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Ações da Petrobras têm oscilado de acordo com as chances de o impeachment de Dilma ser aprovado ou não. | Vanderlei Almeida/AFP
Ações da Petrobras têm oscilado de acordo com as chances de o impeachment de Dilma ser aprovado ou não.| Foto: Vanderlei Almeida/AFP

Embora tenha um efeito natural no sobe e desce do mercado, as turbulências criadas pelas incertezas na política brasileira afetam com maior intensidade os indicadores que mexem com as ações, o câmbio e os juros futuros. Para alguns analistas, a possibilidade de impeachment de Dilma Rousseff, assim como os possíveis desdobramentos do processo, tem criado um efeito sobre o dólar e a Bolsa que sequer foram vistos em 2002, primeira eleição de Lula, ou em 2014, quando a presidente foi reeleita.

Sobe e desce: o impacto das turbulências políticas sobre os indicadores

“Hoje a crise é muito mais séria. Há uma grande desconfiança do público interno, as empresas estão apresentando um mau resultado e há queda no consumo. Existe uma incerteza que não nos deixa ir para lugar algum”, resume o sócio-diretor da Easynvest, Marcio Cardoso. O Ibovespa, principal índice da Bolsa, é um dos termômetros capazes de medir as teses dos investidores. Quando as chances de queda de Dilma aumentam, o dolar desce e o índice sobe, puxado por papeis da Petrobras e do Banco do Brasil – que compõem o chamado “kit impeachment”. Mas, quando a perspectiva é outra, o mercado despenca e o dólar se eleva.

No primeiro trimestre deste ano, por exemplo, o Ibovespa teve uma variação positiva de 18,7%. Em 4 de janeiro, o índice acumulava 42.141 pontos. Já em 31 de março, o indicador saltou e alcançou os 50.055 pontos. A cotação da moeda estrangeira também teve grande oscilação. No começo do ano, estava em R$ 4,03, mas, no trimestre, fechou em R$ 3,55, uma queda próxima de 12%.

Especulação

O sócio-diretor da Easynvest, Marcio Cardoso, observa que o clima de incertezas abre espaço para a especulação e a presença de investidores estrangeiros na Bolsa, o que ajuda a explicar as oscilações do mercado. “Essa parcela de investidores aposta em operações rápidas e tira proveito das flutuações nos preços no curto prazo. Houve uma migração de estrangeiros para a Bolsa, que ficou mais barata em dólares.”

Teses

Para o economista da consultoria Tendências Silvo Campos, a volatilidade segue a hipótese de que, com a interrupção precoce do mandato, o governo interferirá menos nas estatais, o que trará melhores resultados para estas empresas. “O caso da Petrobras é o mais emblemático, mas também houve interferência política no Banco do Brasil para a concessão de crédito com condições diferenciadas”, exemplifica. “Portanto, a perspectiva do mercado é que, com a mudança de governo, a gestão dessas estatais seria mais profissional, melhorando o desempenho.”

Só no dia 6 de março, os papeis da petroleira tiveram uma alta de 15%, o que puxou a Bolsa para a maior pontuação no ano, de 58.077. O economista-chefe da Eleven Financial, Gustav Gorski, no entanto, lembra que a melhora dos preços das commodities nos últimos dois meses não deve ser excluída dessa conta, por mais que as “movimentações do tabuleiro político” sejam preponderantes.

Juros e câmbio

O sobe e desce dos juros futuros e do dólar também têm uma relação direta com a percepção do mercado. Diante da falta de perspectiva de um ajuste fiscal neste governo, os investidores veem na entrada de um novo presidente a possibilidade de um maior comprometimento com as contas públicas, o que tende a reduzir os juros e o valor da divisa. “O mercado vê que, com um novo governo, a dívida será mais racional, o que também tem um efeito sobre o câmbio”, afirma Gorski. No caso do dólar, entretanto, o economista reforça ainda que há a influência de fatores externos, como a economia dos EUA.

“Impeachômetro”

Algumas consultorias possuem índices que apontam as chances de queda da presidente. Na última semana, a Tendências apontava 70% de probabilidade de interrupção do mandato da presidente, sendo 40% deles por meio de impeachment e 30% por novas eleições. Já a Eurasia previa 75% de chances, dos quais 40% por impedimento e 35% pela convocação de outras eleições.

Tesouro Direto e fundos cambiais estão entre os ativos mais afetados

Os títulos de renda fixa e os fundos cambiais são alguns dos investimentos impactados pela oscilação dos indicadores. O rendimento do Tesouro Direto, por exemplo, que remunera de acordo com a Selic, é determinado pelas altas e baixas dos juros. Até a tarde do dia 8 de abril, o Tesouro Prefixado com Juros Semestrais e vencimento em 2027 entregava juros anuais de 13,88%. Hoje, a taxa básica está em 14,25% ao ano.

Já os fundos cambiais são um exemplo de ativos sensíveis ao sobe e desce do dólar. No ano passado, quando a moeda estrangeira ultrapassou a marca dos R$ 4, o investimento foi o que teve o maior crescimento em 2015, com ganhos reais (descontada a inflação) de 32,8%, segundo o Instituto Assaf.

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