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Alexandre Tombini, presidente do Banco Central: segundo ele, aumento da dívida não é impedimento a uma eventual alta do juro. | Ueslei Marcelino/Reuters
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central: segundo ele, aumento da dívida não é impedimento a uma eventual alta do juro.| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

De um lado, a economia brasileira deve encolher mais de 6% em apenas dois anos. De outro, a inflação resiste e, segundo expectativas do mercado, deve ficar acima de 6,5% (o teto da meta perseguida pelo Banco Central) em 2016 e acima de 4,5% (o centro da meta) em 2017.

Num cenário assim, o que fazer com a taxa básica de juros? É melhor empurrá-la para cima na tentativa de “reancorar” as expectativas e trazer a inflação de volta à meta ainda em 2016, deprimindo ainda mais a economia? Ou deixar o objetivo para 2017, dando tempo para a própria recessão conter os reajustes, mas prolongando o convívio com a forte alta dos preços?

INFOGRÁFICO: Veja o que o mercado projeta para a taxa de juros e a inflação em 2016 e 2017

O dilema será enfrentado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em sua próxima reunião, nos dias 19 e 20 de janeiro. Até meados de dezembro, os bancos e consultorias ouvidos semanalmente pelo BC apostavam que a taxa Selic seria mantida em 14,25% ao ano. Agora, creem numa alta de 0,5 ponto porcentual.

O novo palpite tem seus motivos. O Copom, que por meses defendeu a manutenção do juro em 14,25% “por período suficientemente prolongado” para fazer a inflação convergir à meta, eliminou essa expressão do comunicado da última reunião, no fim de novembro, quando dois de seus oito membros votaram por um aumento da taxa. Nas semanas seguintes, em mais de uma ocasião o presidente do BC, Alexandre Tombini, deu a entender ela deve subir.

DÍVIDA EM ALTA

Em 12 meses até outubro, o Brasil gastou R$ 507 bilhões com os juros da dívida (8,6% do PIB), fatura que crescerá se a Selic subir. Mas, em discurso a senadores em meados de dezembro, o presidente do BC, Alexandre Tombini, reiterou que a instituição “não limitará as suas ações pelos possíveis impactos fiscais”.

Por ora, a maior parte dos economistas acha que a Selic vai a 14,75% em janeiro e nesse nível permanece até o fim de 2016. Mas as instituições do “top 5” do Boletim Focus, as que mais acertam previsões, já contam com um aperto mais forte, e veem a taxa em 15,5% daqui a um ano.

O fato de muitos economistas acreditarem que o BC vai elevar o juro básico não significa que todos aprovem a estratégia. Entre os argumentos contrários estão o fato de que os fatores que têm alimentado a inflação – a correção de preços administrados, a alta dos alimentos por questões de oferta e a disparada do dólar – estão fora do alcance da Selic.

O Banco Central tem conduzido sua política monetária de forma autônoma e continuará a fazê-lo para trazer a inflação de volta à meta. Reafirmo que o Banco Central não limitará as suas ações pelos possíveis impactos fiscais de suas decisões

Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, em discurso à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

Para Juan Jensen e Thiago Curado, sócios da 4E Consultoria, um juro mais alto provocaria “apenas e tão somente uma redução marginal das taxas de inflação”. “Ao mesmo tempo, teríamos um agravamento do já lastimável cenário de atividade e uma piora na dinâmica das contas públicas”, escreveram em artigo recente.

Mas a alta do juro também tem defensores. Márcio Milan, analista da Tendências Consultoria, diz que é melhor sofrer com os efeitos colaterais de uma taxa elevada que conviver por mais tempo com a inflação acima da meta. “[Elevar a Selic] é o que restou no curto prazo para apaziguar o problema inflacionário”, diz.

Copom pode forçar a mão para resgatar credibilidade, alertam economistas

A missão do Banco Central seria mais fácil se ele próprio não tivesse rebaixado os juros “na marra” entre 2011 e 2012, de 12,5% para 7,25% ao ano, mesmo com a inflação acima do centro da meta. Meses atrás, o BC admitiu em um relatório trimestral que muito da pressão inflacionária dos últimos anos veio daquele movimento.

Agora, na tentativa de resgatar a credibilidade, o Copom pode forçar a mão no sentido oposto, acreditam alguns economistas. “Ele perdeu credibilidade quando fez um afrouxamento monetário na caneta. Agora, tenta ancorar as expectativas com a alta dos juros, mesmo que ela pouco afete os fatores estão pressionando a inflação”, diz Jason Vieira, da Infinity Asset Management.

Para Pedro Paulo Silveira, da TOV Corretora, a disposição do Banco Central não deve mudar com a posse de Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda. “Pode ser até que o BC resolva subir a taxa para mostrar que é independente. Se isso acontecer, a economia, que já está ruim, tende a ficar pior ainda”, diz Silveira.

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