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Volume de água nos reservatórios de usinas como a de Furnas, em São José da Barra (MG), continua crítico, mas risco de racionamento de energia está afastado, por enquanto | Paulo Whitaker/Reuters
Volume de água nos reservatórios de usinas como a de Furnas, em São José da Barra (MG), continua crítico, mas risco de racionamento de energia está afastado, por enquanto| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Alta da tarifa para a indústria elimina desconto de Dilma

Agência Estado

Uma das principais bandeiras do governo Dilma Rousseff, a redução de 20% na tarifa de energia para a indústria concedida em janeiro de 2013 já estará completamente eliminada ao fim do mandato da presidente, segundo cálculos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Desde o início do ano, a energia elétrica ficou 7% mais cara para a indústria nacional, subindo para R$ 313,2 por megawatt-hora (MWh).

O valor é 144% mais alto do que a média paga pelo setor industrial nos Estados Unidos, por exemplo. Mas a expectativa é que possa atingir R$ 342,7/MWh em dezembro de 2014, 3,1% acima do registrado em dezembro de 2012, antes da redução na tarifa concedida pelo governo por meio da Medida Provisória 579.

"Quando entrar o regime de bandeiras tarifárias [sistema que repassará ao consumidor a partir do ano que vem os gastos do acionamento de usinas térmicas], o custo da energia para a indústria vai ficar ainda mais alto", alerta a especialista em Competitividade Industrial e Investimentos do Sistema Firjan, Tatiana Lauria.

A Firjan estima que os reajustes das tarifas se mantenham na casa dos 17% no ano que vem, o que resultaria num custo da energia de R$ 420,2/MWh para a indústria ao fim de 2015, com a entrada em vigor do sistema de bandeiras tarifárias. O cenário ainda é otimista, porque prevê condições climáticas e hidrológicas favoráveis, que permitam um baixo acionamento das térmicas. Ou seja, apesar dos esforços do governo para aumentar a competitividade da indústria nacional, a energia elétrica ainda estará 59,8% mais cara ao fim do ano que vem, em relação a janeiro de 2013, quando foi concedido o desconto.

Segundo Tatiana, como o custo está muito acima do patamar internacional, há risco de que o país perca indústrias intensivas em energia. "Ela pode preferir produzir em outro local", diz.

Pressão

Crise também afeta as geradoras, que operam com risco

Até agora, a crise do setor elétrico afetou principalmente as distribuidoras, mas a situação é delicada também para as companhias que geram energia hidrelétrica. Diante da falta de chuvas e da tentativa de preservar os reservatórios – que precisam de dois bons períodos chuvosos para voltar ao nível considerado satisfatório –, algumas companhias estão comprando energia no mercado livre para atender à demanda e honrar seus contratos. Um custo estimado em R$ 1 bilhão por mês, segundo o consultor Erik Eduardo Rego, da Excelência Energética.

Por enquanto, essa diferença tem sido absorvida pelas empresas, que até já sinalizaram pedir ajuda ao governo. Em troca, receberam uma negativa. "O governo está tratando como risco financeiro do negócio e não deve se preocupar enquanto as empresas continuarem absorvendo o custo e honrando seus compromissos. Além disso, não há inadimplência significativa na área de geração, mas a situação pode se complicar", diz Rego. "O setor vive uma situação em que está todo mundo perdendo: o governo, as distribuidoras, as geradoras, o consumidor. É sinal de que algo está errado", afirma Rego.

Risco iminente

Embora as geradoras de energia térmica sejam beneficiadas com a crise do setor, elas também estão correndo um risco grande. Projetadas para operar pontualmente, as usinas térmicas são acionadas constantemente desde o último trimestre de 2012, praticamente sem pausas para manutenção. O risco operacional de quebra, neste caso, aumenta dia após dia.

As chuvas intensas das últimas semanas na Região Sul afastaram o risco de racionamento neste ano, mas não amenizam a crise financeira do setor elétrico. O rombo das distribuidoras deve passar de R$ 30 bilhões até o final deste ano e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já fala em um novo empréstimo para socorrer as empresas. A nova previsão é de que sejam aportados até R$ 3 bilhões para cobrir os gastos com a energia que as distribuidoras não conseguiram contratar nos leilões oficiais (15% da demanda, em média) e com o acionamento das térmicas a partir de junho.

INFOGRÁFICO: Acompanhe o nível dos reservatórios

A bola de neve que deixou o setor no vermelho começou no início de 2013, quando o governo negociou com algumas empresas a antecipação dos contratos de concessão que venceriam entre 2015 e 2017 com o objetivo de baixar a tarifa de energia em quase 20%.

O problema é que isso aconteceu no momento em que o custo da energia começou a subir por causa do acionamento das usinas térmicas, pressionando o caixa das distribuidoras. Com a sinalização de uma energia mais barata, o consumidor passou a consumir mais.

Desde então, o governo passou a socorrer as distribuidoras com aportes do Tesouro Nacional. Em 2013, foram R$ 10 bilhões para compensar o custo das térmicas, que geram uma energia mais cara. Neste ano, só até abril foram quase 14 bilhões – R$ 11,2 bilhões via empréstimo com dez bancos. O problema se agrava na medida em que a maioria das distribuidoras que já teve reajuste neste ano não conseguiu repassar na tarifa o custo da energia comprada nos leilões oficiais, por exemplo.

Sem campanha

"O governo continua evitando uma política de racionamento do consumo. Ao fazer esse tipo de aposta, está depreciando os reservatórios e empurrando o risco para 2015, quando campanhas de economia de energia podem não surtir efeito", diz o diretor executivo da Excelência Energética, Erik Eduardo Rego.

Além disso, o rombo do setor é real e desconfortável, afirma Luciano Losekann, do Grupo de Economia de Energia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "O governo imaginou que, após o empréstimo e o leilão, as empresas poderiam gerir os custos sem maiores problemas, mas isso não está acontecendo", afirma.

Diante da ameaça das distribuidoras de pedir uma revisão extraordinária das tarifas, o governo planeja novos recursos para aliviar o caixa das empresas. A revisão extraordinária é um mecanismo previsto no contrato de concessão quando há aumento dos custos não gerenciáveis das empresas e teria impacto direto na tarifa de energia.

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