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Campagnolo diz que a China atrapalha, mas também ajuda; que não é fácil levar o câmbio para onde a indústria quer; e que o governo tem tomado algumas medidas favoráveis ao setor | Felipe Rosa/Gazeta do Povo
Campagnolo diz que a China atrapalha, mas também ajuda; que não é fácil levar o câmbio para onde a indústria quer; e que o governo tem tomado algumas medidas favoráveis ao setor| Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo

Comércio

Campagnolo defende proteção temporária

O novo presidente da Fiep não é radical a ponto de se alinhar ao discurso de Benjamin Steinbruch, que chegou a afirmar, quando esteve à frente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), que "o Brasil precisa se fechar" para proteger a indústria nacional. Edson Campagnolo, no entanto, defende medidas temporárias de proteção para "dar fôlego" aos industriais brasileiros. "Se forem medidas que permitam que a indústria ganhe competitividade, são altamente válidas. Mas a questão de proteger o mercado tem de ter prazo de validade e condições para que as empresas ganhem competitividade de verdade. Quando a torneira abrir, as indústrias precisam estar prontas para brigar com os produtos importados", afirma.

Ele cita o "desemprego em massa" como a maior preocupação numa abertura total do mercado. Ao comentar o argumento defendido por alguns economistas de que a abertura favorece o consumidor porque joga os preços para baixo, o empresário diz que isso ocorre apenas num "primeiro momento". "Porque quando começar o efeito cascata de desemprego em algumas áreas, vai afetar também todos os consumidores."

Como todo empresário da indústria, Campagnolo se preocupa com a concorrência chinesa. Para ele, o consumidor brasileiro precisa conhecer melhor a maneira como os produtos são fabricados na China antes de decidir comprá-los. "Como é que eles estão tratando o meio ambiente lá? Como é que eles estão tratando as pessoas lá? Porque eles procuram vender uma imagem para o mundo de que estão se adaptando a toda essa cobrança por sustentabilidade, mas uma coisa é a teoria e outra é a prática", diz. (BB)

Empresário começa a construir nova fábrica

Há 33 anos no ramo da indústria têxtil, Edson Campagnolo está iniciando uma nova fase como empreendedor. A partir de janeiro, começa a construção da nova planta fabril de sua empresa, a Rocamp, que deve ser concluída em nove meses. A empresa tem hoje duas unidades, uma em Capanema e outra em Planalto, cidades vizinhas no Sudoeste do estado, e a nova fábrica ficará numa área de 75 mil metros quadrados entre os dois municípios. Além da unidade, o local também abrigará um empreendimento imobiliário, com a venda de lotes para a construção de casas. "As duas cidades estão a seis quilômetros uma da outra. É inevitável que, ao longo dos anos, elas vão se aproximar. A gente está antevendo essa mudança e aproveitando uma oportunidade", diz o presidente da Fiep.

A Rocamp emprega 350 funcionários e tem faturamento anual de R$ 15 milhões. A nova unidade, que seguirá conceitos de sustentabilidade como o reaproveitamento de água e o uso eficiente de energia, terá custo de R$ 4 milhões. Campagnolo diz que a construção é uma necessidade diante do aumento da demanda dos clientes, especialmente por causa da Copa do Mundo de 2014. Hoje, a Rocamp produz camisas, calções, uniformes e agasalhos esportivos e para escolas, tendo como clientes empresas como Umbro, Lupo, Fila, Asics e o colégio Bom Jesus.

