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Amigos do HC conta hoje com 21 funcionários remunerados: R$ 1,14 milhão em repasses no ano passado, o dobro de 2008 | Valterci Santos/ Gazeta do Povo
Amigos do HC conta hoje com 21 funcionários remunerados: R$ 1,14 milhão em repasses no ano passado, o dobro de 2008| Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo

De boas intenções a Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas (AAHC) esteve cheia desde sua fundação, em 1986. Mas, como tantas outras organizações não governamentais, ela precisava arrecadar mais dinheiro – e aplicá-lo melhor. A solução que os "amigos do HC" encontraram foi copiar a iniciativa privada naquilo que ela faz melhor, ou seja, na administração racional de recursos. O "choque de profissionalismo" parece ter funcionado. A associação, que há alguns anos mais parecia um paciente terminal, conseguiu sair do vermelho e se dedicar mais à razão de sua existência, aumentando significativamente os repasses ao hospital público ligado à Universidade Federal do Paraná.

A transformação começou com a posse de Maria Elisa Ferraz Paciornik na presidência da AAHC, em 2006. Na época, a entidade tinha dívidas que beiravam os R$ 300 mil e uma atuação dispersa, com recursos geridos por dezenas de comissões de voluntários, cada uma agindo conforme seus próprios critérios.

Advogada com ampla experiência no setor público municipal e ex-secretária estadual da Administração, Maria Elisa se cercou de bons profissionais para colocar a casa em ordem. Sua equipe organizou a associação em departamentos – financeiro, recursos humanos, marketing e outros –, criou mecanismos para acompanhar de perto o fluxo de dinheiro, renegociou contratos. Eventos como desfiles e shows passaram a ser realizados apenas com a certeza de que dariam lucro. A equipe de telemarketing foi reduzida ao essencial, mas, por outro lado, profissionais foram contratados para trabalhar em todas as outras áreas. A formação de uma equipe remunerada, hoje com 21 pessoas, é tida como uma das marcas da virada de rumo da AAHC.

"Os voluntários são pessoas de grande coração, mas eles vão até certo ponto. Se uma ONG não tiver uma equipe profissional, cedo ou tarde vai empacar", diz Maria Elisa, que deixou a presidência em 2009 e hoje é assessora de relações institucionais da AAHC. Sem profissionais, explica, a associação teria dificuldades para elaborar projetos e concorrer aos recursos "sociais" distribuídos periodicamente por empresas, fundações, Varas Criminais e conselhos da criança e do adolescente. Em 2009, essa forma de captação, antes ignorada, tornou-se a principal fonte de recursos da AAHC – somou R$ 548 mil, frente aos R$ 399 mil angariados via telemarketing.

A reorganização interna também facilitou a identificação e o atendimento das prioridades do HC, processo que antes era um tanto desordenado. As carências do hospital – que é o maior do Paraná e faz em média 61 mil atendimentos por mês, de 59 especialidades diferentes – parecem infinitas e só aumentam. Mas a lista de doações também cresce. No ano passado, a associação repassou ao hospital o equivalente a R$ 1,14 milhão em equipamentos e serviços, quase o dobro de 2008. Na lista de doações há desde um lote de 800 agulhas descartáveis até dois leitos completos para a UTI adulta, passando por fraldas, microcomputadores, desfibriladores, aparelhos de ultrassom, medicamentos, móveis e outros.

Incluindo na conta os valores obtidos por meio de emendas parlamentares, os repasses intermediados pela AAHC nos dois últimos anos somaram R$ 3,812 milhões, 44% a mais que os do período 2006-2007. É pouco, perto do orçamento do HC, que ronda os R$ 100 milhões por ano, e do déficit do hospital, de aproximadamente R$ 1 milhão por mês. Mas não deixa de ser um alívio.

"Quando você profissionaliza, passa a ver resultados, e não só boas intenções. O que é imprescindível, ainda mais quando se está lidando com o dinheiro de pessoas que acreditam em sua causa", ensina Dinorah Botto Portugal Nogara, secretária de Administração de Curitiba, que foi diretora-executiva da AAHC entre 2007 e 2009.

Hoje, a associação se aproxima da autossustentabilidade. Quase todo o custeio é coberto pela taxa de administração (10% de cada doação são retidos) e pelas receitas de sua renovada butique. Em sete meses de 2010, a loja de roupas e acessórios já faturou quase R$ 56 mil, igualando as receitas de todo o ano passado.

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