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zona do euro

Socorro alivia, mas não “cura” crise na Grécia

Autorizado na terça-feira, segundo empréstimo dá fôlego para o país honrar dívidas, mas recuperação deve demorar mais de uma década. Efeitos sobre o Brasil são amenos

Protestantes se reuniram ontem para uma nova manifestação contra as medidas de austeridade aprovadas pelo Parlamento | Yiorgos Karahalis/Reuters
Protestantes se reuniram ontem para uma nova manifestação contra as medidas de austeridade aprovadas pelo Parlamento (Foto: Yiorgos Karahalis/Reuters)
Relembre no infográfico os fatos que levaram a Grécia a essa situação de endividamento |

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Relembre no infográfico os fatos que levaram a Grécia a essa situação de endividamento

Os 130 bilhões de euros do segundo pacote de socorro à Grécia e o corte de 53,5% no valor nominal da dívida grega detida pelo setor privado – de aproximadamente 206 bilhões de euros – vão ajudar no pagamento da próxima parcela da dívida, de 14,5 bilhões de euros, em 20 de março. Mas não põem fim à crise. Analistas dizem que, a exemplo do que ocorreu no primeiro empréstimo, de 110 bilhões de euros, feito em maio de 2010, este segundo aporte representa apenas uma trégua nas incertezas do mercado mundial sobre o futuro do país.

Dificilmente a Grécia conseguirá reduzir o seu déficit dos atuais 160% do Produto Interno Bruto (PIB) para 120,5% até 2020, conforme acordado com credores e líderes europeus. A recuperação da Grécia, que tem gastado uma média de 10% a mais do que arrecada nos últimos anos, "deve levar uma década ou duas", segundo o novo presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), Werner Hoyer. Isso se tudo der certo.

As medidas de austeridade adotadas até agora são extremamente impopulares e castigam a população. Quase 21% dos gregos estão desempregados, metade deles é jovem. Uma nova legislação, que contém as medidas anunciadas nesta semana, em um total de 80 itens, deve ser votada hoje pelo Parlamento grego.

É difícil saber o limite político do país para ações como o corte de 30 mil funcionários públicos, a redução de pensões e o aumento de impostos. Mas parece não haver outro caminho – ao menos não para um membro da União Europeia (UE) – para um início de recuperação que não o arrocho dos gastos e salários. E que arrocho: quem hoje recebe mil euros mensais na Grécia ganhará 750 euros em 2014, 25% a menos, sem contar a pressão da inflação sobre o salário.

"Em uma situação comum, de um país ‘independente’, a solução mais rápida seria a ‘monetização da dívida’, ou seja, a emissão de moeda para o pagamento dos débitos, além da desvalorização do câmbio para recuperar a competitividade do país. No caso da Grécia, esse poder está nas mãos do Banco Central Europeu (BCE), que até agora nem cogitou a possibilidade, mesmo com as condições para isso, com a Europa caminhando para uma deflação, por questões políticas", avalia Marcos Tadeu Caputi Lélis, professor da Unisinos e coordenador de Inteligência Co­­mercial e Competitiva da Apex Brasil, órgão responsável pela promoção das exportações nacionais.

Lélis acredita que os pacotes servem apenas para "empurrar com a barriga" o problema da Grécia, e que duas soluções polêmicas – a saída do país da zona do euro e da UE e o calote da dívida – ganharão espaço nos próximos meses, porque a Grécia não deve conseguir pagar seus débitos apenas economizando. "O nível de atividade do país, medido pelo PIB, já caiu 13% desde 2007 e já há uma previsão de que cairá 4% neste ano. Com isso, a arrecadação também deve cair", prevê. A recessão no país, que entra no quinto ano, elevou a previsão de déficit em 2012 de 5,4% para 6,7% do PIB, segundo o esboço do projeto que será apreciado pelo Parlamento.

O economista Bruno Lavieri, da Tendências Consultoria, diz que a saída da Grécia do bloco traria efeitos mais negativos ao país que a realização de um ajuste austero, mesmo que longo e profundo como o que vem sendo proposto. "Uma saída assim nem está prevista pela UE, e geraria uma série de efeitos negativos em setores importantes para o país, como o turismo."

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