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| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Projeto

Em busca de um acesso

A promessa de cobertura total de Curitiba por uma rede wi-fi foi um dos motes da campanha eleitoral de 2008. Hoje, a cidade possui três pontos de acesso público e gratuito, com alcance muito limitado. A alternativa para quem precisa usar a internet sem pagar, portanto, é sair "pescando" redes abertas e amigáveis – algo que, via de regra, não funciona – ou ir a shoppings, cafés e outros estabelecimentos comerciais que incluem o wi-fi entre seus mimos para a clientela.

Café digital

Há pouco mais de um ano, os designers Gabriela Borges, Marcel Pace e Maurício Perin se reúnem para realizar projetos. Como os três precisam permanecer conectados à rede em tempo integral, buscam lugares que ofereçam wi-fi gratuito. Um dos pontos onde costumam "bater o cartão" é o Brooklyn Café, no São Francisco. Segundo eles, a escolha do lugar decorre da soma entre conectividade e a qualidade do serviço, que inclui cookies e capuccino.

Segundo Maurício Perin, o café funciona como um "segundo escritório"; a conexão wi-fi, portanto, é fundamental para realizar suas tarefas. "São poucos os locais públicos que oferecem conexão. Então, quando preciso, acabo indo a locais privados", afirma.

Para o designer Marcel Pace o horário de atendimento também é um diferencial. Segundo ele, uma simples "fugida" do escritório, independentemente da conexão, pode representar um ganho em produtividade.

A falta de acesso livre à internet assombra a estudante de Design Gabriela Borges, 21, que conta já ter sido "salva" por uma conexão privada livre. "Precisava enviar por e-mail um trabalho da faculdade e minha internet caiu em plena madrugada. Não pensei duas vezes e corri para um café 24 horas atrás de conexão. Em outros países, é possível estar conectada de qualquer local. Aqui, acessar a internet em uma praça é um sonho", lamenta.(HMS)

  • Marcel Pace, Maurício Perin e Gabriela Borges: reuniões periódicas no Brooklyn Café para aproveitar a rede aberta
  • Renato Sabai compartilha a conexão com os vizinhos:
  • O Brasil tem pouco mais de 4 mil hot-spots wi-fi. Saiba onde eles estão
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Eles não saem às ruas com as caras pintadas, não empunham cartazes ou megafones e nem gritam palavras de ordem. Também não costumam militar nas redes so­­ciais, mas nem por isso são menos ativistas. No processo de construção da realidade digital, porém, fazem parte de uma vanguarda silenciosa que deseja – apenas e tão somente – garantir o acesso de todas as pessoas ao cyberespaço.

Há mais de um ano, o consultor de internet Renato Sabai deixa sua conexão wi-fi aberta para que possa ser compartilhada por vizinhos e pelos eventuais "caroneiros" de ban­­da larga. Para ele, a partilha do acesso é algo natural, uma atitude que deveria ser adotada por todos que utilizam uma conexão sem fio. "Se todos deixassem suas redes abertas, Curi­tiba inteira estaria conectada", prega. "Acredito que até os pacotes de acesso a internet po­­deriam ficar mais baratos com mais pessoas compartilhando seu wi-fi."

Como medida de segurança, Sabai costuma monitorar os acessos feitos através de sua conexão. Segundo ele, é comum ver duas ou três pessoas compartilhando sua "pista" de dez megabytes, o que, acredita, não gera problemas – muito pelo contrário. "Uma vez, percebi que um vizinho fazia muitos downloads e resolvi cortar sua conexão. Dias depois, ele me procurou e se ofereceu para dividir a fatura comigo", conta.

Quando está na rua, o consultor também costuma acessar a internet com seu smartphone. Ele lamenta a pouca qualidade do serviço 3G da sua operadora, as­­sim como a falta de pontos públicos de acesso livre. "Sempre que posso, me conecto à internet em cafés ou nos shoppings, mas seria ótimo ter acesso wi-fi livre em praças e outros locais públicos".

