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Veja: taxas de juros das operações de crédito foram reduzidas em fevereiro |
Veja: taxas de juros das operações de crédito foram reduzidas em fevereiro| Foto:

Mesmo com o esforço do Banco Central (BC) no sentido contrário, as taxas de juros nas operações de crédito – tanto para pessoas físicas quanto para empresas – apresentaram queda em fevereiro, na comparação com janeiro. Estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) mostra que a taxa de juros média geral para pessoa física caiu 0,12 ponto porcentual no mês – 2,97 pontos no ano–, atingindo o menor nível desde outubro de 2010. Com exceção do crédito do cartão e do cheque especial, todas as demais linhas de crédito tiveram suas taxas de juros reduzidas em fevereiro.

O tomador de crédito, no entanto, não deve ter tempo para se beneficiar dessa redução, já que a queda é interpretada como momentânea, resultado de um ajuste do mercado diante da expectativa de desaceleração da economia e de uma reinterpretação da expectativa das taxas de juros futuras. Desde janeiro de 2010, o BC elevou a taxa básica de juros (Selic) em 2,50 pontos porcentuais, de 8,75% para os atuais 11,25%.

As ações macroprudenciais do BC de elevação do depósito compulsório, redução dos prazos de financiamento e elevação da taxa Selic devem ter efeito acentuado já nos próximos meses.

"Tudo indica que o crescimento econômico deste ano deve ser menor do que o esperado; enquanto isso, a curva de juros estava muito alta, e agora [o mercado] está corrigindo. São dois movimentos de ajuste ao mesmo tempo, que contribuem para explicar essa redução", avalia o vice-chefe do Departamento de Economia da UFPR, João Basilio Pereima Neto.

Segundo Pereima Neto, as medidas implantadas pelo BC devem começar a ter efeito neste mês, com um "enxugamento" na oferta de crédito e consequente movimento de aumento nas taxas de juros. "As medidas macroprudenciais nada mais são do que as tradicionais políticas monetárias já adotadas no passado. Elas reagem, em média, com seis meses de defasagem temporal na economia real e devem aparecer com maior força nos próximos meses", prevê.

Spread

O coordenador da pesquisa e vice-presidente da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, atribui essa queda à maior competição entre os agentes financeiros e às altas margens de spread, que garantem uma "gordura extra" a ser queimada, permitindo a manutenção ou redução das taxas mesmo em um ambiente de elevação da Selic. Mas, para ele, o cenário não deve se manter. "Há uma série de incógnitas. Se o BC perceber que as medidas já adotadas não estão funcionando como o esperado, não são descartadas outras medidas macroprudenciais e novos aumentos nas taxas de juros", avalia.

Para Oliveira, isso tende a desacelerar a economia, contribuindo para provocar um cenário de incerteza. "Para o consumidor, o ideal é ser mais cauteloso na hora de tomar crédito. Se um empréstimo for mesmo inevitável, é preciso pesquisar muito – já que a diferença é grande entre os diversos agentes – e buscar linhas mais baratas, como o microcrédito, o penhor da Caixa Econômica Federal ou o crédito consignado", orienta.

Inadimplência sobe 25,9% em um ano

Não é apenas o comportamento dos juros que vem dando sinais contraditórios. Os índices de inadimplência, apontados pela pesquisa da Anefac como em níveis "estáveis", registraram forte alta de acordo com levantamento da Serasa Experian, empresa especializada em análise de crédito. A elevação, segundo a pesquisa, foi da ordem de 25,9% na comparação entre fevereiro de 2011 com o mesmo período do ano passado. Na passagem de janeiro para fevereiro houve queda de 2,3%, o segundo recuo mensal seguido.

Na avaliação da Serasa Experian, a alta da inadimplência nas comparações anuais reflete o maior endividamento do consumidor, com o acúmulo de dívidas e o encarecimento do crédito. No entanto, segundo a empresa, os recuos registrados nos primeiros meses do ano dão sinais de que a inadimplência está perdendo o fôlego. "No geral, essa inadimplência é ressaca do fim de ano. Todo mundo foi às compras no Natal e as prestações estão vencendo agora. Muita gente se empolgou e gastou demais", avalia o professor de Economia da UFPR João Basilio Pereima Neto.

Segundo o levantamento, as dívidas não bancárias – cartões de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços de luz e água – caíram 5%, enquanto as dívidas com bancos recuaram 2% em fevereiro. Por outro lado, as dívidas por títulos protestados e cheques sem fundos subiram 7,7% e 3,6%, respectivamente.

Já o valor médio das dívidas não bancárias recuou 8,2% de janeiro para fevereiro, passando de R$ 358,54 para R$ 329,08. No mesmo período, o valor médio das dívidas bancárias recuou 7,7%, de R$ 1.396,98 para R$ 1.289,14.

O acompanhamento do Banco Central, que reúne todas as modalidades de crédito, mostra um comportamento diferente dos índices de inadimplência. Embora os dados de fevereiro ainda não tenham sido divulgados, a taxa teve queda de 1,81 ponto porcentual entre janeiro de 2010 e janeiro de 2011, passando de 7,53% para 5,72%. O levantamento da Serasa Experian tem como base uma amostragem de cadastros do seu sistema de proteção ao crédito. (ACN, com agências)

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