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Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar | Roberto Custódio/JL
Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar| Foto: Roberto Custódio/JL

Petrobras sofre para atender mercado; no Paraná, Compagas descarta cortes

A semente da crise do gás natural foi plantada após o apagão de 2001. O Programa Prioritário de Termoeletricidade (PPT), lançado no governo Fernando Henrique para evitar que novas estiagens comprometessem o suprimento de energia, foi um fracasso: das 50 termelétricas previstas, apenas 22 ficaram prontas. O resultado foi que sobrou gás, e o governo brasileiro pagava à Bolívia por um combustível que não consumia.

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Questões ambientais e falta de planejamento costumam ser apontados como principais entraves à expansão do parque hidrelétrico brasileiro. Mas um levantamento feito pela consultoria Enercons a partir de informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sugere que o problema pode estar na lentidão da agência reguladora em liberar os projetos.

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Na última quinta-feira, especialistas em energia do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE) encaminharam à imprensa um artigo intitulado "Um novo apagão no horizonte: a crise do gás natural". Nada a se estranhar, depois que a Petrobras chegou a cortar parte do gás de São Paulo e Rio de Janeiro. O detalhe é que o artigo foi publicado há seis meses e se juntou a uma série de opiniões semelhantes emitidas anteriormente por analistas do mercado energético – ou seja, a crise atual foi fartamente anunciada. Os primeiros indícios datam de 2005.

O problema, principalmente para indústrias que consomem muita energia, é que a crise do gás ocorre simultaneamente a um forte aumento nos preços da energia elétrica – sinal de que o mercado prevê dificuldades de abastecimento. Na semana passada, o preço da eletricidade no mercado de curto prazo, que aponta como geradoras e distribuidoras avaliam as chances de apagão, atingiu R$ 237 por megawatt-hora, o mais alto desde o fim do racionamento de energia, em 2002.

A expectativa média de bancos e consultorias é que o país cresça 4,8% neste ano e 4,4% em 2008 – portanto, a demanda por gás e energia continuará subindo. Com tantas incertezas nesses dois setores, o crescimento econômico pode estar em xeque.

As restrições no suprimento de gás ocorrem porque não há combustível para todo mundo. Estimativa da consultoria gaúcha Gas Energy mostra que a demanda total do Brasil, na soma de usinas termelétricas movidas a gás e demais consumidores, chega a 58 milhões de metros cúbicos por dia. Enquanto isso, a oferta não passa de 52 milhões de metros cúbicos, dos quais 30 milhões vêm da conturbada Bolívia.

Em condições normais, não falta gás no Brasil, pois as térmicas não funcionam o tempo todo. Elas são uma espécie de "seguro" do sistema interligado nacional (SIN), acionadas apenas quando os reservatórios das hidrelétricas estão baixos. Como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) entendeu que o momento é de acionar as térmicas, a prioridade do gás foi para elas – e faltou combustível para indústrias e para motoristas que abastecem seus carros com gás natural veicular (GNV).

Em meio a esse cenário, é razoável supor que, para sobrar energia elétrica, pode faltar gás. E vice-versa. O mais provável, no entanto, é que um aumento de preços reduza as chances de escassez de ambos – a eletricidade já está em alta, e a Petrobras admitiu que o gás pode subir no médio prazo.

Em qualquer dessas hipóteses, o crescimento do país estará ameaçado. "Após o ‘apagão-surpresa’ de 2001, o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] caiu de 4,5% em 2000 para 1,7% em 2001", lembra o analista Ivo Pugnaloni, da consultoria Enercons, de Curitiba.

Para a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do governo federal, o risco de racionamento no país até 2015 é inferior a 3,5% – abaixo do nível de risco de 5%. Mas, para que essas estimativas se confirmem, será preciso usar termelétricas a gás, óleo combustível e óleo diesel, aponta Pugnaloni. "Além disso, as projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) são de dificuldades de equilíbrio em 2009 e 2010, já que o consumo cresce mais rápido que a geração de energia." De acordo com o ONS, a demanda vai se igualar à oferta de eletricidade daqui a dez meses, e pode superá-la em 2010.

Dados da Abrace (associação que reúne grandes consumidores de energia) mostram que o custo da energia para a indústria subiu 150% entre 2001 e 2006, o triplo da inflação no período.

O custo brasileiro supera o de países emergentes, sinal de que a competitividade das indústrias locais, já abalada, tende a se enfraquecer com os esperados reajustes da energia.

O uso de termelétricas, que se intensificou na última semana, tende a contribuir para esses aumentos, pois sua energia é mais cara. "Não acredito em falta de energia, mas sim em apagão econômico. Quanto maior a participação das térmicas, maiores os preços, que vão subir não apenas para a indústria, mas para todos os consumidores", alerta Pugnaloni.

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