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Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Nablus, Cisjordânia – Esta é uma história de duas cidades. A primeira é Nablus, no norte da Cisjordânia e no coração dos territórios ocupados da Palestina, uma cidade de prédios antigos, ruelas tortuosas e onde a resistência à presença israelense beira a hostilidade. A segunda pode ser chamada de "Nablus virtual" – cidade de monitores, teclados e cabos, por meio da qual os habitantes da Nablus verdadeira experimentam uma liberdade que não têm na vida real.

"Sem a internet, eu morreria", diz o estudante de jornalismo da Universidade Nacional An-Najah Mahmoud, 29 anos. No ano passado, Mahmoud tentou visitar os Estados Unidos, mas as autoridades israelenses não permitiram que ele deixasse a Cisjordânia. "Eu já tinha o visto para os EUA, mas, quando cheguei à ponte, me disseram que eu não podia sair daqui", conta o estudante, citando a ponte Allenby, sobre o rio Jordão, que liga o território ocupado à Jordânia.

Mahmoud está trabalhando em um projeto cultural próximo à sua casa, no campo de refugiados Balata. Seu principal colaborador, entretanto, é norte-americano e teve seu visto de entrada em Israel negado – o que, por extensão, impede sua visita aos territórios ocupados. Mesmo assim, as reuniões entre os dois ocorrem pela internet, via Skype, Messenger e e-mails.

Poucos incluídos

Cerca de 175 mil pessoas vivem nos 50 mil domicílios de Nablus. De acordo com a provedora de telecomunicações da Palestina, Paltel, 28,5 mil habitantes da cidade são assinantes de serviços de telefonia fixa, e 5,3 mil têm a solução de banda larga oferecida pela empresa. Recentemente, a companhia lançou um serviço de internet discada em que os usuários pagam apenas 1,20 shekel (o equivalente a R$ 0,55) por hora de navegação. O pacote de ADSL custa a partir de 2 shekels (R$ 0,90) ao dia para uma conexão residencial de 128 kbps e vai a 400 shekels (R$ 180) mensais para um link comercial de 512 kbps. Não é barato, tendo em vista que a renda do palestino médio é de US$ 224 (R$ 405).

Nablus ainda tem 14 cibercafés, que mantêm 150 terminais de internet ao custo de 3 shekels (R$ 1,34) a hora, e que são muito populares entre os estudantes da universidade local. Um desses alunos, Mosab, 25, mora na vila de Salfit, separada de Nablus por dois postos de inspeção mantidos permanentemente por Israel, Huwarra e Za’atara, e outro posto itinerante na região de Yitzhar. Essas paradas obrigatórias fazem com que a viagem entre Salfit e Nablus, distantes 15 quilômetros uma da outra, dure mais de uma hora. "Prefiro ficar em Nablus durante a semana por causa dos postos de inspeção", diz Mosab, explicando que a internet ajuda a mantê-lo em contato com seus vizinhos e familiares. "Uso salas de bate-papo para saber das novidades da minha casa e da minha família. Também converso com amigos sobre trabalho e sobre o que está acontecendo em Salfit."

Não são apenas os jovens que usam a rede para manter contato com o mundo exterior. Huda, 60 anos, navega pela internet com regularidade. Nascida em Jerusalém, ela mudou-se para Nablus em 1967, logo após a Guerra dos Seis Dias. A maior parte dos palestinos que mora em territórios ocupados é proibida de entrar em Israel. Pessoas com identidade israelense – como muitos parentes de Huda –, por sua vez, não entram em áreas sob administração da Autoridade Palestina. Resultado: para essas pessoas, a internet é uma corda de salvação. "Minha família mora ao lado do jardim de Getsemani, no Monte das Oliveiras. Como não podemos nos visitar, enviamos e-mails. Eles querem saber notícias minhas e de meus filhos especialmente quando ouvem falar de alguma incursão militar em Nablus", relata. Huda conta que também joga dominó e outros games on-line, porque, segundo ela, "não há nada para se fazer em Nablus". "Fiz amigos de diversas partes do mundo", acresenta.

A internet ainda ajuda os jovens a driblar restrições da cultura muçulmana. Nablus é uma das cidades mais conservadoras dos territórios ocupados, o que significa que lá a reputação, especialmente de mulheres jovens, é extremamente importante. Muitas delas passam as noites em casa, longe do contato "degradante" com outros jovens. Sem poder encontrar amigos pessoalmente, elas usam os chats.

Conversas entre mulheres solteiras e homens são mal-vistas, então Ilham, uma estudante de 21 anos, está conhecendo seu namorado Mohammed pela internet. Os dois freqüentam a Universidade An-Najah, mas Ilham não pode nem pensar em dirigir a palavra a Mohammed se ela o vir na escola. Por meio do Messenger, eles conversam todas as noites. "Agora sabemos muita coisa um do outro. Sei o que ele pensa, sei quais são as atitudes que ele gosta...", enumera.

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