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Visitantes de uma das mostras temporárias do Computerspiele Museum, em Berlim: emoções de antigamente | Gregor Baumann/Computerspiele Museum Berlin
Visitantes de uma das mostras temporárias do Computerspiele Museum, em Berlim: emoções de antigamente| Foto: Gregor Baumann/Computerspiele Museum Berlin

Quem foi o primeiro?

Há vários programas e dispositivos apontados como o "primeiro videogame" – de um simulador de mísseis de 1947 a um joguinho de tênis, de 1958 (o Tennis for Two, na foto, em uma exibição da época). As primeiras ver­­sões comerciais, entretanto, só vieram nos anos 1970.

1971 – Computer Space foi o primeiro game ser lançado. Funcionava com moedas, no sistema mais tarde popularizado pelos fliperamas.

1972 – O Pong chega ao mercado, também no estilo fliperama. No mesmo ano chega às lojas americanas o Magnavox Odissey, primeiro game doméstico.

1977 – Chegam ao mercado os consoles de segunda geração, liderados pelofabricante Atari.

1978 – Lançamento de Space Invaders.

1980 – É o auge da geração de arcades, jogados em máquinas específicas, nos fliperamas. Pac Man chega ao mercado.

1983 – Estreia de Mario Bros.

1987 – Metal Gear chega às lojas, para os consoles Nintendo. Street Fighter é lançado.

1994 – Sony PlayStation e outros consoles inauguram a era dos jogos 32-bits.

2001 – Halo, para o console Xbox, da Microsoft, chega às lojas.

2006 – O console Wii, da Nintendo, agrega detector de movimento ao controle do game, trazendo uma nova tendência para o mercado.

Aos dez anos de idade, Andreas Lange jogava Pong – como várias outras crianças que tinham dez anos de idade em 1977. Era a primeira vez que ele jogava videogame. Era a primeira vez que qualquer criança jogava videogame, porque o videogame tinha acabado de nascer.Pong (ou Telejogo para os brasileiros), marca a fundação do game comercial. Ele surgiu em 1972, co­­mo fliperama e, três anos depois, virou Home Pong – assim nascia o videogame doméstico e o conceito de console. Dois anos mais tarde, Lange se divertia com um dos muitos clones de Pong, em um console ligado à tevê e dois controles com botões redondos que podiam ser girados e comandavam, na tela, duas barrinhas às voltas com uma bolinha indo daqui para lá.Dali para frente, Lange continuou jogando, como quase todas as crianças. "Eu cresci na Alema­­nha Ocidental, onde jogos de computador e videogames eram facilmente acessíveis."

Numa cidade perto de Frank­furt, o menino passou a infância acompanhando ao vivo, como qua­­se todas as crianças da época, a história do videogame. Mas ele não poderia prever que, diferentemente das outras crianças, vinte anos depois o trabalho dele seria preservar essa história. "Definitivamente eu nunca imaginei isso", enfatiza.

"Ao conquistar as salas de estar no meio dos anos 1970, os jogos de computador mudaram permanentemente a nossa percepção da tecnologia da computação", diz o site do Museu do Videogame, que Lange dirige.

Na hora de escolher o que estudaria na faculdade, Lange tomou caminhos bem pouco digitais: cursou teoria da religião e dramaturgia na Freie Universität, em Berlim. Foi só na hora de decidir qual seria o tema de seu trabalho de graduação no curso de teoria da religião que decidiu se voltar para o videogame com olhos profissionais.

"Eu queria escrever sobre algo que fosse recente. Então tive a ideia de analisar jogos de computador como mitos modernos Isso criava duas possibilidades interessantes: a de analisar o videogame com ferramentas e métodos de pesquisador da religião e a de tratar o videogame como um artefato cultural, o que não era uma abordagem assim tão comum no começo dos anos 1990." O trabalho de Lange – intitulado "As Histórias de Jogos de Computadores Analisadas como Mitos" – é considerado um dos primeiros textos acadêmicos a tratar videogame como uma manifestação cultural.

"Os jogos de computador refletem e, em muitos casos, influenciam diretamente a nossa cultura", diz o estatuto do museu que ele ajudou a criar.

