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Franco, ex-presidente do BC: com ajuste fiscal, aumento da Selic não seria necessário | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Franco, ex-presidente do BC: com ajuste fiscal, aumento da Selic não seria necessário| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Livro

Modelo shakespeariano de gestão

William Shakespeare não era apenas talentoso literariamente, mas também tinha vocação para negócios. De acordo com a pesquisa de Gustavo Franco registrada no livro Shakespeare e a Economia, o dramaturgo inglês não apenas planejava cuidadosamente a gestão das suas atividades, como trabalhava como um bom empresário. Isso foi relevante para deixar como herança um patrimônio atualizado de 14 milhões de libras. Esses dados, diz Franco, servem de combustível para a velha discussão sobre a motivação profissional dos artistas. Além da análise de Franco, compõem o livro dois ensaios escritos em 1931 pelo economista norte-americano Henry W. Farnam, apontado como pioneiro nos estudos econômicos que relacionam Shakespeare aos primeiros registros sobre a emergente economia de mercado na Inglaterra. "A intenção inicial era apenas fazer o prefácio do livro, mas acabei escrevendo um ensaio muito grande. O texto original trata da economia no interior do texto shakespeariano e eu trato da economia fora do texto, na vida, na época, e no contexto do homem Shakespeare." (AL)

Gustavo Franco, economista e ex-presidente do Banco CentralOs "excessos" de uma política fiscal mais frouxa do governo, cometidos especialmente no ano passado em função da crise financeira, são os principais responsáveis pelo iminente aumento na taxa básica de juros. A avaliação é do economista, ex-presidente do Banco Central e um dos responsáveis pelo Plano Real, Gustavo Franco. Ele esteve ontem em Curitiba para a divulgação de seu mais recente livro, Shakespeare e a Economia, publicado pela Editora Zahar. O evento com o economista abriu as comemorações de dez anos da Faculdades Integradas do Brasil (Unibrasil).

Começamos o ano com a taxa bá­sica de juros em patamar historicamente baixo, adequada para o desenvolvimento econô­­mi­co. Como o senhor vê a mu­­dança desse contexto com o atual risco de disparada inflacionária?

Pela estrita lógica do modelo de metas de inflação, estaríamos numa posição de recomendar um aumento de juros. Isso não seria necessário se a política fiscal brasileira fosse de fato anticíclica, mas ela não é – ao contrário disso, ela é pró-cíclica. E por conta disso, provavelmente o Banco Central será forçado a aumentar a taxa de juros em breve. O que é uma pena. Quem faz a política fiscal é o próprio ministro da Fazenda e, ao trabalhar desse jeito, acaba forçando com que o BC desfaça o trabalho dele.

A tal "sintonia fina" entre os órgãos do governo não está funcionando, então?

Entendo essa realidade como uma correção dos excessos da política fiscal. É uma pena que seja assim porque a ênfase do crescimento deveria ser através do investimento privado, que é mais difícil de acordar. O investimento público tem uma série de limitadores, nós não vamos crescer só com aumento do gasto público. Estamos wsacrificando o bem maior em nome de uma incapacidade – que eu creio que não possa ser ideológica – de controlar o gasto público.

E o papel do câmbio nesse contexto de investimento?

Nenhum. A teoria econômica ensina que câmbio não é instrumento de política de desenvolvimento. O câmbio flutuante reflete e corrige os desequilíbrios nos pagamentos, então não há que falar que o câmbio vai ajudar ou atrapalhar. Isso é coisa de gente que está com seus interesses pessoais prejudicados pela taxa de câmbio.

Mas e o câmbio no setor produtivo, que é "mais difícil de acordar", como da indústria?

É claro que boa parte do país é exportadora e outra é importadora. Quando o câmbio mexe, sempre há uma metade triste e outra metade contente. Mas posso dizer que o câmbio valorizado ajuda o investimento porque o equipamento de bens de capital, importado, fica mais barato.

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