Inclusão no Uberaba

Desde maio deste ano, aproximadamente 400 moradores do bairro Uberaba, em Curitiba, recebem o sinal gratuito de internet via wi-fi. A iniciativa partiu de voluntários que participam da Rede de Partici­pa­­ção Política, uma iniciativa da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), da Associação Comercial e Industrial do Uberaba e Região (ACIUR) e de empresas par­­ceiras. Um dos integrantes mais ativos do projeto é José Juvan­­ci, profissional da área de tecnologia e estrutura de redes digitais que dedica boa parte de seu dia à manu­­tenção da rede instalada e à articulação da ampliação do acesso livre e gratuito para outros bairros da cidade. "O objetivo do projeto é pro­­mover a inclusão. Já temos uma boa presença, na rede, dos pequenos comerciantes e das pessoas mais carentes do bairro."

Segundo ele, muita gente ainda vê com desconfiança a iniciativa do wi-fi livre. Talvez porque ainda considerem o acesso ao mundo digital não um direito, mas um serviço a ser pago – e caro. Para mu­­dar essa crença, Juvanci faz um trabalho diário de catequese: conversa com os moradores e instala notebooks em diferentes pontos do bairro por períodos determinados, além de promover palestras sobre o uso da internet via wi-fi.

Atualmente, o sinal pode atingir um raio de até 2,5 quilômetros de distância da antena e beneficiar até dez mil pessoas. O sinal, via wi-fi, parte da Faculdade Spei (Unida­de Torres), onde foi instalada uma antena de 22 metros de altura que transmite dados via rádio.

Segundo Juvanci, para que todos os 78 mil moradores do bairro tenham acesso livre, seriam necessárias mais cinco antenas. O investimento inicial do projeto piloto com instalação da antena e a oferta do sinal foi de R$ 15 mil. A manutenção da rede digital mensal gira em torno de R$ 2,5 mil. O sonho de Juvanci é ver Curitiba inteira conectada gratuitamente. Difícil? Nem tanto: ele garante que 110 antenas – e, é claro, um grupo de interessados – podem resolver.

Brasil segue na rota oposta à dos países desenvolvidos

Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, onde existe um forte investimento das operadoras de telefonia na cobertura wi-fi co­­mo complemento às redes 3G/4G, o Brasil anda na contramão nessa modalidade de conexão. De acordo com os dados divulgados do portal Teleco em junho deste ano, o número de pontos de acesso wi-fi no país caiu de 4027 para 4025. Em uma análise da empresa JiWire, o Brasil tem um hotspot (pontos de acesso) para cada 49,8 mil habitantes. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a proporção, respectivamente, é de um hotspot para cada 3,3 mil e e de um hotspot para cada 990 habitantes.

Segundo Huber Bernal Filho, con­­sultor da Teleco, o baixo poder aquisitivo no Brasil seria um dos fatores para o baixo investimento em tecnologias de acesso wi-fi. "Só agora a população começa a ter aces­­so aos smartphones, notebooks e tablets. Com o crescimento desses dispositivos, deveremos ter mais investimentos no setor", afirma. Com pouco apelo comercial, a maior parte dos investimentos em hotspots wi-fi no Brasil é financiada pelos governos de estados e municípios.

O que já acontece no Rio de Ja­­neiro, Belo Horizonte e Rio Branco, no Acre. No Paraná, alguns municípios já fazem parte do grupo chamado Cidades Digitais e fornecem conexão wi-fi gratuita. É o caso de Cas­­cavel, que, com uma população de 240 mil habitantes, fornece cobertura para 50% da cidade. Atual­­mente, o programa fornece uma conexão de 128 kbps por ponto receptor (que tem velocidade três vezes maior que a internet discada e pode chegar ao equivalente a 512 kb) para doze mil pessoas ca­­dastradas. Segundo informações da prefeitura, com um investimento de R$ 500 mil anuais a cidade poderá ter 100% de cobertura com o dobro de velocidade.

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