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Diferente do que aconteceu com o setor calçadista brasileiro, que teve seus pólos brasileiros dizimados, os pólos têxtil e de louças no Paraná, os mais ameaçados pelos chineses, ainda resistem. No setor calçadista, só para se ter uma idéia do estrago chinês, dezenas de fábricas brasileiras foram fechadas e nos dois maiores pólos, Franca, em São Paulo, e Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, houve perda de 7 e 30 mil empregos, respectivamente.

A indústria de louças paranaense conta com as duas maiores fábricas da América Latina, Germer e Schmidt, e conseguiu se adaptar à entrada dos chineses. Para o presidente do Sindicato das empresas de porcelanas e cerâmicas do Paraná (Sindilouça), José Canisso, o golpe chinês foi sentido há cerca de 5 anos, e a indústria já conseguiu se adequar. "Chegamos a achar que íriamos quebrar, principalmente no segmento ‘on the table’, formado de louças para uso doméstico, pois a China entrou com produtos muito baratos, mas de qualidade inferior." Para resistir à concorrência a indústria se modernizou, reduziu custos, com a diminuição do tempo de queima, por exemplo, e recuperou mercado, principalmente o de exportação. "Nos Estados Unidos e na Europa hoje concorremos em igualdade de condições dada a exigência reguladora no mercado, que limita a entrada dos produtos chineses", diz Canisso. Ele acrescenta que os maiores problemas com a concorrência desleal estão no mercado interno. "Mas, por outro lado, o consumidor brasileiro acaba comprando o produto chinês uma só vez, por causa da baixa qualidade", completa.

Já o setor têxtil e de vestuário, não parece tão otimista. Para Ardisson Akel, dono da Cia da Roupa, de Curitiba, tudo o que empresário paranaense fizer para se defender vai ser pouco. "Temos plataformas diferentes. No Brasil, o custo de produção é muito alto, temos alta tributação e financiamentos caros", analisa. " O meu preço não é competitivo, a não ser que eu venda para um mercado de luxo", completa. Para Akel, o único caminho do empresariado brasileiro é usar a critiavidade, seja copiando o modelo da novela, ou investindo em design. "Hoje as principais grifes do mundo já estão produzindo na China e mandando para lá o know-how".

Akel espera que o governo também ajude. "O caminho certo para não sermos engolidos pela China são as reformas: tributária, trabalhista, previdenciária, e a redução da burocracia. Além de incentivos de modernização da indústria, com redução de taxa de juros e de impostos de importação. Nós continuamos investindo mas a diferença entre a exportação brasileira para a China e a importação ainda é muito desproporcional", conclui.

Apesar da agressividade dos chineses nos negócios, o poló têxtil e de confecções paranaense, nas cidades de Maringá, Cianorte (Noroeste), Londrina e Apucarana (Norte), ainda não sentiu reflexos extremos da concorrência chinesa, como demissões e fechamento de fábricas. O setor, com 650 empresas que empregam cerca de 35 mil pessoas, nas quatro cidades, ainda apresenta crescimento. "A concorrência chinesa sempre incomoda, mas com o maior controle da Receita Federal, que coíbe o contrabando e o novo acordo de cotas de importação acreditamos que o preço da mercadoria vai subir. Já subiu em alguns casos", analisa Antônio Recco, presidente do Sindivest, sindicato das empresas do setor. "Além do mais, nossos produtos têm maior valor agregado e o consumidor brasileiro gosta disso", conclui.

A grande ameaça para a indústria paranaense, no entanto, é que os chineses já mostram que se preparam para concorrer com produtos de melhor qualidade. "A tendência é essa: primeiro eles entram com produtos de baixa qualidade. Depois adquirem conhecimento e tecnologia e começam a concorrer com os produtos de maior valor agregado, e sempre puxando o emprego para lá", diz Germano Vieira, do Centro Internacional de Negócios da Fiep. "É preciso ficar de olhos bem abertos", ironiza. (ML)

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