• Carregando...
Vídeo: | RPC TV
Vídeo:| Foto: RPC TV

Londres – Um telespectador tem a sensação de estar em Paris, com borboletas voando ao seu redor. Ele tenta tocar um dos insetos ou algumas flores que parecem próximas, mas não consegue – simplesmente por nada disso ser real. Tudo ali – a paisagem com a Torre Eiffel ao fundo, o jardim e os pedestres – são imagens em três dimensões (3D) emitidas por uma tevê de alta definição da Philips. O melhor da história é que o sujeito não está usando óculos especiais para ter a sensação de estar imerso no mundo virtual. Técnicos e cientistas vêm tentando desenvolver projeções em 3D sem a necessidade de óculos há algum tempo, mas o protótipo apresentado pela fabricante holandesa é de tirar o fôlego. Ele não chegará ao mercado tão cedo, é bom ressaltar, pois custaria no mínimo US$ 20,5 mil.

A Philips não está sozinha na corrida pelo 3D perfeito, barato e descomplicado. Pode-se citar a desenvolvedora SeeReal, de Luxemburgo, que melhorou consideravelmente a tecnologia disponível com seu sistema Viewing Window – reduzindo sensivelmente a quantidade de pixels necessária para a formação de uma imagem 3D. A francesa Orange, que opera celulares em diversos países da Europa, surgiu inesperadamente como uma das principais financiadoras de pesquisas neste segmento. A companhia, que patrocinou a exibição do protótipo da Philips, acredita que a tevê em 3D será o principal meio para oferecer serviços e produtos através de sua rede de internet em fibra óptica. Essa nova infra-estrutura, que está em fase de testes na capital francesa, será capaz de transmitir dados a uma velocidade de 100 Mbps. Não é difícil imaginar as razões para a Orange acreditar nessa estratégia. Um anúncio de cerveja ou uma propaganda de um game de ação – com um copo gelado ao alcance da mão ou balas voando em direção ao espectador, respectivamente – certamente terão um poder inimaginável no mundo publicitário.A nova tecnologia funciona a partir de imagens diferentes voltadas para cada um dos olhos do usuário. Ao todo, são oito camadas de imagem. De acordo com os técnicos, os testes anteriores, feitos com uma quantidade menor de imagens, provocaram tontura e enjôo nas "cobaias". "Todos já ouvimos falar de jogos em 3D, mas neles os programadores só se esforçam em técnicas mais precisas para representar profundidade. Na verdade, não são simulações de três dimensões", sentencia o diretor de serviços 3D da Orange, Philippe Delbary. O sistema apresentado pela Philips não é natural (reproduzir três dimensões a partir de uma tela, afinal de contas, é fisicamente impossível). Se a câmera estiver focando o primeiro plano, não existe a menor chance de o telespectador enxergar um fundo nítido. Mesmo assim, a partir de determinado momento, o usuário se acostuma e "se deixa enganar" pelas imagens.

Um entrave para a popularização do 3D, levantado pela própria Orange, é a falta de conteúdo. No momento, apenas dois filmes em três dimensões estão sendo produzidos. Ambos deverão ser lançados em 2009. Dois filmes, por maiores que sejam, não encorajam investimentos em um novo padrão. A analista para eletrodomésticos digitais da Jupiter Research, Laurence Meyer, diz que o processo será longo, mas a Orange sustenta que dentro de 10 anos os telespectadores já estarão assistindo e exigindo mais audiovisuais em 3D. "Uma vez descoberto, o 3D acabará com o 2D", diz Delbary.

A História mostra que as coisas não acontecem de maneira tão rápida quanto o executivo da Orange gostaria. A tevê de alta definição está decolando agora, mas foi demonstrada há 20 anos. "Consumidores tendem a pagar por um pacote, e não por uma tecnologia. A tevê digital tornou a alta definição das imagens algo mais concreto", explica Laurence, da Jupiter Research. Outro exemplo foi a febre da tevê em cores, que nos anos 80 resultou numa mania das produtoras em querer colorir tudo o que fosse possível. O pensamento da época rezava que, com a nova tecnologia, as audiências não iriam mais aceitar ver filmes em preto-e-branco. Obviamente, isso não ocorreu.

A expectativa da Orange, de disseminar o 3D em uma década, é extremamente ambiciosa. Antes da disponibilidade de produtos em massa, no entanto, qualquer previsão é arriscada. A qualidade do produto da Philips é excelente e, quando chegar ao mercado, ele deve custar 20% a mais que uma HDTV de cristal líquido. Mas uma coisa é certa: o 3D não substituirá o 2D, assim como o rádio não acabou com o teatro, a tevê não acabou com o rádio e a cor não acabou com o preto-e-branco. A demonstração de Paris em três dimensões foi excelente. Quando chegar o momento, o 3D encontrará seu nicho.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]