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Só 33% das grandes varejistas divulgam estratégias sustentáveis
| Foto: Bigstock

O Índice de Transparência da Moda Brasil de 2019, divulgado em dezembro com uma análise sobre políticas, práticas e impactos ambientais de 30 grandes varejistas, mostrou que apenas 33% publicam uma estratégia ou roteiro para gestão sustentável de materiais. Do total, somente 17% divulgam o percentual do volume anual de produtos fabricados usando materiais mais sustentáveis, mesmo número das que publicam suas pegadas de carbono e das pegadas hídricas.

O índice, desenvolvido em 2018 pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas a pedido do Instituto Fashion Revolution Brasil, se baseia em padrões e referências internacionais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O objetivo principal do levantamento é buscar a transparência na indústria da moda, de modo que o consumidor possa saber como as peças são produzidas, por quem e a qual custo ambiental.

No Brasil, das 30 marcas selecionadas, o ranking com as maiores pontuações é formado pela C&A, Malwee, Renner, Osklen e Havaianas. Por outro lado, 13 das grandes varejistas nacionais (43%) não publicaram informação alguma sobre o tema de sustentabilidade social e ambiental: Brooksfield, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Colcci, Colombo, Dumond, John John, Le Lis Blanc, Leader, Lojas Avenida, Moleca, Olympikus e TNG. “É importante observar que não estamos avaliando o desempenho ético ou de sustentabilidade das marcas, mas sim quantas informações elas divulgam publicamente sobre aspectos de direitos humanos em sua produção e em sua cadeia, assim como sobre políticas, práticas e impactos ambientais”, diz o relatório.

Fashion Revolution

O levantamento nacional segue os mesmos preceitos que o do movimento global Fashion Revolution, criado na sequência da tragédia de Dakha, capital de Bangladesh – em 24 de abril de 2013, o edifício Rana Plaza desabou, levando à morte cerca de 1,1 mil pessoas que trabalhavam em várias confecções que produziam para marcas do mundo todo. Outras 2,5 mil pessoas ficaram gravemente feridas. “Foi trágico, um acidente que vitimou principalmente mulheres, que trabalhavam nas indústrias têxteis que respondiam à voracidade do mundo consumista da moda. As marcas começaram a ser procuradas para contar quem são seus trabalhadores, quem faz parte da cadeia produtiva, e se há remuneração adequada”, conta Aline Bussi, consultora de moda e representante local do Fashion Revolution.

O índice global de transparência do Fashion Revolution analisou 200 das maiores marcas e revendedores mundiais em 2019. As pontuações mais altas ficaram com Adidas, Reebok, Patagonia, Espirit e H&M. Do total, apenas cinco (2,5%) não publicaram informação alguma sobre suas políticas de produção e comércio: Youngor, Jessica Simpson, Mexx, Elie Tahari e Tom Ford.

Segundo Aline, a movimentação da indústria da moda em atuar seguindo os parâmetros dos ODS é cada vez maior. Das 17 metas estipuladas pelas Nações Unidas na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, o movimento Fashion Revolution avalia como a indústria da moda se comporta em relação a 4 delas: ODS 5 (igualdade de gênero); ODS 8 (trabalho decente e crescimento econômico); ODS 12 (consumo e produção responsáveis) e ODS 13 (ação contra mudança global do clima).

Poluição

A demanda por transparência na indústria da moda jogou luzes sobre um efeito perverso da indústria da moda: segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), cerca de 93 bilhões de metros cúbicos de água são usados pela indústria da moda a cada ano – o suficiente para abastecer 5 milhões de pessoas. O setor responde por cerca de 8% a 10% das emissões globais de gás-estufa, mais do que a aviação e o transporte marítimo juntos, e por 500 mil toneladas de microfibra dispensadas nos oceanos.

Para tentar reverter esse quadro, a ONU lançou em março de 2019 a Aliança da ONU pela Moda Sustentável. Buscando influenciadores e sensibilizando produtores, o objetivo é mostrar que “mais é menos”. Um dos objetivos é reduzir o modelo de “fast fashion”, em que as roupas são descartadas com pouco uso.

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