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Em Hamilton, a poucos quilômetros do Palácio do Governo de Nova Jersey, na sempre lotada Taverna JoJo, a massa da pizza costuma ser fina e leve, mas a atmosfera anda pesada, com mau humor e hostilidade. Robert Haupt, eletricista aposentado, já foi integrante de um sindicato, mas hoje só tem broncas em relação aos servidores públicos. "Sou contra reivindicarem um dia de folga remunerado após o feriado de Ação de Graças", diz Haupt, referindo-se a um benefício que o governador Chris Christie tentou revogar, sem sucesso. "Eles podem acumular licenças médicas ao ponto de deixar de trabalhar com dois anos de antecedência. Eu nunca tive esse privilégio. Quando eu não trabalhava, eu não recebia", conta.

Do outro lado do bar, Tim Connery, 59 anos, professor de música do ensino fundamental, dividia suas angústias com Wayne Lonabaugh, um colega aposentado. Lonabaugh lembrou-se dos cálculos que fazia no início da carreira. "Eu só ganhava US$ 4,2 mil por ano, mas os mais velhos diziam que a aposentadoria era o grande negócio. Por isso, mantive dois empregos. Eu também trabalhei numa fábrica de cimento. Mas consegui me aposentar como professor", relata.

Os dois professores do sistema público admitem que sempre aceitaram receber menos do que ganhariam em outros empregos, em parte porque os benefícios eram bons. Lonabaugh, que lecionou Matemática e Ciências durante 35 anos, desfruta hoje um plano de saúde gratuito. "Há 25 anos, um democrata me disse: ‘Vocês nunca conseguirão seguro saúde de graça para aposentados, pois isso quebraria o estado’", conta Lonabaugh, um republicano, enquanto sorri melancolicamente. "Mas nós conseguimos. E ele estava certo", completa.

Angústia

O detetive que preside o sindicato de oficiais da polícia de Trenton, George Dzurkoc, senta-se logo ao lado e, acompanhado da noiva, trata de suas próprias dificuldades para tentar acalmar a ansiedade dos colegas. "É horrível. A vida dessas pessoas está num pêndulo e você não consegue dar-lhes respostas. Todos os dias recebo a pergunta: ‘Eles vão nos demitir?’".

Mais adiante, na delicatessen Fred & Pete’s, os aposentados substituíram o tradicional bate-papo cheio de brincadeiras por discussões sérias. "Os professores estão sendo desvalorizados", diz Joan Schutts, que parou de dar aulas para a pré-escola há oito anos. "Minha filha é hoje professora do ensino fundamental e ela escuta cada coisa, inclusive das crianças. Elas dizem: ‘Você ganha muito dinheiro’."

Para o marido de Joan, Richard, técnico aposentado, os políticos que tomaram atalhos fiscais – por exemplo, ao deixar de fazer alguns repasses para o sistema previdenciário de Nova Jersey – são os responsáveis pela crise. "E agora ninguém quer que a solução saia de seus bolsos. É simples assim", diz.

"Não concordo", emenda a amiga Bettie Herzstein, que deixou de lecionar no ensino fundamental em 2004. "Corte meus benefícios, mas corte os benefícios de todos, de maneira uniforme." Ela diz que aceitaria pagar pelo plano de saúde. "Acho justo. Mas é preciso que os médicos também façam alguma concessão", acrescenta. "Eu e meu marido tivemos de ir para o hospital recentemente. Um exame custou US$ 2,4 mil. Isso só para que o médico lesse um exame. A conta da minha internação de duas semanas foi de US$ 100 mil". E quanto ela desembolsou? "Nem um centavo. Graças a Deus existe o sindicato dos professores", conclui.

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