O empresário conta que, como qualquer empresa situada longe dos grandes centros, a Rocamp enfrenta o problema logístico de estar instalada no interior, mas vê vantagens em outras áreas. "Uma indústria no interior tem melhor inserção na comunidade, que percebe a sua importância, como na geração de empregos. Além disso, também há uma melhor sintonia com o poder público." O Instituto Federal de Ensino Tecnológico de Capanema, por exemplo, deve construir uma nova unidade exatamente ao lado da futura fábrica da Ro­­­­camp, visando facilitar o acesso dos alunos de Planalto à instituição. (BB)

Edson Campagnolo faz o discurso que se espera de um industrial. Reclama da falta de incentivos do governo à indústria, teme a competitividade "desonesta" da China e acha que o câmbio poderia ser elevado "um pouquinho" para motivar os exportadores. Mas ele se esforça por moderar a fala. Há três meses à frente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), onde ocupou uma das cadeiras de vice-presidente durante os oito anos de gestão de Rodrigo Rocha Loures, ele mostra consciência de que os problemas do setor não podem ser encarados de forma absoluta, como uma luta entre o bem e o mal. Frases como "os empresários brasileiros também se beneficiam com a China, comprando equipamentos, o que possibilita investimentos", "se fosse fácil controlar o câmbio o governo já teria feito" e "a Dilma tem tomado algumas medidas para proteger a indústria" expressam o outro lado de seu discurso.

Dono de uma fábrica de confecções em Capanema (Sudoeste do Paraná) e primeiro empresário do interior a assumir o comando da federação, Campagnolo, 52 anos, diz focar sua presidência naquilo que acredita que pode fazer a maior diferença: a educação dos trabalhadores. Com orçamento anual de R$ 450 milhões, ele pretende investir R$ 100 milhões todos os anos até 2015 na formação de mão de obra qualificada, por meio de cursos técnicos no Sesi e no Senai, que fazem parte do Sistema Fiep. O montante é mais que o dobro do que foi gasto na área durante a gestão anterior. A expectativa é que 250 mil jovens passem pelo Senai no período – um batalhão de fazer inveja a qualquer universidade.

O maior obstáculo, segundo ele, é a falta de preparo do aluno egresso do ensino público. "Temos de dar um passo atrás e reforçar a educação desses jovens, ou eles não conseguem acompanhar o nível de ensino desejável para os nossos cursos", afirma. Os reforços serão de aulas de Matemática e Português. Formados, esses jovens devem migrar principalmente para as indústrias de construção civil, metal-mecânica e petroquímica, áreas com maior demanda no estado.

Para conseguir aplicar todos esses recursos na educação, Campagnolo teve de mexer em uma área que ganhou bastante espaço – e dinheiro – na Fiep nos últimos anos: as redes de desenvolvimento local, voltadas para a formação de capital social. "A gente deu uma freada nos programas. Diminuímos muito a intensidade. Não é que não sejam importantes; eles são, mas agora a prioridade é outra. Pelo menos essa é uma visão da diretoria da Fiep, com o suporte dos nossos empresários e sindicatos."

Desenvolvimento industrial

Quando o assunto é desenvolvimento industrial, Campagnolo faz um mea culpa. A Fiep foi bastante criticada pela morosidade em aproveitar as oportunidades que estão sendo geradas pela exploração do pré-sal – e ele não discorda dessa avaliação. "Cometemos alguns equívocos", admite. "Mas estamos retomando com muita força a detecção de empresas que podem produzir para o pré-sal." Ele cita a fabricação das chamadas árvores de natal molhadas, equipamentos usado na exploração submarina e que já é fabricado no Paraná pela Aker Solutions. "Temos outra empresa nossa, fornecedora da cadeia automotiva, que tem capacidade de usinagem para o pré-sal e está em fase de negociação para receber investimentos do Oriente Médio. Os investimentos do pré-sal estão saindo."

Mais ou menos. Em setembro, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) inviabilizou um investimento de R$ 100 mi­­­­lhões da Subsea 7 no litoral, onde a empresa pretendia er­­­­guer uma unidade de soldagem e revestimento de dutos para exploração marítima de petróleo. Campag­nolo não chega a criticar os ór­­­gãos ambientais, mas prega a moderação. "Não sou técnico em meio ambiente, mas gosto de estar rodeado por pessoas que me dão bons conselhos. Prefiro dizer que essa conclusão [do IAP] de que a construção ia ter um impacto no meio ambiente foi bem conduzida. Mas foi uma perda para o estado."

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