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Um site para homens que gostam de moda. | DANIEL DORSA/
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Um site para homens que gostam de moda.| Foto: DANIEL DORSA/ NYT

Um homem à procura de uma bota de camurça com franjas é um homem possuído. Teve uma visão, foi atrás dela até os confins da terra… e finalmente a encontrou no Grailed.

Aonde um fã da moda — um fanático com tempo para gastar e dinheiro para torrar (caso o valor não seja o do varejo) — teria que ir para encontrar os itens que cultua e que são difíceis de achar, ou seja, seus cálices sagrados?

O Grailed, uma plataforma de compras que vende e troca roupas e acessórios, foi criado em 2013 por Arun Gupta, Jake Metzger e Julian Connor para ser esse lugar, um tipo de Mercado Livre especializado no mundo hype.

Entre seus fãs estão Virgil Abloh, o novo diretor artístico masculino da Louis Vuitton, e Matthew Williams, o diretor criativo da Alyx.

A promessa do Grailed, que cobra uma comissão de 6% sobre as vendas entre os membros (mais as taxas do PayPal), atrai não só clientes e fãs; está também chamando a atenção do capital de risco, como outros companheiros da chamada indústria do recomércio. O investimento na empresa ainda é menor do que em outros revendedores on-line, como o RealReal, Vestiaire Collective e Poshmark, mas o foco masculino do Grailed o destaca.

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Em maio, o site fechou uma rodada de investimento de US$ 15 milhões liderada pela Index Ventures, a empresa de risco que tem ações da Net-a-Porter, Farfetch, ASOS e do site de tênis Goat. A Thrive Capital e a Simon Ventures, que entraram em rodadas de investimento anteriores com um total de US$ 4,1 milhões, também participaram da mais recente.

“A razão pela qual o Grailed está indo tão bem e crescendo naturalmente é que há essa necessidade incrível, principalmente da parte dos millenials, de se conectar com esses itens de vestuário cultuados. Você percebe isso na maneira em que a comunidade responde ao que eles estão fazendo. Na verdade, o que queremos é reconhecer essa iniciativa”, disse Danny Rimer, da Index Ventures. 

Desde a sua criação, o Grailed se tornou um movimentado centro de artigos de grife, onde peças vintage das passarelas de Paris de Raf Simons e Comme des Garçons estão em pé de igualdade com as da Supreme e da Off-White, itens mais cobiçados do momento e símbolos de status inesquecíveis que há muito desapareceram das prateleiras.

Centenas de milhares de pessoas visitam o Grailed e seu aplicativo por mês, com 11 milhões de visualizações em maio, de acordo com a comScore, que mede o tráfego online. (Os números do próprio Grailed sugerem que os usuários e as visualizações são maiores.) No ano passado, o site foi rentável pela primeira vez, de acordo com a empresa.

Origem

Da esquerda: Jake Metzg­er, Arun Gupta e Julia­n Conno­r, no terraço do escritório do Grailed, em Nova York.
DANIEL DORSA/ NYT

Gupta, o executivo-chefe de 29 anos, teve a ideia de Grailed quando tinha 20 e poucos e começava o que chamou de “viagem pela moda” online. (Isso acabou levando-o ao mocassim de camurça FBT Bearfoot Pizi-folk da Visvim, etiqueta de moda japonesa, o qual, depois de anos de pesquisa, encontrou e comprou no Grailed.)

“Naquela época, era 2013, mesmo antes, os homens não podiam falar sobre moda na vida real. Não era como as mulheres, que contam às amigas o que estão comprando e vão às compras juntas. Foi aí que essas comunidades que falam sobre moda acabaram se desenvolvendo na internet.”

Ele frequentou assiduamente fóruns como o Styleforum, o Superfuture e threads do Reddit, onde pessoas obsessivas debatiam os méritos de coleções, faziam trocas e vendiam peças. Aos 19 anos, Gupta, programador autodidata e veterano de startups, sentiu que poderia construir uma interface melhor para aquelas vendas.

E foi isso que fez. Seu amigo Metzger, de 31 anos, juntou-se a ele para lidar com marketing e branding; Connor, 29 anos, acabou entrando como diretor de tecnologia.

O Grailed é agora um lugar confiável para encontrar aquela obsessão antiga ou recente, onde a resistência do produto vintage encontra um mercado apaixonado e em desenvolvimento.

A força e a fraqueza do Grailed

A maioria das listas do site é gerada pelo usuário, por isso a comunidade, que é a força do Grailed, é também sua fraqueza. O site quase não atua (a exceção são os casos em que criou o conteúdo editorial em torno das peças, como o anual Grailed 100, uma coletânea de peças influentes), e comprar nele não é a experiência descomplicada que, graças a muitos varejistas de comércio eletrônico, o cliente espera.

Os usuários descrevem e dão a marca de seus próprios produtos, portanto encontrar artigos específicos pode exigir uma longa pesquisa pelo site. As fotos são de qualidade variada, desde profissionais até as de má qualidade. As negociações de preços podem ser complicadas; as taxas de entrega, determinadas na hora, podem ser elevadas.

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Eugene Rabkin, fundador do fórum de moda StyleZeitgeist, criticou a plataforma por retirar os estilistas do mercado primário, e ao fazê-lo, prejudicar os independentes. O Grailed afirma que o processo é uma deferência aos criadores, garantindo exposição e demanda crescente.

Williams, da Alyx, não expressou preocupação. “Eu realmente não me importo com a geração de lucro dessa forma. Se ganharmos o suficiente para nosso sustento, para o desenvolvimento de nossas ideias, então já estou satisfeito.”

O Grailed é o centro do tipo de consumidor para o qual ele produz. “Você está realmente falando com o cliente real. E o futuro também.”

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