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Bancos americanos recebem mais US$ 2 bilhões do Fed

São Paulo – O Federal Reserve (Fed, o BC americano) injetou ontem US$ 2 bilhões no sistema bancário, em mais uma operação de curto prazo para reforçar a liquidez (oferta de dinheiro) dos bancos comerciais americanos.

Com a intervenção de ontem, o banco central americano já colocou à disposição do sistema bancário mais de US$ 132 bilhões desde o dia 9, quando o Fed começou a reforçar as reservas das instituições bancárias do país. Na segunda-feira, o banco já havia feito mais uma operação de curto prazo para oferecer US$ 9,5 bilhões.

O Fed passou a intervir no mercado com injeções de recursos devido ao aumento do temor de que pudesse haver uma corrida aos bancos para saques de clientes com os desdobramentos da crise causada pela inadimplência nas hipotecas de risco no país. A atual onda de incertezas começou no último dia 9, quando o banco francês BNP Paribas congelou os resgates em três fundos alegando dificuldade de calcular a exposição desses fundos a investimentos ligados a essas hipotecas de risco.

O banco também reduziu sua taxa de redesconto (usada pelo Fed para conceder empréstimos de curto prazo a instituições com escassez temporária de liquidez causada por problemas internos ou externos) no último dia 17, o que trouxe alguma tranqüilidade aos mercados financeiros, mas a expectativa é que o banco venha a se reunir antes do próximo encontro oficial (programada para 18 de setembro) e que reduza desta vez a taxa básica de juros, a dos fundos federais (a principal da política monetária americana), hoje em 5,25% ao ano.

O Fed já considerava, na reunião do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês equivalente ao Copom no Brasil) realizada no dia 7 deste mês, ter de agir sobre suas taxas de juros se a crise nas hipotecas de risco no país colocassem em xeque a economia americana, segundo a ata da reunião, divulgada ontem. "Uma nova deterioração nas condições financeiras não pode ser descartada e, na medida em que um tal desenvolvimento pode ter um efeito adverso nas perspectivas de crescimento, isso pode exigir uma resposta", diz o documento – que não especifica que resposta seria essa.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não resistiu à leva de notícias negativas dos Estados Unidos (EUA) e fechou o pregão de ontem em forte queda de 2,7%, devolvendo parte da valorização de 10,5% acumulada ao longo de sete sessões seguidas de alta. O dólar comercial, por sua vez, chegou ao fim do dia valendo pouco mais de R$ 2, com alta de 2,6%. O motivo para o nervosismo dos mercados foi o mesmo que vem pressionando as cotações desde o início do mês: a crise do setor imobiliário norte-americano.

"Tivemos sete dias consecutivos de alta. Como os rumores sobre os EUA começaram já pela manhã, muitos investidores aproveitaram o dia para vender ações e embolsar os ganhos dos últimos pregões", disse João Carlos Becher, gerente da mesa de operações da Petra Corretora em Curitiba. Segundo ele, é possível que o mercado inicie a sessão de hoje sob pressão, já que encerrou o pregão de ontem perto do menor nível do dia.

Rogério Garrido, diretor da Investir Consultores Financeiros, de Curitiba, prevê que os próximos dias terão mais turbulência, por conta da divulgação de uma série de indicadores relativos à economia dos EUA. "Há indícios de que a atividade imobiliária americana continua fraca e a economia em acomodação. Por isso, a volatilidade continuará por um bom tempo, até o mercado ter certeza de que a crise financeira não terá tanto impacto sobre a economia real", avalia Garrido. "E o mercado brasileiro tem apresentado sintomas pouco saudáveis. Ele saiu da euforia para o medo. Qualquer número bom o faz subir, qualquer número ruim o derruba."

Nesta semana, saem vários indicadores sobre emprego e índices de inflação nos EUA, que, se indicarem desaquecimento da economia, podem piorar o humor das bolsas. Enquanto o pessimismo reinar lá fora, dificilmente haverá dado positivo dentro do Brasil que anime a Bovespa.

Dados divulgados ontem renovaram a preocupação sobre o setor de construção civil dos EUA. O preço das residências caiu 3,2% no segundo trimestre, a maior queda desde 1987. Além disso, a agência de classificação de risco Merril Lynch reduziu sua recomendação para ações de bancos de investimento que tenham operações com créditos imobiliários do tipo "subprime", que têm alto risco.

Com o nível alarmante dos calotes do subprime nos EUA, bancos de todo o mundo que tinham ativos atrelados a esses créditos foram prejudicados – o que vem causando fortes tremores nos mercados desde o início do mês. Para piorar, a confiança do consumidor norte-americano caiu ao menor nível desde 2005. A informação é preocupante porque o consumo responde por dois terços da atividade econômica do país.

Esses dados pressionaram as bolsas norte-americanas e a Bovespa logo no início do dia, e a divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, reforçou o pessimismo. Embora tenha reconhecido que a crise do mercado financeiro pode afetar a economia, o Fed sinalizou que dará mais ênfase ao controle da inflação – ou seja, a instituição pode não cortar a taxa básica de juros na intensidade em que se esperava.

A reunião do Fed foi realizada no dia 7, antes de a crise piorar, mas mesmo assim os investidores receberam mal o recado da ata. No entanto, persiste a expectativa de que, em sua próxima reunião, em 18 de setembro, o Fed reduza os juros – hoje em 5,25% ao ano – para impedir uma recessão.

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