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No centro da invasão paranaense a Mato Grosso está um fator que continua a ser crucial nos dias de hoje: a educação. A escolaridade é provavelmente a maior diferença entre a geração que fez do Mato Grosso o maior produtor de soja do país e os patriarcas que, há 30 anos, lideraram a marcha para o o Centro-Oeste. E é uma característica cada vez mais valorizada na Capital Nacional do Agronegócio, Rondonópolis.

A trajetória da maioria das famílias que foram bem-sucedidas do Centro-Oeste é semelhante. No início da história está um agricultor de pouco estudo, nascido no Sul do país. Com a relativa prosperidade conquistada na lavoura, ele enviou os filhos para estudar em centros maiores. Ao voltar para casa, quase sempre formados em Agronomia, Veterinária ou outros cursos ligados à agropecuária, eles descobrem que a pequena propriedade da família não permite aplicar todos os seus conhecimentos. Impelidos por essa necessidade de crescimento, pelo empreendedorismo e pela conjuntura de cada época – um cenário que inclui desde a geada de 75 até a facilidade maior em obter crédito no Cerrado e na Amazônia, nos anos 70 –, os filhos acabam por encontrar terras baratas em locais distantes. Assim começou a aventura que levou as propriedades de Mato Grosso a um padrão de produtividade mais alto do que o do Sul.

Foi assim com o atual governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, formado em Agronomia pela Universidade Federal do Paraná, e com o prefeito de Rondonópolis, arquiteto pela mesma UFPR. A formação avançada fez com que a nova geração desse um valor maior à tecnologia e à pesquisa agrícola, movendo o ciclo educação-produtividade cada vez mais rápido. Hoje as grandes fazendas do Mato Grosso são grandes empregadoras não só de peões como também de pessoal especializado. A Sementes Adriana, maior produtor individual de sementes de soja do país, segue essa lógica. Seu quadro de funcionários – todos registrados, contrariando a lógica que leva a crer que o emprego rural deve ser forçosamente informal – inclui atualmente 300 pessoas. A maioria tem trabalho manual na fazenda, mas 15 são engenheiros agrônomos, trabalhando tanto em vendas como em pesquisas. O laboratório da fazenda, cuja sede é toda ligada ao mundo por fibras óticas, foi o primeiro do país a obter certificação de qualidade pelas normas ISO 17.025.

O investimento em pesquisa justifica-se pelo ineditismo da investida no Centro-Oeste. "Em nenhum outro lugar do mundo há produção de sementes em áreas tropicais na escala que nós precisávamos", conta o diretor-presidente Odílio Balbinotti Filho – engenheiro agrônomo formado em Londrina. Seu pai, o deputado federal Odílio Balbinotti (PMDB-PR), está entre os pioneiros da Serra da Petrovina, onde instalou-se em 1980. A produção de sementes começou três anos depois, para suprir a falta de variedades comerciais adaptadas à região. Os problemas eram múltiplos: conservar as sementes mesmo sob umidade, impedir que germinassem durante o armazenamento, garantir que estivessem prontas para o plantio na época correta. "O que existe hoje foi resultado de pesquisas nossas, não só da Adriana como de todas as sementeiras do Centro-Oeste", diz Odílio.

Saúde

Tarcísio Sachetti, presidente do grupo Sachetti, afirma que o mais comum entre as famílias de agricultores bem sucedidos é enviar a nova geração estudar no Paraná. "Hoje estão surgindo novas faculdades por aqui e a qualidade está melhorando, mas antes era muito difícil", diz. "Além do mais, todos nós estudamos lá e nos sentimos em casa."

História semelhante tem Edílson Mastelaro, produtor nascido em Cornélio Procópio e radicado em Rondonólis em 1982. Há três anos, ele mandou o filho ao Paraná quando chegou a época do cursinho. As viagens do menino, no entanto, hoje com 18 anos, começaram muito, mas muito antes. E se deve a uma outra desconfiança que os paranaenses costumavam ter no Mato Grosso – desta vez, em relação aos serviços de saúde. "O pré-natal e o parto dos meus dois primeiros filhos foi no Paraná", admite Edílson. "Isso também é bem comum por aqui."

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