Mercados de pulgas

Lange concluiu seus estudos em 1994, mesmo ano em que a Asso­­cia­­ção de Promoção Social da Ju­­ventude da Alemanha criou um sistema de classificação etária para videogame. Como estava em contato com os criadores do sistema, ele acabou virando um dos primeiros especialistas a fazer as recomendações de idade para cada game.

De pioneirismo em pioneirismo, dois anos depois, a mesma as­­sociação convidou Lange a criar e implementar o primeiro museu de videogame do mundo. "Eu adorei a ideia e, imediatamente, comecei a comprar a coleção em mercados de pulga e por meio de anúncios de jornal." Isso foi há 14 anos. E ele continua na direção do museu.

"Como a primeira instituição desse tipo no mundo, o Museu do Videogame se dedicará à pesquisa sistemática da interação entre computador e jogo, entre tecnologia e pessoas", anuncia a missão do museu pioneiro.

Portas fechadas

O Computerspiele Museum, ou Museu do Videogame, abriu as por­­tas de sua exibição permanente em 1997 em Berlim. E fechou em 2000. Há três semanas, foi anun­­ciado que elas serão, enfim, reabertas. Ao longo desses 10 anos, foram promovidas mostras temporárias e exposições online.

Com portas fechadas ou abertas ao público, o museu sempre tem trabalho. A principal atribuição de­­le é dar um jeito de guardar os jo­­gos, de maneira que daqui a de­­zenas de anos, seus descendentes possam jogar os games que você jogou quando era criança. Assim como hoje você pode jogar Pong da mesma forma que Lange jogou quan­­do tinha dez anos.

Para que isso aconteça, é preciso lançar mão de emuladores, programas que recriam a plataforma de que o jogo precisa para funcionar. Isso faz que o game possa ser jogado sem o equipamento para o qual foi criado.

Patrimônio cultural

É por isso que, para Lange, o principal marco da história da preservação do patrimônio cultural digital é a criação de um emulador. Em 1997, exatos 20 anos depois que o nosso personagem apertou start pela primeira vez em um jogo de computador, foi lançada a primeira versão do Mame (sigla em inglês para emulador de múltiplas má­­qui­­nas de fliperama), que hoje roda mais de 8 mil jogos de fliperama e 250 jogos de computador. "Sem o Mame e todos os outros emu­­ladores, nosso trabalho de ar­­quivamento de jogos seria muito mais difícil, se não impossível."

A importância dos emuladores como ferramenta de preservação dos registros históricos digitais levou à criação da Keep (sigla em inglês para mantendo ambientes emuladores portáteis), organização europeia que está desenvolvendo um emulador padrão para garantir que os dados digitais possam ser sempre lidos. O Museu do Videogame é uma das instituições que participam do projeto.

Além dessa função prática de registro e armazenamento do pa­­trimônio cultural digital na forma de games, o museu se atribui duas missões mais abstratas. "Em primeiro lugar, aumentar a aceitação da mídia (os jogos) e ajudar a eliminar preconceitos. Em segundo lu­­gar, dar um sinal encorajador para aqueles que apoiam inovações tecnológicas mas não conseguem viver sem os elementos lúdicos da vida."

Lange joga videogame até hoje. Prefere títulos como GTA e Far Cry, "em que o jogador tem alguma liberdade para se mover e agir dentro de um ambiente imersivo." E passa uma boa parte de seu tempo livre diante do videogame na companhia dos filhos de 6 e 8 anos – com quem também gosta de jogar bola, de maneira bastante analógica, com os pés ou usando raquetes.

Mas ele não é um gamer. "Em primeiro lugar, eu não sou movido por uma paixão por videogame." Sua motivação é o registro histórico e cultural.

Portanto esqueça palavras difíceis e frases incompreensíveis e cheias de siglas. Nada disso tem vez nesse museu, que se apresenta assim: "Uma vez que a nossa sociedade é fundada em inovação e progresso, precisamos desesperadamente de uma abordagem divertida e criativa em vez da tecnologia árida".

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