• Carregando...

Quando um alto executivo convida os funcionários para bater uma bola no gramado do clube, é pouco provável que ele esteja incitando seus subordinados a tirar do armário as chuteiras e os velhos calções que ditavam a moda na Copa de 82. O traje mais adequado é geralmente uma calça social, camisa e um sapato especial, com direito a um boné no estilo Tiger Woods, o número um do golfe mundial. Quem estiver apto a aceitar o convite, terá pelo menos quatro horas para bater papo com o chefe entre um buraco e outro.

Ainda pouco popular no Brasil, o golfe é considerado no mundo dos negócios a melhor combinação de esporte com a formação de uma rede de relacionamentos. O estilo do jogo explica muito da preferência dos executivos por tacos e bolinhas. Para começo de conversa, a disputa não é diretamente entre os jogadores, mas sim entre eles e o campo. Vence quem montar a estratégia que levar a bola até o buraco com o menor número de tacadas. Assim, não há o risco de se derrubar o chefe em uma dividida de bola, ou de se humilhar um cliente com um saque violento e certeiro.

Outra característica do golfe é que suas partidas em geral duram de quatro a cinco horas, com caminhadas entre as tacadas e uma passada no bar após o jogo. Tempo suficiente para discutir todo tipo de assunto, da família aos detalhes de uma negociação complexa. Além disso, o cenário formado por gramados, lagos e árvores é bem mais relaxante do que um escritório. "É um ambiente muito propício para fazer contatos e melhorar a rede de relacionamentos", afirma o gerente regional da Câmara Americana de Comércio (Amcham), que organizou um toneio entre seus sócios na última sexta-feira, em Curitiba.

No gramado

Nos Estados Unidos, o potencial do golfe como ferramenta de negócios foi explorado ao limite. Ali, há mais de 25 milhões de praticantes, em boa parte estimulados pelas companhias onde trabalham. Reuniões em clubes de golfe são quase tão comuns quanto encontros em restaurantes e são marcadas partidas para a fase final de negociações importantes. No Brasil, o esporte ainda engatinha. Há cerca de 30 mil praticantes e 120 campos. As partidas têm um enfoque menos voltado para os negócios, mas funcionam bem como uma rede de contatos.

"Eu recomendo a prática do golfe para quem leva a sério a carreira na área executiva", diz o consultor de recursos humanos Bernt Entschev. "O esporte abre portas e permite o contato com pessoas que têm o poder de decisão. Isso é importante tanto para quem quer encontrar um cliente quanto para quem quer evoluir dentro de uma empresa", completa. Essa visão é confirmada pelos advogados Carlos Eduardo Hapner e Tarcísio Kroetz, sócios em um escritório especializado em causas empresariais. "Os contatos ocorrem a cada partida. O golfe ajuda a sedimentar relacionamentos importantes para o escritório", diz Hapner, que está no esporte há mais de uma década.

Perfil

O golfe é praticado por um grupo pequeno de pessoas, geralmente executivos e profissionais liberais. Quem começa a freqüentar um clube logo recheia a agenda com cartões e telefones que podem ser úteis. "Conheci no campo pessoas que depois consultei por questões de trabalho", diz o empresário curitibano Denir Guandalini, dono de uma fábrica de cosméticos e que há quatro anos trocou o tênis pelo golfe. "Há pouco tempo, encontrei um forneceder de moldes para embalagens através de um colega de partida", conta.

Praticar o esporte exige dedicação. Guandalini, que preside a Associação de Golfe Sênior do Paraná, joga nas tardes de quarta-feira e de domingo. Pelo menos uma vez por mês, ele participa de algum torneio, muitos fora de Curitiba.

Oportunidades

Os atrativos do golfe não estão restritos à formação de uma rede de contatos. Alexandre Nunes, vice-presidente da Bematech, empresa de Curitiba da área de automação comercial, deu as primeiras tacadas há seis anos, quando morava em Brasília. Foi uma forma de passar o tempo durante as férias, mas que se tornou uma paixão pelo esporte. "A concentração e a estratégia que o golfe exigem são muito parecidas com o que precisamos em uma empresa", conta. Em seguida, ele foi morar em São Paulo, onde passou a jogar com mais freqüência. Ao escolher Curitiba para morar em 2003, ele visitou os campos disponíveis na região, e aprovou. Ele, que já fechou negócios com contatos que conheceu através das partidas, é um exemplo de que mesmo quem joga por puro prazer não fica isolado das oportunidades que aparecem em um campo de golfe.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]