagem foi enviada pelo próprio presidente, que assina com as iniciais "BO". "A hora de pôr o partido em primeiro plano acabou. Se você quer ver um acordo bipartidário, diga ao Congresso. Ligue. Mande e-mail. Tuíte", pediu aos seus seguidores.

O presidente ameaçava vetar o projeto republicano aprovado ontem na Câmara (e rejeitado no Senado), que, segundo Obama, apenas adia o problema. "Esse plano nos forçará a reviver essa crise em poucos meses, mantendo nossa economia cativa da politicagem de Washington outra vez", declarou o presidente mais cedo, em seu sexto pronunciamento em menos de um mês, entre entrevistas e discursos. "A solução para evitar o calote tem de ser bipartidária", avisou.

Na terça-feira, o governo deixa de poder tomar empréstimos, e, sem acordo para elevar o teto de endividamento, terá um rombo de US$ 135 bilhões no mês, estima-se. O Departamento do Tesouro não esclareceu quem levaria o calote – investidores externos com títulos do Tesouro ou pensionistas, servidores e outros –, enervando o mercado.

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